quarta-feira, novembro 04, 2015

NARCOS – PRIMEIRA TEMPORADA (Narcos – Season One)



Por culpa de MR. ROBOT e sua excelência acabei interrompendo a apreciação de NARCOS (2015), a série sobre Pablo Escobar produzida pelo Netflix. Talvez tenha sido ruim ter visto assim a conta-gotas, mas uma coisa deu pra notar: é que da metade para o final a série vai melhorando consideravelmente. É como se os roteiristas percebessem que o ideal seria concentrar mais a história na luta dos colombianos contra Escobar do que das intervenções americanas. Isso, inclusive, dá um ar de muito mais legitimidade ao povo colombiano, que é visto com muito carinho, apesar de tanto sangue derramado e tanta corrupção.

Os próprios créditos de abertura, com a bela canção “Tuyo”, de Rodrigo Amarante, ao mesmo tempo em que mostra imagens de arquivo de Escobar e do conturbado cenário político mundial, mostra também as belezas naturais, como uma foto de uma linda concorrente a um concurso de beleza. Aliás, aproveitando a deixa do nome de Amarante no parágrafo, vale dizer o quanto o Brasil meteu o dedo nesta produção, e no quanto isso talvez não tenha agradado a alguns espectadores de países falantes do espanhol. Além de José Padilha, que é produtor executivo e dirige os dois primeiros episódios, a fotografia é de Lula Carvalho.

Mas o que incomodou mesmo muito gente foi a escolha de um ator brasileiro que nem sabia falar espanhol e que não conseguiu falar como os nativos, conforme dizem. Não sei o quanto isso incomoda do lado de lá da fronteira, mas do lado de cá e acredito também do lado dos americanos, o que vemos é uma performance monstruosa de Wagner Moura como Pablo Escobar. É, provavelmente, o papel da vida dele. E olha que ele é o cara que já foi o Capitão Nascimento.

Mas é que a gente esquece disso. O ator baiano está transformado fisicamente com os pesos a mais para viver o chefe do tráfico. Além do mais, à medida que vamos nos acostumando com aquele homem ali na tela, vamos acompanhando também a sua transformação cada vez maior em um ser capaz de exercitar qualquer ato, por pior que seja, para atingir os seus objetivos. Ora age de maneira extremamente inteligente, como quando tem a ideia de construir uma prisão-castelo de luxo só para ele e seus sicários, ora quando mata os seus inimigos sem pensar nas consequências.

O ator americano que interpreta o agente de polícia Steve Murphy, responsável por se infiltrar na polícia colombiana, Boyd Holbrook, não é suficientemente bom. Chega a ficar eclipsado por seu parceiro, o ótimo Javier Peña (Pedro Pascal), embora ganhe mais força perto do final, quando se deixa contaminar pela crueldade que ali impera e que mexe mesmo com quem tem a melhor das intenções. Ele é o narrador da série, que no começo lembra bastante OS BONS COMPANHEIROS, de Martin Scorsese, inclusive pela utilização da tela congelada aliada à violência.

Felizmente, a voz narrativa não funciona como uma muleta. Ao contrário, ajuda a tornar a série até mais agradável de acompanhar, além de servir também de ponte para o espectador americano, que não vai ter que ouvir só a língua espanhola o tempo inteiro, embora essa seja a língua predominante da série – outro acerto, aliás, para uma produção dos Estados Unidos.

Alguns personagens/atores são admiráveis, como é o caso de Maurice Compte, que interpreta o policial Horacio Carillo, que odeia Escobar com todas as suas forças, assim como Raúl Méndez, que interpreta o corajoso Presidente César Gaviria. É mais uma série de homens do que de mulheres, mesmo com os desempenhos de Paulina García, como a mãe de Escobar, e de Stephanie Sigman, como a repórter de televisão e amante do criminoso.

Por ser uma série do Netflix, que já ganhou a fama de não economizar na nudez e na violência gráfica, nada disso fica de fora dos episódios, o que contribui para o necessário ar de crueza da narrativa, ainda que uma crueza com beleza plástica. Mas nada disso adiantaria se não ficássemos envolvidos com os acontecimentos, especialmente quando a trama vai se encaminhando para o final, que na verdade nem é o final, já que a história continuará numa segunda temporada.

Mas a sensação de que estamos vendo um episódio melhor a cada vez que nos aproximamos do décimo é muito boa. Isso é muito importante para que nos interessemos pela próxima temporada. Nem consigo acreditar que ainda há muito a se contar de barbaridades e histórias incríveis cometidas por Escobar, que bota qualquer gângster de filme americano saído da ficção no bolso.

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