sábado, novembro 14, 2015

ALIANÇA DO CRIME (Black Mass)



É até fácil encontrar alguns problemas em ALIANÇA DO CRIME (2015), mas muitos deles vêm das escolhas de Scott Cooper, seu realizador. Não vemos, por exemplo, o desenrolar de uma transação mafiosa no grupo do gângster James 'Whitey' Bulger, vivido com intensidade por Johnny Depp, nessa que talvez seja a sua melhor atuação em pelo menos 20 anos, depois de tantas vezes se repetindo ou atuando no piloto automático.

Trata-se do terceiro longa-metragem dirigido por Cooper, que antes tinha realizado o belo CORAÇÃO LOUCO (2009), que rendeu a Jeff Bridges um Oscar, e TUDO POR JUSTIÇA (2013), que também é focado nas interpretações (desta vez de Christian Bale e Casey Affleck). Nos três filmes podemos notar também uma tendência do cineasta em contar uma espécie de crônica americana, com histórias tristes ou trágicas.

No caso de ALIANÇA DO CRIME, o logo da Warner abrindo os créditos não parece em vão, já que foi esta produtora que se firmou como a que mais lidou com histórias de homens maus na década de 1930. Whitey Bulger é um sujeito que poderia muito bem ser um desses bandidos daquela época, mas calhou de nascer mais tarde e de aterrorizar sua cidade na década de 1980, com uma pequena ajuda dos amigos do FBI. Em especial de seu amigo de infância John Connolly (Joel Edgerton), um lobo em pele de cordeiro dentro da corporação.

O filme destaca bastante o relacionamento entre Bulger e Connolly e o quanto isso repercute na vida de muitos ao redor, e no crescimento do monstro Bulger, um psicopata que a princípio era tido como necessário para ajudar na prisão de mafiosos italianos. Acontece que enquanto ele ganhava apoio dos federais, a quantidade de mortes que muitas vezes ele mesmo fazia questão de executar com as próprias mãos só crescia.

Como o filme traça um espaçamento de vários anos na narrativa, a sensação de que estamos vendo uma obra bem fragmentada fica o tempo todo no ar. E nesse recorte há tempo para o estudo desse personagem que se revela um psicopata justamente por também demonstrar preocupação e carinho pelo filho pequeno, depois de ter chegado de um assassinato brutal, que para ele eram apenas negócios.

E tempo também para algumas cenas bem memoráveis, como uma envolvendo o personagem de Peter Saarsgard, que aparece bem magro, no papel de um viciado em cocaína, que acaba por cair numa armadilha de Bulger. Há pouco espaço para as personagens femininas (como as interpretadas por Dakota Johnson e Julianne Nicholson), mas há momentos de brilho das duas atrizes quando contracenam com Depp em duas cenas, pelo menos.

Como, desde o trailer, se cogita muito a indicação de Depp ao Oscar, vale dizer que ALIANÇA DO CRIME se destaca mais por ser um filme de ator do que um filme de diretor. E podemos dizer isso sem diminuir o trabalho de Cooper, mas valorizando a sua capacidade em tirar dos atores o seu melhor. Inclusive, a construção do personagem de Depp só não foi mais acurada pois nem ele nem o diretor conseguiram conversar com o hoje presidiário Bulger, o que não quer dizer que o resultado não tenha sido fantástico, numa transformação física e psicologicamente assustadora.

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