segunda-feira, agosto 15, 2016

AMOR & AMIZADE (Love & Friendship)























Para um cineasta com 25 anos de carreira, ter apenas cinco longas-metragens é muito pouco. E lamenta-se mais ainda se for um cineasta de destaque, que já iniciou sua carreira com uma obra até hoje cultuada, como METROPOLITAN (1990). O seu mais recente filme é a adaptação da única comédia escrita por Jane Austen em forma epistolar, a novela Lady Susan, que não chegou a ser publicada pela própria autora em vida. Era ousada demais para a época, ao mostrar uma mulher como uma predadora fria e sem escrúpulos.

Esse tipo de visão da mulher destoa bastante das personagens vistas em obras como Orgulho e Preconceito e Razão e Sentimento, para citar os mais lembrados romances da escritora inglesa. Em comum com estas obras, há a dificuldade das mulheres em encontrarem um lugar ao sol em um tipo de sociedade que não as permitia viver por conta própria. A saída era mesmo através de um casamento, de preferência com alguém de posses.

Kate Beckinsale interpreta com elegância e veneno Lady Susan, uma viúva que tem fama de ser ótima em flertes, e por isso é mal vista pela sociedade. Até mesmo a amiga Alicia Johnson (Chloë Sevigny) é proibida pelo marido (Stephen Fry) de se relacionar com pessoa de reputação tão ruim. No entanto, como ela é uma mulher muito inteligente, ela sabe reverter sua situação desfavorável através de vivência, inteligência. Quem fica logo apaixonado por ela é o jovem Reginald DeCoursy (Xavier Samuel). Mas quem acaba roubando a cena, como o homem bobão mas com posses, é Tom Bennett, no papel de Sir James Martin.

O filme tem uma estrutura que já chama a atenção desde o começo, apresentando muito rapidamente cada personagem, mesmo os de menor importância na trama, com seus nomes e suas funções e características. Isso aproxima deliberadamente o filme da obra literária, o que não chega a ser um aspecto negativo. Aliás, até convida o espectador para uma revisão da obra. Ou, melhor ainda, para uma leitura da novela de Jane Austen.

No entanto, pode-se dizer que AMOR & AMIZADE (2016) tem vida independente, ainda que seja obviamente devedor da obra literária. O orçamento limitado – a produção custou apenas três milhões de dólares – é compensado com uma beleza fulgurante na fotografia, nos figurinos, na direção de arte, na boa escolha do elenco, e nos diálogos afiados, especialmente os da protagonista, cheios de veneno, sendo que aos poucos vamos percebendo a fragilidade de suas tentativas de parecer sempre sábia, com suas citações a Salomão e a um dos Dez Mandamentos.

Interessante também o uso de elipses que escondem momentos de maior intimidade gráfica dos personagens. Destaque para a cena de um dos amantes de Lady Susan se aproximando da carruagem. Faz lembrar um tipo de comédia feito no início do século XX, com edição de certas cenas consideradas impróprias. Mas isso acaba depondo a favor do filme, dando-lhe a elegância e a fineza necessárias.

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