sábado, janeiro 16, 2016

CREED – NASCIDO PARA LUTAR (Creed)



O caminho para apreciar os filmes de Rocky Balboa é o caminho do coração. Não há outro. Desde ROCKY, UM LUTADOR (1976), drama sobre um rapaz pobre com a tarefa de enfrentar um campeão do mundo do boxe, passando por suas sequências, até chegar ao que teria sido o final da história, no melancólico ROCKY BALBOA (2006), Rocky é um personagem tão carismático e amado que se confunde com a própria persona de Sylvester Stallone, que ao longo dos outros filmes que atuou raramente se esforçou para ter um desempenho que o levasse a ser bem visto pela crítica como grande ator.

Sly encanta novamente ao encarnar mais uma vez o velho Rocky em um filme da série (ou um spin-off, por assim dizer) que pela primeira vez não conta com um roteiro seu. Na verdade, ele não gostou inicialmente da ideia, mas Ryan Coogler (diretor de FRUITVALE STATION – A ÚLTIMA PARADA, 2013) o convenceu. E o resultado tem dado frutos, prêmios e muita emoção nas sessões. CREED – NASCIDO PARA LUTAR (2015) é uma mistura da mitologia de Rocky com a criação de um personagem novo, Adonis Johnson, vivido por Michael B. Jordan.

Muito se fala em CREED sobre legado, principalmente quando as pessoas cobram do jovem Adonis a força e a capacidade de lutar de Apollo, falecido no próprio ringue em ROCKY IV (1985). Para o filho, a vontade de lutar vem desde criança, brigando com outras crianças em reformatórios, e mesmo quando tem a oportunidade de ter uma vida de luxo, ele deixa tudo para perseguir o sonho de lutar boxe, indo parar na Filadélfia, a fim de encontrar Rocky e ser por ele treinado.

A estrutura do enredo é extremamente simples e talvez por isso mesmo ele mereça ser louvado, pois a partir dessa simplicidade e sabendo que poderia correr o risco de estar sempre à sombra de Rocky, Coogler consegue imprimir uma obra sua, em que o velho Garanhão Italiano é só um dono de um restaurante cujos familiares já morreram, embora ainda seja uma espécie de mito na cidade. O surgimento daquele garoto reacende a vontade de viver de Rocky, embora outras circunstâncias comprometam um pouco o trabalho dos dois.

Mas mesmo esse aspecto melodramático é muito bem pensado para que CREED seja uma obra tão emotiva e tão sensível quanto os filmes de Rocky. Não à toa, a luta final parece uma reprise da apresentada em 1976, com direito a uma rápida citação da lendária e arrepiante trilha sonora de Bill Conti.

Passar o bastão não é fácil, mas Michael B. Jordan segura bem as pontas e a subtrama envolvendo uma vizinha que se torna seu interesse amoroso (Tessa Thompson) é tão boa que renderia um bom trabalho sem a presença de Rocky. O hip hop, fenômeno cultural das ruas, criado pelos negros americanos na década de 1980, está presente de maneira forte e transmite frescor ao novo filme.

E embora as sequências mais tocantes cresçam à medida que o drama dos personagens se acentua, o auge é mesmo a tão esperada luta entre Creed e o campeão mundial de boxe de sua categoria. Quem vê o filme no cinema se sente dentro do ginásio. O som que ouvimos de todos os lados da sala faz com que nos sintamos ali dentro, torcendo por aquele jovem herói e também por Rocky, o treinador amoroso, e com toda a vantagem de vermos tudo pelo ponto de vista da câmera de Coogler, que capta não só a luta, mas os olhares, usa a câmera lenta e a imagem distorcida para fins dramáticos etc.

Se CREED não prima pela originalidade como filme de boxe (os clichês mais conhecidos estão lá, parecem inevitáveis), tem sim a singularidade de conseguir fazer uma homenagem à altura de um dos personagens mais amados da cultura dos últimos 40 anos e de fazer isso com seus próprios méritos e estilo.

CREED - NASCIDO PARA LUTAR concorre ao Oscar na categoria de melhor ator coadjuvante (Sylvester Stallone).

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