domingo, junho 10, 2012
AS NEVES DE KILIMANJARO (Les Neiges du Kilimandjaro)
Apesar do mesmo título de uma produção americana dirigida por Henry King em 1952, estrelada por Gregory Peck, Susan Hayward e Ava Gardner, o francês AS NEVES DE KILIMANJARO (2011), de Robert Guédiguian, traz uma história bem diferente. A relação com a África do filme americano aparece principalmente pelo fato de o casal de protagonistas ganhar uma passagem para o continente negro em um sorteio.
Guédiguian é um cineasta bem interessante. Só havia visto dois filmes dele, MARIE-JO E SEUS DOIS AMANTES (2002) e O ÚLTIMO MITTERRAND (2005), e ainda não entendi quais são seus temas recorrentes. Se é que existem. Seu estilo é geralmente pontuado por uma narrativa lenta, mas saborosa, com um ótimo domínio da técnica de narrativa, como um bom cineasta veterano costuma ter.
Os personagens de AS NEVES DE KILIMANJARO são particularmente adoráveis: pessoas simples que possuem uma moral digna. O próprio homem da família, Michel (Jean-Pierre Darroussin), durante uma crise em que é necessário demitir algumas pessoas de um sindicato, ele, mesmo sendo líder sindical, faz questão de colocar o seu nome também no sorteio. Não deu outra: ele foi sorteado e ficou desempregado junto com outra meia dúzia de funcionários.
O filme ganha mais força quando sua família e amigos são assaltados em sua própria casa por homens encapuzados, que levam, inclusive, as passagens que eles ganharam no sorteio. Depois da humilhação e do trauma, Michel acaba por descobrir um dos responsáveis pelo crime. Mas logo seu coração mole faz com que ele questione o seu ato de entregar o sujeito à polícia.
AS NEVES DE KILIMANJARO trata de pessoas do bem de modo quase tão estranho quanto O PORTO, de Aki Kaurismäki. Como se ser caridoso e ter o coração bom fosse algo inaceitável nos dias de hoje. Curiosamente, o mesmo ator, Darroussin, está em O PORTO. O filme de Guédiguian merece, no mínimo, nossa simpatia. E ele trata de conquistá-la facilmente.