terça-feira, fevereiro 17, 2015

GRANDES OLHOS (Big Eyes)



Há tempos que esperava um filme que trouxesse uma espécie de redenção a Tim Burton, cineasta que andava cada vez mais distante da excelência de seus filmes das décadas de 1980 e 1990, tempo em que dirigiu pérolas como OS FANTASMAS SE DIVERTEM (1988), BATMAN – O RETORNO (1992), ED WOOD (1994) e A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (1999). Depois desse tempo e de seu casamento com Helena Bonham Carter, seu estilo foi ficando cada vez mais repetitivo e preguiçoso. Além de suas parcerias com a esposa e com Johnny Depp não terem ajudado muito nos últimos anos.

Foi preciso a separação da esposa, um distanciamento de Depp e o retorno a uma parceria com a dupla de roteiristas Scott Alexander e Larry Karaszeski, os mesmos de ED WOOD, para que o cineasta de estilo gótico desse um restart em sua carreira, voltando à vida real e a uma cinebiografia, dessa vez à de uma pintora muito popular na década de 1950 e cujos quadros eram vendidos como se fossem pintados por seu marido, um pilantra de mão cheia.

Na pele da pintora Margaret Keane, Amy Adams, que confere à personagem uma simplicidade, uma doçura e uma dor fáceis de solidarizar. Do outro lado da moeda, o marido pilantra Walter Keane, interpretado por Christoph Waltz, que acaba fazendo sempre o mesmo papel, mas que não deixa de ser um acerto de casting, embora às vezes pareça um tanto caricato com aquele sorriso de vilão. Curiosamente, uma personagem coadjuvante, a amiga de Amy (Kristen Ritter), aparece em cenas muito estranhas, como se tivessem passado a tesoura em suas participações na edição final. Não vemos, por exemplo, o momento em que ela conhece Walter, mas a vemos julgá-lo e desconfiar de sua índole.

Esse é um dos pontos que depõem contra GRANDES OLHOS (2014), que não chega a ser um grande filme de Burton, mas é um dos mais acertados dele dos últimos anos. Tudo bem que FRANKENWEENIE (2012) é um belo trabalho, mas não deixa de ser uma revisão de um curta-metragem já bastante comovente e uma amostra de que faltava ao cineasta mais criatividade para desenvolver novos projetos.

Por isso uma volta para a vida real, ainda que momentaneamente, talvez possa ser muito saudável para Wood. Aliás, seus olhares para a vida real não deixam de ser sob um ponto de vista fantástico: do mesmo modo que a história de Ed Wood é impressionante, a história de Margaret Keane, e toda aquela cena envolvendo o julgamento seriam consideradas inverossímeis se não fossem baseados em fatos reais.

Há uma diferença bem forte entre os dois filmes: enquanto ED WOOD opta pelo preto e branco para emular o estilo dos filmes do mestre dos piores filmes de terror e sci-fi, GRANDES OLHOS utiliza um esquema de cores estouradas, com um azul que salta pela tela, que até parece defeito de projeção.

GRANDES OLHOS foi esnobado pelo Oscar, mas foi lembrado pelo Globo de Ouro em três categorias: atriz de comédia ou musical (embora o filme não seja nem comédia nem musical) (Amy Adams); ator de comédia ou musical (Waltz); e canção ("Big eyes", interpretada por Lana Del Rey). Amy Adams ganhou o prêmio.

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