quinta-feira, outubro 15, 2015

RESPIRE



Mélanie Laurent é uma artista multifacetada. Além de ser aquela atriz fantástica que a gente aprendeu a gostar desde, pelo menos, BASTARDOS INGLÓRIOS, que foi quando ela foi revelada em grande escala para o mundo, ela também é excelente cantora (é só procurar algo dela no youtube) e RESPIRE (2014) já é o seu segundo longa-metragem, tendo participado, inclusive, da edição do ano passado do Festival de Cannes, o que já lhe confere status de autora.

Mas o sucesso desse seu segundo trabalho, pelo menos, não vem de sua exposição ou de ela ser também uma atriz famosa, embora isso também ajude. O seu filme é especial. E pode-se dizer que seria mesmo necessário uma mulher para abordar com tanta segurança o universo íntimo de duas jovens garotas colegiais (Laurent é também corroteirista e o roteiro, por sua vez, é baseado no romance de uma escritora, Anne-Sophie Brasme).

Na trama, Charlie (Joséphine Japy) é uma jovem relativamente popular na escola, embora se perceba logo no início do filme que lhe falta entusiasmo no trato com sua melhor amiga, bem como na rotina de sua vida em si, seja na escola, seja em casa. Essa vontade de viver com mais intensidade surge quando ela conhece Sarah (Lou de Laâge), recém-chegada na escola e já demonstrando muito charme e um brilho todo próprio. Aos poucos as duas se tornam melhores amigas. E essa amizade também passa a se tornar algo a mais, principalmente na cabeça de Charlie, que vai se mostrando cada vez mais apegada a Sarah, que por sua vez vai revelando uma faceta um tanto malévola.

Pode-se dizer que RESPIRE é um filme dividido em dois registros complementares: o filme de amizade e intimidade entre duas garotas e também um suspense de tirar o fôlego. O fato de Charlie ser asmática ajuda bastante na composição desse segundo momento e é o motivo mais óbvio para o título desse trabalho de Laurent, embora haja outros motivos também. E por isso é importante ter cuidado para não entregar o impactante final.

RESPIRE também é um filme feminino no sentido de que as personagens das mães das referidas protagonistas ou moram sozinhas ou são mal tratadas por seus maridos. No caso do pai de Charlie, ele acaba sendo pintado como um sujeito mau caráter que a mãe teima em amar. Esse tipo de relação da mãe acaba por se repetir em Charlie e no quanto ela é apaixonada por Sarah, apesar das humilhações e tudo o mais que acontece com ela ao longo da narrativa.

E como a maior parte do elenco é de estreantes, não deixa de ser digno de nota o modo como Laurent extrai de suas atrizes momentos de tão forte carga dramática, como se elas nascessem para aquele papel, ou como se estivéssemos olhando suas intimidades através de uma janela. Uma janela que também brinca com o espectador, como na cena em que Charlie vai, pela primeira vez, à casa de Sarah. Esse, aliás, é também um momento extremamente elegante no uso da movimentação de câmera, entre vários outros. Por isso, que venham os próximos filmes dirigidos por esta moça talentosa.

Nenhum comentário: