quarta-feira, novembro 11, 2015

18 CURTAS VISTOS NO 14º NOIA – FESTIVAL BRASILEIRO DE CINEMA UNIVERSITÁRIO



Na semana passada, tive o prazer de fazer parte do júri da crítica do 14º NOIA – Festival Brasileiro de Cinema Universário, que, mantendo a tradição de alguns anos, continua sendo exibido na Casa Amarela Eusélio Oliveira. O espaço precisaria de melhores reparos, mas conseguiu ser ideal para o evento, tanto pela localização, que é um convite para os universitários das imediações do Campus do Benfica, quanto pela capacidade - lotou em todos os dias da Mostra Competitiva. Vamos aos filmes.

QUIM:ERA

Fazer animação no Brasil não é fácil, mesmo que a duração seja de apenas três minutos, como QUIM:ERA (2015), de Taíla Soliman. O simpático filme acompanha uma adorável velhinha que se vê abalada quando recebe uma informação que mexe com sua cabeça. O filme brinca com efeitos visuais bem criativos e tem um senso de humor muito próprio. Difícil não se divertir. Prêmio de melhor direção de arte.

TIRAREI AS MEDIDAS DO TEU CAIXÃO

O segundo filme da mostra foi o cearense TIRAREI AS MEDIDAS DO TEU CAIXÃO (2015), de Diego Camelo, que é, praticamente, uma homenagem, realmente, ao nosso querido Zé do Caixão. Gosto particularmente da primeira parte do filme, a que mostra o personagem quando criança, descobrindo o maior ícone do horror brasileiro em uma fita VHS de À MEIA-NOITE LEVAREI SUA ALMA. Dá uma caída quando pula para a idade adulta do personagem, mas ainda assim merece uma espiada. Principalmente por quem é fã do Mojica.

MURO

O mais provocador documentário do festival, MURO (2014), de Eliane Scardovelli, nos apresenta a uma comunidade pobre que se mantém firme entre dois condomínios de luxo. O filme brinca com a hipocrisia dos ricos e a diretora teve a interessante ideia de colocar crianças da comunidade pedindo ao síndico para tomarem banho na piscina do condomínio. A cena chega a ser hilária de tão desconfortável que é. Há também imagens aéreas que se destacam. Um belo trabalho.

ENCANTÁRIA

Dos documentários exibidos no festival, ENCANTÁRIA (2015), de Fernando Brasileiro, talvez seja o que mais parece amador em sua realização. Há momentos em que mal dá para entender o que os personagens falam. Umas legendas seriam bem-vindas nesse caso. Mas há também algo que incomoda um pouco, que é o andamento um tanto arrastado, fazendo com que pareça ter mais de 20 minutos de duração. O filme acompanha a vida de uma comunidade indígena que mora próximo da região metropolitana de Fortaleza, suas crenças, seus valores e o modo como eles veem o mundo exterior.

TEMPO

Primeiro filme com temática homoafetiva do festival, TEMPO (2014), de Clara Bastos e Renan Ramiro, tem em seu favor a utilização de efeitos visuais de congelamento de imagem, que contribuem para a ideia de que o amor entre os dois rapazes é tanto que o tempo para, como numa música do Roberto. Pena que a ideia e algumas cenas boas são apenas pontuais dentro de um todo pouco inspirado.

BIQUINI PARAÍSO

Melhor filme do primeiro dia de festival, BIQUÍNI PARAÍSO (2015), de Samuel Brasileiro, faz parte da produtora Praia à Noite, a mesma que tem trazido alguns ótimos trabalhos de Leonardo Mouramateus. Samuel Brasileiro, aliás, foi parceiro na direção de Mouramateus em alguns filmes e aqui ele aparece em filme solo em uma história que se passa em uma cidade litorânea do Ceará, durante o Carnaval. Inclusive, nunca tinha visto o carnaval cearense retratado como ele realmente é em filme algum, o que torna BIQUÍNI PARAÍSO uma obra no mínimo interessante. Há uma cena que eu considero mágica, que é quando um casal está na praia (à noite) e sentimos aquela sensação que só grandes filmes são capazes de trazer: um misto de sonho e realidade para dentro da tela. Prêmios de direção e fotografia.

NAVY

Eis o caso de filme que é muito bom de ser visto, apesar de percebermos suas falhas de maneira gritante. Tanto que não sabemos se se trata de uma comédia involuntária ou uma comédia de fato. NAVY (2015), de Delano Soares, conta as aventuras de uma jovem que sai de um bar no Benfica e é assaltada. No meio do caminho, encontra dois sujeitos e, apesar de tudo, começa a curtir a noite até o amanhecer. Há problemas nas interpretações, mas é tudo tão divertido que certamente foi um prazer para o público poder vê-lo. Até para ver alguns pontos bem conhecidos de Fortaleza.

O SILÊNCIO NÃO ESTÁ MORTO, QUERIDA VÓ HELENA

Em alguns momentos de O SILÊNCIO NÃO ESTÁ MORTO, QUERIDA VÓ HELENA (2015), de William Costa, sentimos a impressão de estar vendo algum programa de tele-ensino, por causa do tipo de interpretação adotado. Ainda assim, a personagem da Vó Helena (Iná de Carvalho) rouba a cena e tem pelo menos um momento bem especial, que é a conversa com o garoto skatista. Já as cenas com a neta se destacam pelo ar de afetividade. Prêmios de melhor atriz (Iná de Carvalho) e trilha sonora.

FIO-TERRA

O melhor filme do festival, FIO-TERRA (2015, foto), de Ian Capillé, é de uma simplicidade impressionante se pensarmos no quanto nos envolvemos com a história de amor à distância entre um rapaz e uma moça. E no quanto o desenvolvimento da narrativa nos leva para um momento de arrebatamento, o que é sensacional para um curta de menos de 20 minutos. Capillé conta a história, basicamente, utilizando imagens de smartphones, o principal meio de comunicação do casal. Fiquei muito feliz ao saber que todos do júri também caíram de amores pelo filme. Prêmios de melhor filme (júri oficial), melhor filme (júri da crítica) e roteiro.

VERDE CHORUME

Trabalho experimental admirável, VERDE CHORUME (2015), de Roberta Bonoldi, mostra apenas em sons e imagens a trajetória do lixo em uma grande cidade e no quanto isso pode ser assustador, com um crescente aumento na quantidade de lixo no mundo. Destaque, além da montagem, para a trilha sonora diversificada, que combina muito bem com o ritmo das imagens. O filme teve a ingrata tarefa de ser exibido depois de FIO-TERRA. Certamente em outro dia e sendo exibido antes seria melhor recebido. Prêmio de montagem.

QUANDO VOCÊ CRESCER

Com certeza QUANDO VOCÊ CRESCER (2015), de Paulo Matheus, foi o filme que mais arrancou gargalhadas do público no festival. E não foi involuntariamente. Embora seja uma comédia apenas mediana, funciona que é uma beleza com a entrada em cena de um personagem que é uma espécie de consciência do protagonista, um garoto que não gosta de estudar e sofre com a pressão dos pais e dos professores. É pensando no que ele poderia ser quando crescer que o filme cresce e fica mais engraçado. Não à toa ganhou o prêmio de melhor filme pelo júri popular.

TABA

O primeiro filme do dia seguinte foi também uma comédia. TABA (2015), de Júlio Pereira, Matheus Beltrão e Nuno Aymar, é um sarro. Um pseudodocumentário que emula o estilo de cinedocs dos anos 1950 sobre os efeitos e as características dos usuários da maconha. Humor inteligente e visto por um público que certamente é íntimo da erva natural. Um dos melhores filmes do festival.

MURIEL

Mais um exemplar do cinema cearense de ficção, MURIEL (2015), de Vanessa Cavalcante, é também um exemplo do quanto nós, cearenses, somos bons na comédia. O filme conta a história de um rapaz tímido cujo maior sonho é encontrar uma namorada. A narrativa começa com um de seus encontros frustrados e apresenta o seu jeito desajeitado de lidar com os relacionamentos. Mas o melhor estaria por vir, quando ele resolve participar de um programa de namoro na tevê. Prêmios de melhor ator para Jamenes Prata e de melhor intérprete coadjuvante para Tatiane Albuquerque. 

MADREPÉROLA

Documentário elegante e ativista sobre a questão do preconceito contra mulheres gordas em uma sociedade em que prevalece a ditadura da magreza, MADREPÉROLA (2014), de Deise Hauenstein, traz depoimentos de meia dúzia de belas moças com um cuidado muito especial com a montagem, os enquadramentos e outros aspectos técnicos que fazem do filme uma obra nada vulgar. E que foi recebido com muitos aplausos e comentários animados da audiência. Prêmios de figurino e maquiagem.

NUNCA FOMOS EMBORA

O problema de NUNCA FOMOS EMBORA (2014), de Samuel Carvalho, é talvez não saber cortar os excessos. São 25 minutos de conversa e muita repetição entre dois amigos de escola. Um deles esteve em outro país e agora que volta para Fortaleza está apaixonado pela cidade. Há um destaque à Fortaleza noturna que ajuda a compor um clima interessante, especialmente nos silêncios. Talvez com um conjunto de falas melhor ele funcionasse lindamente.

VLADO

O filme mais ambicioso do festival é um drama de época que conta em 20 minutos parte da história do jornalista Vladimir Herzog, que foi preso, torturado e morto pela ditadura militar nos anos 1970. VLADO (2014), de Felipe Mucci, tem jeito de produção estrangeira, algumas interpretações pouco convincentes, mas é melhor do que muita coisa que se faz na televisão profissional hoje em dia. Prêmio de edição de som.

MIÚDO

Segundo filme de temática homoafetiva do festival, MIÚDO (2014), de Maurício Ferreira, também acaba deixando um pouco a desejar. Ainda assim, há boas cenas de conversas do casal que ajudam a torná-lo interessante. Há também o uso de imagens paradas e voice-over no início que contam pontos positivos. Pena que o final não seja dos mais felizes.

DE TERÇA PRA QUARTA

Encerrando o festival, DE TERÇA PRA QUARTA (2015), de Victor Costa Lopes, é um belo exemplar de um cinema que se confunde com um documentário em sua narrativa ficcional, tal o grau de naturalidade com que os atores desempenham suas funções. É outro filme que explora a geografia fortalezense e também lida com sentimentos dos personagens. Na história, um rapaz vai pegar ônibus e conhece outro rapaz que está colando cartazes de uma peça teatral. Acaba se juntando a ele e ao seu grupo numa noite excitante. Mereceria melhor atenção na premiação, mas creio que disse a que veio e foi bem elogiado por muitos.

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