domingo, novembro 08, 2015

TOP GIRL OU A DEFORMAÇÃO PROFISSIONAL (Top Girl oder La Déformation Professionnelle)



Não deixa de ser curioso como o sexo vem sendo mostrado nos cinemas atualmente. Deixando de ser elemento de satisfação e libertação dos anos 1960-80, os novos filmes estão cada vez mais problematizando o sexo, mostrando-o como algo pouco ou nada excitante, além de questionar de maneira moralizante ou de um ponto de vista quase doentio a tara de certos personagens. A comparação ou citação de CINQUENTA TONS DE CINZA não é em vão, nesse caso, já que ele pode ser incluído facilmente nessa classificação.

Em TOP GIRL OU A DEFORMAÇÃO PROFISSIONAL (2014), de Tatjana Turanskyj, somos apresentados a Helena (Julia Hummer), uma garota de programa de 29 anos que já fez relativo sucesso como atriz de televisão quando adolescente. Agora, para manter a própria vida e a da filha de 11 anos, ela recorre ao submundo do sexo pago.

Seu maior cliente é um homem que até tem vontade de manter uma relação mais próxima com ela, mas Helena prefere manter distância. Nesse caso, há algo em comum com outro filme abordando esse universo, BRUNA SURFISTINHA, de Marcus Baldini, que é um trabalho bem mais palatável que este filme de Tatjana Turanskyj, o segundo de uma prometida trilogia sobre a mulher e o trabalho e o único a chegar em circuito comercial no Brasil.

A primeira cena de TOP GIRL é até bastante animadora: a imagem de quatro mulheres nuas correndo pela floresta. A cena bucólica também pode ser uma promessa de algo mais sombrio, levando em consideração o tom e o andamento do filme, que se mostra amargo como a protagonista. As cenas de sexo são poucas e relativamente discretas. Uma delas, porém, foi capaz de expulsar da sala duas senhoras. A tal cena mostra a protagonista com uma cinta com dildo acoplado prestes a penetrar um de seus clientes fiéis.

No mais, há muita cena que é um verdadeiro banho de água fria para quem espera algo mais excitante do filme, como os momentos da protagonista se exercitando ou conversando com a mãe, as cenas envolvendo as aulas de piano com a mãe, a conversa com as colegas de trabalho ou com os clientes, em um registro pouco envolvente, ainda que deixe espaço para reflexão.

Principalmente a sequência final, que retoma à promessa da cena inicial, apenas para apresentar os homens como criaturas doentias e sádicas. Seja entre o sadismo ou o masoquismo, Helena está disposta a entrar no jogo, ainda que isso a frustre ou cause dor física. Mas nada é mais incômodo do que o vazio espiritual que fica explícito em seu olhar.

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