terça-feira, fevereiro 25, 2014

FEITIÇO DO TEMPO (Groundhog Day)























E foi preciso que Harold Ramis morresse para que eu finalmente revisse, em sua homenagem, este filme que marcou os anos iniciais de minha cinefilia. Não lembro se FEITIÇO DO TEMPO (1993) chegou a passar nos cinemas da cidade, mas meu contato com o filme foi através do velho VHS. E foi amor à primeira vista. A história de um sujeito que acorda no mesmo dia todos os dias é fascinante, suscitando reflexão sobre o sentido da vida e sobre o amor.

O filme é uma fábula sobre a jornada de um homem cínico no caminho da redenção. Mas para ele chegar lá, ele vai ter que penar muito. A ponto de enfrentar momentos de tédio e depressão, de euforia e de desapego, de amor ao próximo e de gosto e interesse em se tornar uma pessoa melhor, através da arte, da técnica e do amor. E o objeto de desejo só surge de verdade quando ele está preparado.

Na trama, Bill Murray é Phil, o "homem do tempo" de uma emissora de televisão de Pittsburgh que viaja mais uma vez para cobrir as festividades do curioso Dia da Marmota. Anualmente, uma festa é feita durante o inverno desta cidade que enfrenta um inverno pesado. Pela tradição, uma marmota é quem dirá se a primavera chegará mais cedo ou se eles terão que enfrentar mais algumas semanas de inverno.

Phil, como um sujeito antipático e pouco animado com a vida e com o trabalho, acaba, como por mágica, ficando preso no mesmo dia. Isso durante muitos e muitos dias. A cada dia, ele começa a se interessar por sua colega de trabalho, Rita (Andie MacDowell), a ponto de se apaixonar por ela. E usa o fato de ter de viver o mesmo dia a fim de seduzi-la. Mas a moça não é tão fácil assim. Ele tem que trabalhar um bocado ainda para merecê-la.

Na época, Andie era uma das mais requisitadas estrelas de comédias românticas. E seu jeito de garota normal e seu sorriso adorável realmente é capaz de deixar muito marmanjo encantado. No ano seguinte, por exemplo, ela faria QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL, de Mike Newell. E Bill Murray ainda não tinha uma fama de ator cultuado como foi ganhando com o passar dos anos, mas já se podia notar um estilo de interpretação bem própria, com uma expressão de desencanto no rosto que nenhum outro ator parecia ter.

Em alguns momentos de FEITIÇO DO TEMPO, dá até um pouco de inveja de Phil, já que a vida não nos dá oportunidade para ensaiar. E ele tem toda a oportunidade do mundo, ainda que na maioria dos dias veja isso como uma maldição. Mas quando ele descobre o quanto pode aproveitar produtivamente cada dia, estudando (piano, poesia), ajudando pessoas, percebendo detalhes pequenos do cotidiano, é que vemos que de certa forma também estamos presos numa repetição. Cabe a nós transformar a repetição em variação, ou a rotina em poesia.

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