domingo, janeiro 10, 2016
TRÊS DOCUMENTÁRIOS BIOGRÁFICOS
Nesta semana que esta terminando, coincidência ou não, vi três documentários biográficos sobre a vida de três artistas: dois astros de cinema e uma cantora. São histórias que naturalmente trazem os momentos de ápice e alegria na vida dessas pessoas, mas também as suas angústias e os momentos mais atribulados. São justamente esses momentos de maior sobrecarga emocional que tornam essas obras impactantes. Também há nesses filmes uma vontade, uma tendência em contar a história pelas palavras dos próprios biografados. Falemos um pouco dos três – o primeiro deles está em cartaz em algumas praças do Brasil, inclusive.
EU SOU INGRID BERGMAN (Jag Är Ingrid)
Muito provavelmente EU SOU INGRID BERGMAN (2015), de Stig Björkman, é um filme mais direcionado a fãs de cinema e mais especificamente a apreciadores do trabalho desta linda e singular mulher que ficou muito famosa por causa de Hollywood, mas que deixou sua marca em outras cinematografias também. O filme é narrado a partir de um diário da própria Ingrid e de cartas que ela escreveu. Alicia Vikander lê os documentos. O filme traça um painel da vida de Ingrid Bergman desde sua infância, quando ora pela vida de seu pai, e depois, quando vários familiares seus morrem num mesmo ano, passando por sua vontade de ser atriz de cinema, a vida em Hollywood, os amores, o jeito como ela abandona a família para ficar com o novo amor, como aconteceu com o cineasta italiano Roberto Rossellini, e há também alguns depoimentos de familiares, como as filhas. A primeira filha, do primeiro casamento, é a que demonstra mais mágoa por ter sido deixada de lado pela mãe. Sentimos sua frustração, associada ao amor que ela sentia e o quanto ela gostaria de estar mais perto de Ingrid. É também um belo passeio pelos trabalhos que ela realizou no cinema, tanto na Europa, quanto nos Estados Unidos. E vemos o quanto ela foi corajosa e à frente de sua época, ao encarar uma sociedade tão moralista quanto a americana, especificamente. Mas acho que o que mais vai ficar na memória é a da jovem Ingrid feliz da vida quando chega aos Estados Unidos. E é lindo ver suas participações em filmes como CASABLANCA, À MEIA LUZ, OS SINOS DE SANTA MARIA, INTERLÚDIO, STROMBOLI, ESTRANHAS COISAS DE PARIS, SONATA DE OUTONO, entre outros.
WHAT HAPPENED, MISS SIMONE?
Este documentário realizado pelo Netflix, apesar de aproveitar muito de uma entrevista dada por Nina Simone sobre sua vida e sua obra, tem uma estrutura bem comum, e por isso vai ficando melhor quando a vida da cantora vira de cabeça pra baixo, especialmente a partir do momento em que ela passa a ser uma espécie de porta-voz dos negros durante a luta pelos direitos civis na década de 1960 nos Estados Unidos. WHAT HAPPENED, MISS SIMONE? (2015), de Liz Garbus, me apresentou facetas da cantora que eu não conhecia. Na verdade, apesar de admirar a sua música desde os anos 1990, quando a descobri, nunca tive muita curiosidade de saber sobre a sua vida. Então, tudo o que foi mostrado foi novidade pra mim. E eu fiquei impressionado com muita coisa, como a questão do marido e empresário dominador, a relação forte com Martin Luther King e com todas as pessoas que lutavam por uma igualdade nos Estados Unidos entre negros e brancos, e seu temperamento, que depois saberíamos que se tratava de uma doença que seria depois diagnosticada. Muito triste o momento de decadência da cantora e também ver o quanto a luta política atrapalhou sua evolução como cantora, embora tenha tornado sua história de vida especial. E o filme tem um monte de canções lindas interpretadas por ela. Enfim, pra quem gosta dela é uma beleza; pra quem não a conhece, também pode ser bem interessante.
A VERDADE SOBRE MARLON BRANDO (Listen to Me Marlon)
Sabia de algumas coisas da vida de Marlon Brando mostradas neste documentário que saiu direto em DVD no Brasil, mas também aprendi muito sobre ele. A VERDADE SOBRE MARLON BRANDO (2015, foto), de Stevan Riley, tem o forte mérito de contar com gravações inéditas em áudio do próprio ator, o que dá muita credibilidade para as imagens que são costuradas na edição final. O que eu não sabia de Brando era o quanto ele não gostava de atuar. Para ele, era mais ou menos como uma espécie de prostituição, ele só fazia porque precisava de dinheiro e por isso passou a cobrar cachês milionários, como em APOCALYPSE NOW ou SUPERMAN – O FILME, que ele chamou de um filme bobo. Também ficou bastante chateado com o diretor Bernardo Bertolucci, que arrancou coisas de sua própria vida para compor o personagem de ÚLTIMO TANGO EM PARIS. Enfim, o que há de mais feliz mesmo é o início, quando ele ingressa em Hollywood nos anos 1950 e foi uma referência tão forte para aquela geração que alguns perguntavam: existiria Elvis Presley sem Marlon Brando? Também é muito feliz a sua relação com o Taiti. O ponto fraco do filme é o andamento um pouco lento ou irregular. A coisa vai ficando mais interessante quando a vida do ator vai ganhando contornos trágicos, especialmente com o que acontece com seus dois filhos. É de arrepiar mesmo. Devastador. Se o documentarista quisesse, poderia prolongar esses momentos e fazer muita gente chorar. Mas tudo é passado de maneira muito pontual. Ainda assim, muito bom ter visto esse trabalho e entrar em contato com o lado mais pessoal e humano de Brando. E depois ver o quanto O PODEROSO CHEFÃO foi especial para ele, e, no final da carreira, quando ele já estava lutando contra obesidade mórbida, perceber que ele passou a admirar e valorizar o trabalho do ator.
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