quarta-feira, agosto 17, 2016

PHOENIX























Um dos melhores filmes lançados no circuito nacional no ano passado infelizmente não alcançou as telas cearenses. Acabei sendo forçado a ver PHOENIX (2014) por vias alternativas, o que definitivamente deve ter diminuído bastante o impacto da obra em mim. Até porque eu continuo preferindo BARBARA (2012), o filme anterior de Christian Petzold, que chegou a ser lançado comercialmente por essas terras. Só a lembrança do vento na copa das árvores em BARBARA não me sai da cabeça.

No entanto, PHOENIX é um filme que tem um poder maior, ainda mais para cinéfilos que têm em UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock, um dos grandes filmes de todos os tempos. Não seria exagero dizer que PHOENIX é o UM CORPO QUE CAI dos nossos tempos. Não exatamente por sua excelência, mas por ter muitos pontos em comum na forma como reconstrói e traz de volta a figura de uma mulher suposta morta. O que há é basicamente uma alteração do ponto de vista.

Na trama, Nina Hoss, em sexta parceria com o diretor, é Nelly Lenz, uma mulher que sobreviveu ao holocausto nazista e que teve seu rosto desfigurado enquanto esteve presa. De volta a uma Alemanha devastada pela guerra, ao final do conflito, com faixas cobrindo todo o rosto, ela está com uma amiga, uma militante sionista que auxilia judeus sobreviventes do holocausto. E a ajuda no período em que ela estiver se adaptando ao novo rosto que a cirurgia de reconstrução facial trará. Mas, por mais que os médicos tenham se esforçado para deixá-la parecida com quem ela era, aquela nova mulher que nasceu da cirurgia é uma desconhecida.

E é como desconhecida que ela vaga pelos escombros da cidade em busca do marido Johnny (Ronald Zehrfeld), um sujeito de caráter questionável, que passa a vê-la como uma mulher que poderia se passar por sua falecida esposa, e assim ele poderia faturar uma grana com a família dela. Aos poucos, então, Johnny vai tentando transformar aquela estranha que ele encontrou em Nelly. Aos poucos, também, ela vai descobrindo que o marido teve uma importante participação em sua prisão.

Daí PHOENIX ser também um filme sobre redenção e renascimento. Como o próprio título indica, é sobre uma mulher que renasce das cinzas. E o modo como ela finalmente renasce, na cena final, em que canta "Speak low" é uma das mais arrepiantes do cinema contemporâneo. Nesse sentido, o filme de Petzhold é também bastante devedor dos melodramas de Rainer Werner Fassbinder, que tão bem lidou com personagens femininas sobreviventes do caos em que o país mergulhou após o fim da Segunda Guerra Mundial.

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