sexta-feira, setembro 25, 2009

FESTIM DIABÓLICO (Rope)



A primeira vez que vi FESTIM DIABÓLICO (1948) foi logo no início de minha cinefilia. Foi numa Sessão de Gala da Rede Globo. O impacto do filme naquele momento foi imenso em mim. Tive uma espécie de taquicardia que durou mais de uma hora. Fui picado pelo veneno de Alfred Hitchcock e sua capacidade de nos tornar cúmplices de seus personagens que cometem um crime. Tanto o uso do plano-sequência "contínuo", quanto o fato de ter um cadáver na sala de estar enquanto pessoas tomam champagne me deixaram bem excitado. Durante muito tempo, FESTIM DIABÓLICO foi o meu filme favorito de Hitchcock. Aos poucos foi perdendo a posição para outros. Na revisão, no dvd da Universal, o filme caiu um pouco no meu conceito, embora ainda veja inúmeras qualidades na obra. Diferente de DISQUE M PARA MATAR (1954), por exemplo, que cresce exponencialmente com a revisão, em FESTIM DIABÓLICO podemos ver falhas na segunda vez que vemos o filme. Mesmo assim, trata-se de uma das obras mais importantes da carreira do mestre do suspense, graças à sua radicalidade formal.

E o engraçado é que, eu na minha ingenuidade, não havia percebido as conotações homossexuais presentes na obra. Nem mesmo na segunda vez que vi o filme percebi isso. Por isso a surpresa, quando vi o documentário de Laurent Bouzereau, em que esse é o principal tema abordado. FESTIM DIABÓLICO seria um filme sobre esse tema-tabu. Inclusive, inicialmente, Hitchcock queria Cary Grant e Montgomery Clift no elenco. Mas os astros, até por serem gays, não queriam ter os seus nomes envolvidos numa produção que abordava o assunto. Nos Estados Unidos da década de 40, ser homossexual era quase como ser um leproso. Assim, a figura máscula de James Stewart acabou por deixar essa conotação homo bem menos evidente e acabar com uma possível sugestão de que o seu personagem era um professor que havia tido relação sexual com um dos alunos.

FESTIM DIABÓLICO também foi o primeiro filme em cores de Hitchcock. Mas as cores são bem discretas, o que, de certa forma, é bom para que a plateia fique mais ligada na trama de suspense do que na beleza das imagens. Se bem que no já citado DISQUE M PARA MATAR vimos que é possível ao mesmo tempo admirar a beleza das cores e ainda ficar eletrizado pelo suspense. Nos anos 40, a década do film noir, a tendência ainda era usar bastante o preto e branco. Até pela facilidade de mover a câmera, entre outros problemas que o technicolor gerava no início. Vi uma imagem de uma câmera em cores da época ligada a uma dolly e, meu Deus, aquilo ali era monstruoso de tão grande. Com certeza deu muito trabalho para movimentar aquilo dentro de um espaço relativamente pequeno do apartamento. O uso do som direto também é um destaque do filme e foi uma das coisas a serem comentadas na entrevista de Hitchcock para François Truffaut. Aliás, quase tudo sobre o filme que eles conversaram foi a respeito de detalhes técnicos, como as nuvens suspensas por fios. O que não deixa de ser fascinante, como são todas as soluções originais encontradas por Hitchcock para construir seus filmes.

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