domingo, novembro 22, 2015

MISTRESS AMERICA



O novo filme de Noah Baumbach é mais um exemplar do quanto ele parece deixar nas mãos de Greta Gerwig o peso (ou seria a leveza?) de seu trabalho. Os dois fizeram juntos o roteiro de MISTRESS AMERICA (2015) com um fiapo de enredo que se constrói no que parece ser tudo improvisado, embora toda a parte em que a turma está na casa de Mamie-Claire (Heather Lind) pareça ser uma excelente adaptação de uma peça teatral maluca.

Em certo momento do filme, Tracy, a jovem de 18 anos interpretada por Lola Kirke, reclama ao telefone com a mãe, dizendo que estar em Nova York, lugar onde está iniciando os estudos na faculdade, é como estar em uma festa o tempo inteiro. Com a diferença que é uma festa em que você está o tempo todo se sentindo sozinho, deslocado. E é fácil compreender esse sentimento. Muitas pessoas, tímidas ou não, já passaram por isso.

A situação muda para Tracy quando ela entra em contato com uma moça que será a sua meia-irmã, ou seja, o pai dela irá se casar com sua mãe. O nome dela é Brooke (Greta Gerwig) e ela tem cerca de 30 anos. Acontece que Tracy ama Brooke, acha-a a mulher mais divertida que ela já conheceu e, dentro de sua curta vida até então, passou a a mais divertida das noites com ela em uma festa. Brooke sabe se divertir como ninguém, tem uma atitude prática (não parece ligar para faculdade ou coisa do tipo) e está planejando montar um restaurante com o namorado.

Tracy acaba aproveitando bastante dessa personalidade sem igual de Brooke para se inspirar e escrever um conto que seria enviado para um clube de leitura e ter a possibilidade de ser publicado em um livro com outros vários jovens escritores. A vida real, afinal, é tantas vezes objeto de inspiração para a construção de obras fantásticas, não é mesmo?

MISTRESS AMERICA tem um estilo despojado de narrar a sua história, importando-se mais em tecer as personalidades de suas protagonistas. Brooke e Tracy não chegam a ser opostas. Brooke contém traços de personalidade que Tracy gostaria de ter para si, mas ao mesmo tempo Tracy se sente bastante confiante no que ela é e no que é capaz de construir para sua vida, tendo 12 anos a menos que Brooke. Já Brooke esconde muito de suas inseguranças em uma personalidade aparentemente forte, mas as fragilidades começam a vir à tona e a amiga e quase irmã faz questão de estar ali para lhe dar apoio moral.

Se MISTRESS AMERICA é melhor ou não que FRANCES HA (2012), isso talvez não seja tão importante. São filmes com propostas diferentes – o anterior tem uma pegada europeia maior –, mas a verdade é que ambos se beneficiam bastante da presença de Greta Gerwig, tão encantadora que não chega a ser exatamente eclipsada por Lola Kirke, que também é linda e brilhante. Um achado. O fato é que ambas as personagens se tornam ainda mais adoráveis quando expõem os seus defeitos e suas fragilidades, como se nos convidassem para um abraço, embora vivendo em um mundo que parece frio demais para carinhos desse tipo.

P.S.: Como neste ano eu pude conhecer Nova York e subi aquela escada da iluminada Times Square, senti uma pontada de alegria e saudade ao ver Greta Gerwig descendo maravilhada os degraus daquele lugar tão singular.

Nenhum comentário: