sexta-feira, outubro 30, 2015

GRACE DE MÔNACO (Grace of Monaco)



Certas coisas eu realmente não entendo. E de certa maneira é até bom que aconteçam de vez em quando para provar o quanto somos (ou não) influenciados pelas expectativas, pelos pré-conceitos e pelas críticas alheias, ou ao menos pelo resultado como um todo delas. GRACE DE MÔNACO (2014) não teve apenas uma recepção fria da crítica quando abriu o Festival de Cannes no ano passado. No site Rotten Tomatoes, há apenas 10% de críticas positivas ao filme.

Vendo isso, dá impressão de que se trata de algo pior do que a biopic DIANA. Mas o que pude perceber e apreciar foi um trabalho sensível que brinca com fatos reais em prol da busca pela dor, pela fragilidade, pela insatisfação e pela força de uma das atrizes mais queridas da Velha Hollywood, Grace Kelly. Também conhecida como Princesa Grace de Mônaco.

Além disso, GRACE DE MÔNACO ainda se transforma, em sua segunda metade, em um suspense psicológico, quando somos jogados em uma trama envolvendo uma espiã na corte, uma muito provável invasão da França, na época, sob o comando de Charles De Gaulle, numa história que parece saída dos melhores filmes de espionagem do mestre Hitch. Como se, sob a impossibilidade de Grace aceitar fazer MARNIE – que ela queria tanto –, a vida em Mônaco naquele momento conturbado pudesse, enfim, servir de combustível para sua sede de atuar e sua busca de espaço naquele ambiente. Afinal, tudo o mais que ela faria para a salvação do principado seria graças a seus dotes de atriz.

A questão do atuar está em todo o filme. O próprio Príncipe Rainier (Tim Roth) deixa claro que não casou com Grace por amor, mas porque ela seria a pessoa ideal, racionalmente falando, conforme escolha de seu conselheiro (Frank Langella), que se tornaria o melhor amigo de Grace naquele momento de solidão e cheio de pessoas estranhas e pouco confiáveis. Naquele lugar, falar o que pensa é um ato perigoso, mas não deixa de ser empolgante o rápido debate que a Princesa tem com um representante da França sobre a guerra na Argélia e a questão do colonialismo.

E o que dizer de Nicole Kidman? Ela está adorável. Grande atriz que é, compensa o fato de já não estar mais no auge da beleza e não ser tão bela quanto a Grace Kelly era com muita sensibilidade. Além do mais, o diretor Olivier Dahan utiliza uns closes lindos de seu rosto, ora aproximando os olhos, ora aproximando a boca, como numa espécie de relação de encanto com a personagem/atriz, ao mesmo tempo em que também sinaliza o seu nervosismo e apreensão.

O fato de ser um filme sobre os bastidores de Hollywood, pelo menos um pouco, ajuda a manter o interesse dos cinéfilos. Como não ficar feliz quando vemos que uma das primeiras cenas é justamente a visita de Alfred Hitchcock à Princesa em 1961? Claro que depois os bastidores passam a ser outros: da política, da delicada rixa envolvendo Mônaco e França. E nomes famosos daquele círculo de amizade são bem-vindos, como Onassis (Robert Lindsay) e Maria Callas (Paz Vega).

Aliás, que lindo quando Maria Callas canta "O mio babbino caro"! A canção por si só já é mágica, mas dentro da narrativa ela tem a sua importância, antecedendo uma das melhores cenas. Mais uma vez, fico sem entender e até me recuso a ler algumas críticas negativas ao filme, pelo menos por enquanto, de modo que meu amor por GRACE DE MÔNACO se estenda por mais tempo.

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