segunda-feira, dezembro 16, 2019

DOUTOR SONO (Doctor Sleep)


Terá sido uma escolha feliz a que fez Mike Flanagan aceitando esta missão de fazer uma continuação de O ILUMINADO (1980), de Stanley Kubrick? Como DOUTOR SONO (2019) é a adaptação de um novo livro de Stephen King, que dá seguimento à vida, agora adulta, do garoto iluminado Dan Torrence (Ewan McGregor), parece haver uma tentativa de agradar tanto o romancista – que já não gostava do filme de Kubrick – quanto os fãs do filme. Acrescente-se a isso o aspecto ambicioso da obra, levando em conta que até então Flanagan só havia trabalhado em produções mais modestas.

Mas, se seus filmes anteriores são modestos, o mesmo não podemos dizer da qualidade dos mesmos, do quanto eles pareciam apontar para a figura de Flanagan como a do melhor cineasta dedicado ao gênero horror na década: ABSENTIA (2011), O ESPELHO (2013), HUSH – A MORTE OUVE (2016), O SONO DA MORTE (2016), OUIJA – ORIGEM DO MAL (2016) e JOGO PERIGOSO (2017). Todos eles são filmes que têm uma elegância formal admirável, além de uma obsessão por lidar com questões familiares que nos apresentam a um autor respeitável.

Um autor que ainda faria a sua obra-prima em formato de minissérie, A MALDIÇÃO DA RESIDÊNCIA HILL (2018), que conta histórias de pessoas de uma mesma família tendo que lidar com traumas do passado, sendo narrado em três eixos temporais. Por esse currículo admirável, a expectativa para que DOUTOR SONO fosse o grande filme do ano acaba caindo por terra, ao nos depararmos com um trabalho torto, embora os problemas pareçam ter vindo mais da origem literária do que da adaptação.

Claro que, sendo também editor do filme, a culpa pelos vários problemas presentes na obra recai ainda mais sobre o diretor. Por isso, Flanagan teria feito melhor se recusasse a oferta talvez tentadora de dirigir um filme de tanta visibilidade e com tantas cascas de banana.

Mas nem tudo é ruim em DOUTOR SONO. Na verdade, as qualidades devem ser ressaltadas. Temos dois filmes em um: o que pretende ser a continuação direta de O ILUMINADO e o que parece algo totalmente novo, apresentando um grupo de vampiros de energia, liderados por uma elegante Rebecca Ferguson. Essas histórias se entrecruzam, já que esse grupo de vampiros tem um interesse especial nos iluminados. Uma das primeiras cenas do filme mostra Rose the Hat, a personagem de Ferguson, seduzindo uma garotinha para matá-la. Algumas cenas de assassinato desses iluminados, inclusive, são bem violentas e perturbadoras, já que esses vampiros vão se alimentando da dor e do medo. E eu diria que isso é um ponto positivo do filme.

Para muitos, porém, o momento mais interessante de DOUTOR SONO talvez seja o retorno de Dan ao famoso hotel em que se passa a maior parte da duração de O ILUMINADO, com direito a reinterpretações de cenas do primeiro filme com atores diferentes, outra solução questionável e que torna este trabalho de Flanagan/King ainda mais bizarro. Devido a tantos problemas, as qualidades e a elegância na direção de Flanagan têm pouco espaço para se sobressaírem. Uma pena.

+ TRÊS FILMES

MEDO PROFUNDO – O SEGUNDO ATAQUE (47 Meters Down – Uncaged)

O primeiro já não era muito memorável, mas sempre me sinto atraído por esses filmes de tubarão. Este aqui tem alguns momentos de destaque, como a sensação de medo que dá à medida que as meninas avançam cada vez mais baixo pelas cavernas. Porém, os clichês são tão manjados que cada vez que o tubarão atacava o público já previa. Ainda assim, um entretenimento razoável e com imagens paradisíacas. O filme marcou a estreia de Sistine Stallone, filha do Stallone, no cinema. Mas a verdadeira protagonista é a garota de A MENINA QUE ROUBAVA LIVROS. Direção: Johannes Roberts. Ano: 2019.

OS 3 INFERNAIS (3 from Hell)

Rob Zombie devia parar de vez de dirigir filmes depois deste aqui. Mesmo com toda a boa vontade que eu tenho para filmes de terror (não quero perder nenhum no cinema este ano), esse aqui procura chocar por chocar e acaba não tendo resultado nenhum no espectador. Talvez alguém vá sentir asco ou algum incômodo, mas aqui a morte é desvalorizada, os personagens são desimportantes e Sheryl Zombie está irritante. Quanto ao Sid Haig, não sei das circunstâncias da morte do ator para o resultado final das filmagens. Ano: 2019.

OS JOVENS BAUMANN

Uma espécie de A BRUXA DE BLAIR mineiro, este filme até tem a primeira metade muito boa, quando as fitas VHS mostram os jovens apenas se divertindo. Quando tenta mudar para o mistério, perde a força. Ainda assim é um objeto estranho e muito bem-vindo em nossa filmografia, inclusive para engrossar o número de filmes do gênero que estão pipocando ultimamente no Brasil. Direção: Bruna Carvalho Almeida. Ano: 2018.

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