sexta-feira, junho 08, 2012
FEBRE DO RATO
Mais um filme de Cláudio Assis a despejar seu ácido sobre a sociedade dominante e com a coragem de colocar cenas de sexo ousadas em um momento em que o cinema brasileiro parece estar cada vez mais se desligando da sensualidade dos filmes de outrora, FEBRE DO RATO (2012) chega ao Cine Ceará participando da Mostra Competitiva de Longas-Metragens.
O filme destoa um pouco dos trabalhos anteriores de Assis, não apenas por optar por uma fotografia em preto e branco (dirigida lindamente por Walter Carvalho), mas por ir pelo caminho da poesia. O filme já inicia com a voz do poeta Zizo, interpretado por Irandhyr Santos (de TROPA DE ELITE 2), enquanto vemos imagens de um Recife sujo. As palavras que ele fala, em versos bonitos, também tratam desse lugar que desperta ao mesmo tempo revolta e amor. Zizo, além de poeta, publica um periódico de nome "Febre do Rato", às suas custas e feito com paixão, para divulgar também suas ideias anarquistas.
FEBRE DO RATO, inclusive, tem esse caráter bem verborrágico por causa do personagem. Mas o ponto positivo disso é que os poemas são incitadores, provocantes e líricos. O melhor amigo de Zizo é Pazinho (Matheus Nachtergaele), que mantém um relacionamento conturbado com um travesti. Zizo vive uma vida emocionalmente tranquila, apesar de carregada de emoções provocadas pelo seu estimulante natural, a poesia. Até o dia em que ele conhece Eneida (Nanda Costa), uma jovem garota que custa a dizer sim aos seus apelos amorosos.
O filme tem tomadas de cima lindas, especialmente quando flagram a personagem de Mariana Nunes em seu belo corpo nu, seja num balanço, seja depois de fazer sexo com três homens. Nesse sentido, o filme faz questão de expor os corpos nus dos personagens, não importando se são tão belos e atléticos quanto o de Mariana. O problema de FEBRE DO RATO está em uma busca por uma conclusão, que soa bastante forçada para um tipo de filme que parece fluir sem muita preocupação com a história.
Assim, o trabalho que parece ser o mais maduro de Assis acaba sendo o seu filme mais frágil. Mas isso é compensado com inúmeras sequências belas, como os diálogos espirituosos entre os personagens, que brincam com a própria ideia de Recife como um inferno na Terra; a sequência da discussão entre Pazinho e Wanessa, com uma edição caprichada, alternando três lugares diferentes; e a cena do barco com Zizo e Eneida, quando ele pede para que ele a veja urinando. Essa é uma das mais belas, românticas e memoráveis cenas do filme.
FEBRE DO RATO ganhou oito prêmios em Paulínia, nas categorias de filme de ficção, ator (Irandhyr Santos), atriz (Nanda Costa), fotografia (Walter Carvalho), montagem (Karen Harley), direção de arte (Renata Pinheiro), trilha sonora (Jorge Du Peixe) e prêmio da crítica.
O filme estreia no circuito comercial brasileiro no dia 22 de junho.