
Tinha vontade de ver este filme desde os elogios rasgados do Carlão Reichenbach em sua antiga coluna no site Terra, na época que ainda se chamava Zaz. E como o filme era difícil de encontrar em VHS, só agora, com o lançamento em DVD nos Estados Unidos, e com o surgimento da cópia em dvdrip na internet, pude finalmente conferir essa maravilha dirigida pelo genial Samuel Fuller. Uma pena que o filme foi embargado quando de seu lançamento nos Estados Unidos por causa de protestantes idiotas que nem sequer haviam visto o filme. Foi mais ou menos o que aconteceu com A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO, de Martin Scorsese, que por pouco não foi barrado aqui. No caso de CÃO BRANCO (1982), os protestantes alegavam que o filme era racista, quando na verdade é exatamente o oposto.
O filme tem um jeitão de produção B, mas isso dá um charme a mais ao trabalho de Fuller, que conta com atores pouco conhecidos no elenco. Na trama, uma jovem aspirante a atriz atropela um pastor alemão branco na estrada. Temendo pela vida do animal, ela o leva imediatamente a um veterinário. Para evitar que o bicho seja enviado para o depósito - e com três dias, se o dono não aparecer, o animal é sacrificado -, ela resolve ficar com ele até que o dono apareça. Certa noite, o animal a salva do ataque de um estuprador, que invade sua casa. Depois de dias, o cão foge de casa e ataca um motorista negro na rua, voltando para casa dias depois, todo ensangüentado. Em pouco tempo, ela descobre a verdade sobre o cachorro e seus antecedentes e tenta reverter a situação.
Em tempos de BOLT – SUPERCÃO e MARLEY E EU, dois filmes que mostram cachorrinhos como animais simpáticos, resolvi nadar contra a maré e permanecer em casa ontem e ver essa preciosidade de Fuller. Não que Fuller pinte o cão como vilão. Na verdade, os grandes vilões são os antigos donos, que, com intenções malignas, programaram o animal para se tornar uma máquina de matar negros. Segundo o filme, esse método é bem antigo e já era usado desde antes da abolição dos escravos, como forma de pegar os escravos que fugiam. E o filme é mais uma denúncia do quanto o racismo ainda continua incrustado no coração dos Estados Unidos. Afinal, um país que criou uma organização como a Ku-Klux-Klan só pode sofrer de uma séria doença.
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