quinta-feira, setembro 24, 2009

MOSCOU



Não gosto desta nova fase de Eduardo Coutinho. Aliás, gostei de JOGO DE CENA (2007), mas não tanto quanto de seus filmes de formato mais "tradicional", os que registram momentos brilhantes de seus entrevistados. A obsessão pela interpretação da pessoa diante da câmera parece não ter feito tão bem ao cineasta. Por mais que seja louvável a tentativa de se reinventar sempre e assumir riscos, que já são grandes em qualquer documentário que lide com o acaso, não foi dessa vez que o tatear de Coutinho encontrou o interruptor. Talvez o filme que eu mais goste dele (entre os que vi) seja O FIM E O PRINCÍPIO (2005), onde ele mostra essa busca por algo que ele não sabe bem o que é e tem um resultado final, mais do que satisfatório, tocante.

O namoro com o teatro a partir de JOGO DE CENA o levou ao novo projeto: MOSCOU (2009), um registro dos bastidores de um ensaio de excertos da peça "As Três Irmãs", de Tchekhov, encenado por uma equipe num curto espaço de tempo e sem a intenção de estrear. Mas MOSCOU não é apenas um documentário sobre um ensaio de uma peça. Ele se pretende mais que isso. Mesclando falas da peça com depoimentos do elenco, o diretor tenta extrair das próprias experiências pessoais dos atores sentimentos reais. Mas como o próprio Coutinho diz que todos somos atores, o sentimento que o ator exprime enquanto está recitando a fala de uma personagem pode ser tão ou mais verdadeiro do que aquela experiência real contada em frente a uma câmera.

Não deixa de ser algo fascinante, mas não vi praticamente nada nos quase 80 minutos de MOSCOU - que é o que foi selecionado de 80 horas de gravações - que tenha me emocionado. Na verdade, achei tudo muito chato. Não embarquei na viagem do diretor dessa vez. Como acredito que muita gente não vai embarcar. Mesmo quando imagino: "se eu tivesse lido ou visto a peça de Tchekhov teria tido uma experiência muito melhor", ainda assim, creio que um filme deve existir por si só. Não se trata aqui de um filme cheio de referências culturais e intelectuais como os trabalhos de Godard, mas de um filme que tem apenas uma peça como eixo. Mas vai ver eu não tenha entendido a proposta do filme. E por entender, eu me refiro a entender com os sentimentos, não só com a cabeça.

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