sábado, dezembro 21, 2019

AMOR À SEGUNDA VISTA (Mon Inconnue)

Curiosamente, o gênero comédia romântica anda em baixa já faz algum tempo. A última onda ocorreu nos anos 1990 e de lá para cá Hollywood e o Reino Unido ficaram com poucos exemplares por ano. No entanto, o cinema comercial francês traz alguns exemplares que merecem a nossa atenção, embora parte da crítica vá encontrar problemas e dizer o quanto tais filmes são antiquados e tal. Mas creio que muitas vezes o que mais importa é o quanto a obra é capaz de aquecer nossos corações, e creio que, nesse sentido, AMOR À SEGUNDA VISTA, de Hugo Gélin, merece uma atenção especial, principalmente para aqueles de espírito romântico.

O que faz uma boa história de amor? Acredito que um dos elementos que mais funcionam para uma bem-sucedida narrativa amorosa está no tipo de obstáculo apresentado. Desde muito antes de Romeu e Julieta que sabemos que quando não há obstáculo, a relação não é valorizada. Outra coisa: é preciso haver algum grau de identificação com pelo menos um dos personagens.

No caso do filme de Gélin, é fácil sentir-se próximo de Raphaël, o personagem de François Civil. Principalmente quando, junto com ele, nos apaixonamos pela bela Olivia (Joséphine Japy). Quem costuma se sentir atraído pela beleza e pela doçura de belas mulheres já fica no mínimo solidário de Raphaël, quando, que, como num passe de mágica, o amor de sua vida deixa de fazer parte de sua rotina. Sim, estamos diante de um filme de gênero fantástico, que traz um elemento sem explicação para que Raphaël finalmente veja o que está perdendo. Ou aprenda com aquela espécie de maldição que chega em sua vida.

Na trama, rapaz tímido e nerd encontra moça tímida e nerd na escola (ambos fazem um casal muito bonito), os dois se apaixonam, casam-se, a carreira dele como escritor é um sucesso, a carreira dela como pianista nem tanto, e justamente por isso, por causa do sucesso dele, o rapaz vai cada vez mais se dedicando ao casamento e menos à relação com a mulher amada. Até que um dia o destino lhe prega uma peça e ele acorda num mundo em que ele é um zé ninguém e ela é uma pianista famosa, que sequer lembra dele.

Desesperado, ele precisa arrumar uma maneira de reconquistá-la, trazê-la de volta para si. E sem simplesmente dizer que eles já foram casados e que aquela realidade ali é falsa ou coisa do tipo. É preciso começar tudo de novo, como em FEITIÇO DO TEMPO, ou em COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ, tentar, de alguma maneira inteligente, se aproximar daquela pessoa famosa e fazer com que ela se apaixone por ele novamente. E isso renderá situações bem divertidas.

AMOR À SEGUNDA VISTA pode não ser um grande filme e que não apresente exatamente nada de novo, mas a química entre os personagens funciona que é uma beleza, a torcida pelos dois também, assim como a tensão provocada pela separação e consequente torcida do espectador pelo retorno dos dois.

Quanto aos dois atores, François Civil, só neste ano ele compareceu em três comédias românticas (para vermos o quanto o cinema francês superou o americano e o inglês nesse aspecto): os outros filmes foram QUEM VOCÊ PENSA QUE SOU, de Saffy Nebou, e ENCONTROS, de Cédric Klapisch. Já Joséphine Japy brilhou quando adolescente no ótimo RESPIRE, de Mélanie Laurent. Bom ver que ela cresceu e que merece a chance de atuar em mais filmes importantes e de maior visibilidade.

+ TRÊS FILMES

QUEM VOCÊ PENSA QUE SOU (Celle Que Vous Croyez)

Não consigo ver o filme sem a presença de Binoche, de sua beleza, de sua capacidade de ser frágil, mesmo tendo uma persona tão brilhante, mesmo sendo tão mais bela que a garota que ela finge ser em conversa virtual com um rapaz mais jovem. Em certo ponto, lembra DEIXE A LUZ DO SOL ENTRAR, de Claire Denis, mas aqui é outra coisa. Há três atos bem definidos e eu gosto muito do primeiro e um pouco menos dos dois últimos, mas sei o quanto são fortes o suficiente para fazer a gente ficar pensando na própria vida, no quanto as autossabotagens podem ter contribuído, ou no quanto certas coisas são difíceis de admitir. Direção: Safy Nebbou. Ano: 2019.

O MISTÉRIO DE HENRI PICK (Le Mystère Henri Pick)

Muito divertida esta comédia sobre um crítico literário que perdeu o emprego e a esposa em uma busca obsessiva pelo autor de um livro descoberto em uma biblioteca de livros rejeitados. Acho que o filme perde um pouco do ritmo perto da conclusão, que não achei tão satisfatória, mas é muito gostoso de assistir e todo o elenco tem um timing cômico muito bom. Cada vez mais animado com as comédias francesas, mesmo essas mais comerciais, por assim dizer. Além de tudo, também é bom ver uma sociedade que gira em torno do ler e escrever livros. Mesmo sendo ela uma utopia. Direção: Rémi Bezançon. Ano: 2019.

UMA SEGUNDA CHANCE PARA AMAR (Last Christmas)

Um filme de alto risco para se tornar algo odiado pelas plateias mais críticas, já que tem é um filme de mensagem, um filme natalino. Mas é também um filme bem estranho e por isso mesmo acaba nos deixando bastante intrigados. A Emilia Clark está muito bem, talvez seja o seu melhor papel no cinema (se bem que ela talvez não tenha tido nada bom antes), e muito à vontade. Já Henry Golding vai conquistando a gente aos poucos, como o interesse amoroso dela. O fato de haver muitas canções do George Michael na trilha sonora ajuda também a plateia a se sentir emocionada diversas vezes. Tome cuidado com spoilers. Melhor ir ao cinema sem saber nada. Direção: Paul Feig. Ano: 2019.

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