Cada um de nós tem o seu problema. Ou problemas. Felizmente, na maioria das vezes, eles não são tão trágicos assim. Mas não é por isso que o sofrimento deixa de ser legítimo. E é desse sofrimento de pessoas que estão aparentemente numa situação um pouco mais confortável que lidam os principais trabalhos de Sam Mendes. POR UMA VIDA MELHOR (2009) segue essa linha.
No começo do filme, quando os personagens de John Krasinski e Maya Rudolph se perguntam se eles são perdedores, se estão fadados ao fracasso, já que têm mais de trinta anos e ainda não resolveram direito suas vidas, eu me peguei pensando: "eles devem estar brincando, hein?". E é já no começo do filme que se nota o quanto a sociedade americana - e a nossa também, ainda que em menor intensidade - se importa demais com o "vencer", com o ser bem sucedido financeiramente e até sentimentalmente. É uma sociedade que exige muito e transforma em losers pessoas de vida modesta.
Sam Mendes, já em seu trabalho de estreia, BELEZA AMERICANA (2000), fazia uma reflexão sobre o american way of life. Mas é com FOI APENAS UM SONHO (2008) que POR UMA VIDA MELHOR guarda mais semelhanças. Pode-se dizer que são "filmes irmãos". Se o anterior mostrava um casal lidando com as limitações da vida, que frustram os seus sonhos, o novo filme do diretor mostra outro casal, dessa vez atravessando os Estados Unidos em busca de um lugar melhor para viver e poder dar início à formação de uma família. A peregrinação dos dois por várias cidades americanas e uma do Canadá é mostrada com elegância e sensibilidade por Mendes, que parece temer cair no melodrama, preferindo um registro mais contido. E quase sempre ele é bem sucedido nesse filme injustamente esnobado pelo Oscar.
POR UMA VIDA MELHOR ainda tem o mérito de manter uma unidade, mesmo utilizando uma estrutura episódica. Cada cidade que o casal visita parece um episódio. O melhor episódio, por assim dizer, é o que mostra o casal que adota vários filhos e parece viver muito bem. Esse segmento atinge o seu momento sublime na cena do bar, quando o casal de protagonistas sai com esse casal de amigos e são surpreendidos por Melanie Lynskey dançando melancolicamente ao som de "Oh! Sweet Nuthin'", do Velvet Underground. Eu imediatamente quis saber que canção linda era aquela. E fiquei surpreso ao saber que era do Velvet e era a voz do Lou Reed. E, puxa, como a canção casou com a cena!
Vale destacar também o segmento em que Maggie Gyllenhaal brilha, no papel da mãe de família que foge do convencional, com ideias um tanto radicais de como se deve constituir uma família.
POR UMA VIDA MELHOR, que passou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo com o título "Distante Nós Vamos", será lançado diretamente em dvd no Brasil. Uma pena. Merecia um tratamento melhor.
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