quarta-feira, agosto 31, 2016
A GRANDE ILUSÃO (La Grande Illusion)
Há mais de um ano, quando o Cinema do Dragão exibiu uma série de grandes clássicos do cinema francês (na verdade, grandes obras-primas), eu tive o prazer de ver dois filmaços de Jean Renoir. O primeiro foi este A GRANDE ILUSÃO (1937), geralmente celebrado não apenas como um dos melhores trabalhos do diretor, mas como uma das grandes obras do cinema francês de todos os tempos.
O filme se passa na Primeira Guerra Mundial, mas já prevê algo que virá na muito pior guerra seguinte, que chegaria em breve, e que a França, diferente deste primeiro momento, preferirá não entrar em atrito com a Alemanha. Claro que não é tão simples assim, já que houve uma resistência forte de alguns heróis, mas o Governo optou sim por deixar os nazistas ocuparem o país, a fim de evitar maiores tragédias.
Na Primeira Guerra Mundial, porém, os dois países eram arqui-inimigos. Os filmes que mostram a luta sangrenta nas trincheiras, como GLÓRIA FEITA DE SANGUE, de Stanley Kubrick, por exemplo, dão o tom daquele momento. Jean Renoir, porém, em A GRANDE ILUSÃO, prefere fazer algo menos espetacular e mais centrado no aspecto humano e nos brilhantes diálogos de seus ricos e complexos personagens.
O filme nos apresenta a um grupo de prisioneiros franceses em um campo de concentração alemão em 1916. A GRANDE ILUSÃO tem uma leveza especial no modo como trata os dramas e as relações entre esses homens, que muitas vezes é possível rir com o que é mostrado. É possível ver as cenas de tentativa de cavar um túnel para fugir da prisão de maneira tão divertida quanto ver em filmes como FUGINDO DO INFERNO, embora o tom aqui seja, naturalmente, outro.
O humanismo de Renoir se mostra claramente quando vemos a relação de respeito entre o Capitão Rauffenstein (Erich von Stroheim) e os principais prisioneiros franceses, em especial o vivido por Jean Gabin, ator que apareceria em outras obras de Renoir. O diretor mostra o quanto a guerra é um ato imbecil que separa homens que são iguais, apesar de diferentes.
Um dos momentos mais interessantes do filme é a sequência em que dois fugitivos vão parar na casa de uma generosa mulher alemã, e ela se apaixona por um deles. Esta cena, inclusive, só pôde ser mostrada na década de 1950, quando o filme seria redescoberto e se tornado objeto de culto ainda maior.
A GRANDE ILUSÃO é desses filmes que pedem uma revisão, para que certas cenas sejam mais uma vez apreciadas. Eu gostaria muito de poder revê-lo, de preferência novamente no cinema. É uma obra que se diferencia em muito de outros filmes de época do mesmo período, especialmente se compararmos com os filmes americanos ou ingleses, mas é justamente aí que entra o diferencial de Renoir, com seu realismo poético, sua aparente simplicidade, e seu modo singular de nos levar para um outro momento da História.
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