segunda-feira, dezembro 01, 2008

QUEIME DEPOIS DE LER (Burn After Reading)



Não é todo ano que temos dois filmes dos irmãos Coen estrelando nos cinemas brasileiros. Depois da oscarizada obra-prima ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007), chega nesse final de ano a despretensiosa sátira aos filmes de espionagem QUEIME DEPOIS DE LER (2008). Que, apesar de assimilar muito do estilo adotado por filmes como os da trilogia Bourne, tem a cara dos Coen de ARIZONA NUNCA MAIS (1987) e O GRANDE LEBOWSKI (1999), com seu humor negro e sua construção de intrigas e rede de relacionamentos construídas com cada vez maior maestria pela dupla.

O elenco estelar ajuda um bocado a tornar o filme ainda mais interessante. Tudo começa quando John Malkovich, espião da CIA, é demitido de seu cargo, sob a alegação de ter um problema com bebida. O personagem de Malkovich é um sujeito arrogante e facilmente irascível e não tem coragem de dizer para a esposa (Tilda Swinton) que foi demitido. Em vez disso, diz que ele mesmo pediu as contas. A esposa, por sua vez, tem um caso com um paranóico segurança do governo, interpretado com brilhantismo por George Clooney. Ele é um cara casado e respeita e gosta da esposa e por isso fica enrolando a amante quando chega a hora de falar de divórcio. Completam a brincadeira, uma dupla de colegas de trabalho de uma academia de ginástica: Brad Pitt e Frances McDormand. Ele descobre que um CD deixado na academia contém aparentemente informações confidenciais do alto escalão e acredita que pode faturar um bom dinheiro fazendo chantagem com o dono do CD (Malkovich). A confusão está armada.

Frances tem mais destaque que Pitt no filme. Acompanhamos o esforço de sua personagem em conseguir um companheiro e em fazer uma intervenção cirúrgica como último recurso para ter sucesso em sua empreitada. O dinheiro que ela ganharia com a chantagem seria utilizado para financiar suas cirurgias plásticas. Já Brad Pitt, é um sujeito que carrega em seu personagem o espírito do filme. Interpretando um pateta que não sabe muito bem o que fazer, ele ilumina o filme nos momentos em que aparece, utilizando-se de um humor físico que tem sido comparado a Jerry Lewis.

A banalidade com relação à vida diante da violência contemporânea é mostrada em tom muito mais cínico do que no filme anterior, já que em ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ, apesar de haver humor negro - principalmente nas seqüências com Javier Bardem - a ação acontecia num registro diferente, mais sério. Em QUEIME DEPOIS DE LER, essa postura dos Coen, que chegou a ser criticada por alguns, é mostrada com mais escracho e exagero. No entanto, por trás dessa máscara de brincadeira, haveria uma mensagem? Há quem diga que o filme é apenas uma diversão para ver e esquecer, como o próprio título dá a entender, mas acredito que há algo de mais profundo e importante por trás disso tudo. Ou talvez eu esteja sendo tão paranóico quanto o personagem de Clooney.

Nenhum comentário: