sexta-feira, setembro 11, 2009
NOITES BRANCAS (Le Notti Bianche)
Na época que vi AMANTES, o amigo Renato Doho me lembrou de NOITES BRANCAS (1957), de Luchino Visconti, filme que aborda situação semelhante: a do sujeito apaixonado por uma mulher que já é loucamente apaixonada por outro homem. E assim como AMANTES, a obra-prima de Visconti inspirada no texto de Fiódor Doistoévski também mostra o estado febril de estar apaixonado e do posterior desencanto. Espero não estar fazendo dessa minha última frase um spoiler, pois se o filme tivesse mesmo um final feliz não teria a mesma força que tem.
NOITES BRANCAS já conquista pela sequência inicial, brilhantemente orquestrada pelo cineasta, que captura imagens lindas de Veneza à noite, com uma iluminação toda especial, a cargo do diretor de fotografia Giuseppe Rotunno, mais conhecido por sua parceria com Federico Fellini. A imagem e os movimentos de câmera são tão perfeitos que capturam a atenção do espectador de imediato. Com cinco minutos de filme, já sabemos estar diante de uma obra-prima. Nem parece aquela imagem escura de ROCCO E SEUS IRMÃOS (1960), o filme seguinte de Visconti.
O mais nobre dos cineastas italianos, talvez até por sua preferência sexual, gostava também de trabalhar com atores bonitos como Helmut Berger, Alain Delon e, como é o caso de NOITES BRANCAS, o jovem Marcello Mastroianni. Mas vale lembrar que Visconti também tinha bom gosto na escolha do elenco feminino. Basta lembrar de quem já passou por suas mãos: Claudia Cardinale, Alida Valli, Ana Karina, Romy Schneider. Mulheres que mais parecem deusas do Olimpo. Se é que as deusas do Olimpo são tão bonitas. Para o papel de Natalia, Visconti trouxe a linda austríaca Maria Schell, com seu rosto angelical.
Depois de uma sequência inicial praticamente sem diálogos, mas com um uso sublime da câmera e do som, o encontro de Natalia com Mario (Mastroianni) numa ponte dá o pontapé inicial para essa história de amor e dor, narrada em tons que hoje, com uma tendência mais naturalista de atuação, podem parecer um tanto exagerados, mas que são perfeitamente fiéis tanto ao espírito apaixonado da obra original, quanto à própria natureza operística dos italianos.
Algumas sequências são memoráveis, como a da dança, quando vemos um desajeitado Mastroianni levando a sua amada para um bar onde as pessoas se divertem, já sob o espírito da contracultura. Mario tentando fazer uma dança-solo, como que para mostrar que sabe tanto quanto o mais habilidoso dançarino da festa, chega a ser patético, mas é um dos momentos mais realistas do filme. O flashback, usado para mostrar a história pregressa de Natalia também é um dos pontos altos. E a sua história é contada de uma maneira tão boa que quase nos esquecemos da trama principal. E como esquecer a cena que ilustra o título do filme, quando começa a nevar? Não embarquei no delírio de Mario, mas o entendi totalmente. Difícil mesmo é segurar as lágrimas no final.
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