quinta-feira, junho 14, 2012
CARLOS REICHENBACH (1945-2012)
Uma das maiores alegrias de minha vida foi ter conhecido Carlos Reichenbach, este cineasta tão importante e tão culto, que fará uma imensa falta ao nosso cinema. Mas o que mais vai doer vai ser a saudade, o fato de eu saber que nunca mais o verei neste plano astral. O fato é que a minha vida mudou graças ao Carlão. E não estou dizendo nenhum exagero não. Cerca de 12 anos atrás, eu costumava escrever cartas para sua coluna no portal Terra. E ele as publicava e respondia com tanta atenção que eu continuei mandando os e-mails.
Em 2001, quando estava passando por uma crise amorosa braba, escrevi pra ele, depois de um tempo de reclusão e ele destacou em sua coluna, no título, entre outros assuntos, "a volta de um amigo". Nessa época, suas colunas passaram a ser publicadas no Cineclick. E foi nesse maio de 2001 que ele me convidou a ingressar numa lista de discussão de nome estranho: Cannibal Holocaust, dedicada a filmes de horror europeu e afins. Entrei na lista e de cara conheci um monte de pessoas que até hoje fazem parte do meu círculo de amizade, apesar da distância.
Em 2005, quando o Diário de um Cinéfilo ganhou o Quepe do Comodoro de melhor blog de cinema, eu não pude ir a São Paulo receber o prêmio, mas ele tratou generosamente de arranjar um jeito de fazer com que eu recebesse. Mas curiosamente, poucos meses depois, ele esteve presente no Cine Ceará para a exibição de BENS CONFISCADOS (2005). Quando subiu ao palco para apresentar o filme, dedicou-o a mim! Fiquei tão emocionado e sem palavras que nem consegui assistir direito o filme. Na conversa que tivemos no dia seguinte, após a entrevista coletiva com a imprensa, batemos um bom papo do lado de fora do hotel. Eu estava atrasado para o trabalho e não pude ficar muito. Deveria ter ficado.
Além da admiração como artista sofisticado que era, o carinho que passei a ter por ele fez com que eu o imaginasse como um pai que gostaria de ter tido. Ainda houve mais três ocasiões que nos encontramos: uma em Fortaleza e duas em São Paulo. Em 2006, numa conversa sensacional numa pizzaria, com os amigos Eduardo Aguilar, Renato Doho e Michel Simões; em 2008, quando ele veio novamente ao Cine Ceará exibir o seu último filme, o ótimo FALSA LOURA (2008); e outra em 2010, quando tive a honra de visitá-lo em seu apartamento, junto com Marcelo V., Ana Paul, Michel Simões e Vébis Jr. Ele já estava com a saúde um pouco debilitada, mas tinha sonhos imensos, projetos incríveis pela frente. E ficou tão feliz com a nossa visita e todos nós ficamos tão felizes naquela noite...
Dá para notar a importância que Carlão, esse intelectual de incrível sensibilidade que tanto teria ainda a nos ensinar com seus filmes, com suas referências literárias e musicais, dá para notar a importância e a falta que ele já está fazendo, mesmo tendo nos deixado há apenas algumas horas. Embora lamentemos sua falta, sabemos que as sementes que ele plantou seguirão dando bons frutos, como as amizades construídas, os filmes ainda a serem descobertos e analisados, e outros tantos servindo de influência para jovens realizadores. Vai em paz, mestre e amigo Carlão Reichenbach. Não tenho palavras para lhe agradecer.