quinta-feira, dezembro 25, 2008

SETE VIDAS (Seven Pounds)



Houve um tempo em que Hollywood não tinha que pisar em ovos quando transitava pelo difícil terreno do melodrama. Tempos em que era até chique soar melodramático, que o digam os belos trabalhos de Douglas Sirk. Hoje em dia, Hollywood precisar importar cineastas de outros países para fazer esse papel - se bem que Sirk também era de outra nacionalidade. E o italiano Gabriele Muccino caiu como uma luva para fazer a platéia chorar sem culpa. Ou com culpa, já que essa é uma das palavras-chave para o belo SETE VIDAS (2008), filme que quanto menos se souber, melhor será apreciado. Trata-se da segunda parceria de Muccino com o astro Will Smith. Os dois já haviam emocionado as platéias no mundo todo com o emocionante À PROCURA DA FELICIDADE (2006). Que Smith tinha dotes para fazer dramas, a gente já sabia desde, pelo menos, ALI, de Michael Mann, mas que bom que ele demonstrou ter um pouco mais de versatilidade nas suas expressões a ponto de fazer com que odiemos e amemos o seu personagem quase na mesma proporção.

O fato de o filme optar por uma narrativa não-linear - começando com uma seqüência que já mostra o personagem de Smith toamndo a decisão de tirar a própria vida – dá ao filme uma força e um charme todo próprio. O público já está acostumado a ver filmes com idas e vindas no tempo, como foi o caso do intenso 21 GRAMAS, de Iñárritu, portanto, não chega a ser incômodo em nenhum momento acompanhar aos poucos o descortinamento das intenções do protagonista, que tem como meta ajudar a vida de determinadas pessoas, a maioria delas, estranhos para ele. E é no modo como ele entra na vida dessas pessoas e vai modificando-as que ele modifica até a sua própria maneira de ver a vida. Para isso, é de especial importância a personagem de Rosario Dawson, como a mulher que sofre de uma cardiopatia grave e que tem poucos meses de vida, a não ser que um doador apareça dentro desse curto espaço de tempo.

Alguns pequenos detalhes tornam o filme ainda mais bonito, como a água-viva que ele guarda consigo e cuja característica o fascina desde a infância: "como algo pode ser ao mesmo tempo tão belo e tão mortal?", ele se questiona. E esse questionamento não é dito em vão e pode até ser comparado com o seu próprio personagem. A cena em que Woody Harrelson, no papel de um cego que é humilhado por telefone no início do filme é um desses momentos em que odiamos o personagem de Smith. Com o esclarecimento dos mistérios do protagonista e com o avanço do enredo, vamos nos afeiçoando a esse personagem que, com seu altruísmo, só nos lembra o quanto somos egoístas e o quanto é necessário, às vezes, algo extremamente traumático para nos darmos conta da importância de ajudar alguém. E não se trata de um filme de auto-ajuda, já que o próprio ato final do protagonista pode ser questionado e condenado por muitos. E como poucos diretores têm tratado do tema do sacrifício nos dias de hoje – talvez apenas Mel Gibson, em CORAÇÃO VALENTE e A PAIXÃO DE CRISTO–, chega a ser um alento ver esse tema tão "fora de moda" e fortemente usado no passado por cineastas tão distintos como John Ford e Robert Bresson novamente sendo posto em questão. Quanto às lágrimas, difícil contê-las.

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