terça-feira, fevereiro 24, 2015
OS DOCES BÁRBAROS
Um dos momentos mais arrasadores (no melhor dos sentidos) ocorridos durante a mostra ocorrida no Dragão do Mar no mês de janeiro foi poder ver em gloriosa película este documentário que trata da turnê feita pelo grupo então recém-formado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia e Gal Costa, quatro dos maiores artistas musicais de sua época – e da atualidade, ainda.
OS DOCES BÁRBAROS (1977) acompanha os ensaios, as entrevistas, ouve os artistas em sua intimidade nos bastidores e, o mais importante, nos oferece apresentações maravilhosas dos quatro, passando por diversas cidades do Brasil. Agora, claro que o diretor Jom Tob Azulay não ia prever que seu documentário acompanhando o grupo na turnê seria brindado por um acontecimento que tornaria seu filme ainda mais divertido: a prisão de Gilberto Gil por porte de maconha em Florianópolis.
Não que isso seja a melhor coisa do filme, mas é o que faz o público gargalhar a valer. A sessão em que eu estive (era a única da mostra) estava com a casa cheia e sentir todo mundo ali respondendo ao filme, rindo da seriedade das autoridades e da imprensa e da reação do próprio Gil foi uma experiência impagável.
Mas nada disso importaria se a música não fosse tão boa. Confesso que não conhecia o trabalho dos Doces Bárbaros. Sabia que eles haviam se reunido, mas nunca havia me interessado em ouvir os discos. Até ver o filme. A primeira canção que ouvimos é a alegríssima “Os mais doces bárbaros”, que costumava abrir os shows já elevando o espírito da plateia. Misturando Jesus com a mitologia do Candomblé, discos voadores, a natureza e a arte de cantar, essa canção sintetiza um pouco o som do grupo.
E o mais bonito de tudo é que cada artista tem uma força toda especial no cantar, embora eu tenha uma queda especial pela voz de Gal Costa. Quando ela entra em sua parte de "Atiraste uma pedra", difícil não ficar arrepiado. Até porque esse é o tipo de canção que se destaca das demais por ser de dor de cotovelo, de fossa. E eu tenho um apreço por esse tipo de canção, especialmente quando é bem composta e bem executada. E o arranjo que fazem para esta música é excepcional.
Destaque também para "Fé cega, faca amolada", "O seu amor" e "São João, Xangô menino". Vale também lembrar uma que homenageia o rock'n'roll, chamada "Chuck Berry Fields forever", que é explicada por Caetano como sendo fruto de sua época, da contracultura. Desde os discos de Caetano de fins da década de 1960 que a aproximação bem-vinda da música brasileira com o rock faz com que essa rixa boba entre MPBistas e rockers se torne obsoleta, embora costumeiramente volte sempre a ser objeto de discussão.
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