sexta-feira, janeiro 22, 2016
CAROL
Um dos filmes mais belos desta atual temporada de premiações é CAROL (2015), de Todd Haynes, cineasta que já havia mostrado sua sensibilidade no trato com situações de relacionamentos proibidos no igualmente ótimo LONGE DO PARAÍSO (2002), que também se passava na década de 1950 e que emulava, de maneira mais forte, o cinema de Douglas Sirk, o mestre do melodrama na velha Hollywood.
A diferença é que nos filmes de Haynes, e em CAROL especificamente, as emoções são mais contidas. Como numa tentativa de captar também o sentimento de impotência diante da vida em uma sociedade que não permite a pessoa seguir os seus próprios interesses. Suas paixões devem ser tolhidas ou muito bem escondidas, o que não é fácil, especialmente para uma mulher casada, como é o caso de Carol, vivida brilhantemente por Cate Blanchett.
Conhecemos inicialmente Carol pelos olhos assustados mas também muito curiosos de Therese (Rooney Mara), uma moça que trabalha como balconista em uma loja de departamentos e que sonha em ser fotógrafa. É nessa loja que as duas se conhecem, com uma troca de olhares e de informações e um par de luvas esquecido que faz com que Therese queira mudar de vida, deixar para trás tudo aquilo que não lhe faz mais sentido, inclusive o namorado.
Já Carol tem uma história de vida mais longa e mais complicada. Está passando por um processo de divórcio e tem uma filha que ela corre o risco de perder na justiça para o marido. Aliás, a questão da filha chega a causar mais emoção do que o próprio relacionamento entre as duas mulheres, que é tratado de maneira mais sutil e sóbria.
As cenas fotografadas através de vidros e véus funcionam como uma metáfora da dificuldade de alcançar o objeto de desejo naquela sociedade que arruinava a vida de pessoas que fugiam do modelo estipulado de relacionamento e de família. Se nos dias de hoje ainda é um pouco assim, é de se imaginar como era na década de 1950, quando astros de Hollywood eram obrigados a não falar de suas preferências sexuais, ainda que muitos já soubessem.
Quanto à relação entre Carol e Therese, Haynes emoldura tudo de maneira muito elegante. Cada detalhe de roupa, penteado ou mobília ao redor delas é cuidadosamente pensado, a fim de compor uma espécie de quadro pintado, mas em movimento. A primeira cena das duas se beijando bem que poderia ser mais carregada de tensão, mas do jeito que ficou continua sendo muito agradável de ver. Pequenos detalhes íntimos das duas se engrandecem com a direção segura e a bela atuação do par central e do elenco de apoio.
Curiosamente, o filme é baseado em um romance de Patricia Highsmith, mais conhecida por escrever livros policiais – ela é a criadora do assassino serial Ripley, que já serviu de inspiração para uma série de filmes. CAROL, de certa forma, é um filme sobre um crime, pelo menos um crime para as normas que deviam ser seguidas naquela época. Como dois ladrões, as duas mulheres fogem de carro pelos Estados Unidos, em busca de liberdade, paz e amor.
CAROL foi indicado ao Oscar nas categorias de atriz (Cate Blanchett), atriz coadjuvante (Rooney Mara), roteiro adaptado, fotografia, trilha sonora original e figurino.
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