quinta-feira, setembro 30, 2004

A SUPREMACIA BOURNE (The Bourne Supremacy)



Estou com uma pontinha de inveja dos amigos que estão se esbaldando com um monte de filmes legais no Festival do Rio. Além do mais, quando estive em Brasília e vi o grande espaço que eles dedicam para filmes fora do circuito comercial, foi que eu percebi o quanto os cinéfilos de Fortaleza estão carentes desse tipo de coisa. Tá certo que lá em Brasília o principal espaço reservado é bem elitista, mas pelo menos, existe, né? Por que não criam um Centro Cultural Banco do Brasil aqui também? Aqui tem o Centro Cultural Banco do Nordeste, mas eles exibem filmes em vídeo/telão. Eu não curto ver filme em telão, ainda mais se o telão for quase uma telinha. Sem falar que são todos filmes fáceis de se achar em locadoras. Melhor ver em casa, então. Para os filmes ditos alternativos, só temos o Cinema de Arte, com apenas três sessõezinhas organizadas de modo que não atrapalhem muito o espaço dos filmes que vão dar lucro, e as duas salas do Espaço Unibanco, que atualmente está fazendo o favor de exibir os execráveis OLGA e IRMÃOS DE FÉ. Mas chega de reclamar, porque do cinemão também surgem coisas boas. Claro.

A SUPREMACIA BOURNE é um bom exemplo disso. Ainda que eu prefira A IDENTIDADE BOURNE (2002), de Doug Liman, a seqüência dirigida por Paul Greengrass tem os seus méritos. Ah, e por falar em Doug Liman, soube que ele está finalizando um filme chamado MR. AND MRS. SMITH. Tudo indica que é um remake de uma comédia de Alfred Hitchcock, com Brad Pitt e Angelina Jolie nos papéis principais. (Que coisa, hein).

Bom, eu estou enrolando, enrolando e não falo de A SUPREMACIA...Talvez o motivo de eu não ter me entusiasmado tanto com o filme tenha sido uma gripe violenta que tomou conta de mim, assim que eu cheguei de viagem. Ainda estou me recuperando do baque. (Até cheguei a enganar um de meus credores pelo telefone com minha voz rouca.) Por isso, acredito que minhas impressões do filme tenham sido prejudicadas por conta do sono e do mau humor.

Ainda assim, deu pra perceber as várias qualidades do filme. Desde a interpretação quase minimalista de Matt Damon, do elenco de apoio contando com a ótima Joan Allen e as jovens Franka Potente e Julia Stiles (é impressão minha ou ela está mais gordinha?). As cenas de ação corpo a corpo são boas pra caramba, com destaque para a briga de Damon com um dos agentes secretos, sem o uso da tradicional música clichê de filme de ação - só ouvimos o ruído da briga. Por falar em música, o modo como o filme termina, com uma empolgante canção do Moby, dá um tom todo especial ao filme. Bem que eles poderiam ter colocado os créditos no começo, como nos filmes de James Bond. Mas ficou legal no final. Inclusive, fui o último a sair da sala: preferi ficar até o final só pra curtir a música.

Quando estava prestando atenção na trama de espionagem internacional (sempre acho confuso essas coisas, toda essa complexidade política européia), lembrei do último thriller de espionagem que eu vi recentemente, o ótimo A ÚLTIMA MISSÃO, de Anthony Hickox, e eu achei realmente uma pena que esse filme, tão bom ou até melhor que A SUPREMACIA BOURNE, não tenha recebido a mesma atenção por parte dos exibidores. Um astro de primeiro escalão faz a diferença nessas horas.

terça-feira, setembro 28, 2004

O PENSIONISTA / O INQUILINO SINISTRO (The Lodger)



O PENSIONISTA (1926) foi o primeiro filme importante do grande Alfred Hitchcock; o primeiro filme realmente hitchcockiano. Muitos dos temas abordados nos seus filmes posteriores já apareciam nesse belo trabalho. O tema da desconfiança sobre se o protagonista é ou não culpado, por exemplo, apareceria ainda em filmes como SUSPEITA (1941) e À SOMBRA DE UMA DÚVIDA (1943), enquanto que o tema do homem culpado injustamente e sendo perseguido apareceria em SABOTADOR (1942), LADRÃO DE CASACA (1955) e INTRIGA INTERNACIONAL (1959). Lembrando que o uso das algemas, quase um fetiche, também apareceria em SABOTADOR.

No livro Hitchcock/Truffaut - Entrevistas (ainda vou citar muito esse livro por aqui), Hitchcock diz:

"O tema do homem acusado injustamente proporciona aos espectadores uma sensação maior de perigo, pois eles se imaginam mais facilmente na situação desse homem do que na de um culpado que está fugindo."

Mas acontece que a entrevista foi dada em meados dos anos 50 e nos anos 60, Hitchcock ainda faria a gente sofrer, mesmo na pele de um culpado, em filmes como PSICOSE (1960) e MARNIE - CONFISSÕES DE UMA LADRA (1964).

O PENSIONISTA tem muita influência do expressionismo alemão. Hitch era apreciador do cinema de Murnau (quem não era/é?). O filme também estava bem à frente do seu tempo, já que inicialmente foi considerado muito ruim, mas depois de algumas revisões chegou a ser aclamado como o melhor filme britânico já feito.

Muito interessante o efeito que Hitch usa para mostrar os passos do inquilino no andar de cima. Como naquele tempo não existia som no cinema, ele colocou um piso de vidro para que quem estava embaixo pudesse saber que o inquilino estava andando pra lá e pra cá em seu apartamento.

Deu vontade de pegar agora pra ver O RINGUE (1927) e CHANTAGEM E CONFISSÃO (1929), o primeiro filme falado do mestre. Qualquer dia desses eu pego.

De acordo com o especialista em Hithcock, Carlos Primati, o DVD lançado pela Multi Media Group está com o tempo de transferência errado, com vinte minutos a mais, porque roda mais lento.

Também de acordo com informações do Primati, a Warner do Brasil vai lançar cinco DVDs em breve, em edições novas: SUSPEITA, PAVOR NOS BASTIDORES, A TORTURA DO SILÊNCIO, DISQUE M PARA MATAR, O HOMEM ERRADO e PACTO SINISTRO (duplo). O ruim é que deixaram de fora UM CASAL DO BARULHO e CORRESPONDENTE ESTRANGEIRO.

P.S.: Já que os participantes dos blogs que concorrem ao Quepe do Comodoro estão fazendo uma propagandazinha, vou entrar nessa também: quem quiser me ajudar a receber o prêmio em Sâo Paulo, escreva um e-mail para o endereço comodoro@olhoslivres.com e vote no Diário de um Cinéfilo.

segunda-feira, setembro 27, 2004

A SETE PALMOS - SEGUNDA TEMPORADA (Six Feet Under - Second Season)



Já fiquei habituado a todo fim de domingo, antes de dormir, assistir a A SETE PALMOS, na Warner, ainda que dublado e com enormes intervalos comerciais. (Infelizmente não tenho HBO no meu pacote.) Minha tática pra poder assistir da melhor maneira possível é gravar e só depois assistir. Quando vi que o episódio de ontem era dirigido por Allan Ball, o criador da série, já suspeitei que se tratava do último episódio da segunda temporada (2002).

Nessa segunda temporada muita coisa acontece: Nate descobre que está com um tumor no cérebro, David assume de vez a sua homossexualidade e passa a morar com o policial Keith, Claire descobre que tem talento artístico, Brenda se transforma numa viciada em sexo, Brenda e Nate noivam, Freddy passa a ser sócio da casa funerária, nasce a filha de Nate, entre outras coisas dignas de novelões.

Não deixa de ser uma novela mesmo. Mas uma novela inteligente, cheia de estilo, com personagens frágeis e interessantes. A grande vantagem da série em relação ao longa-metragem de cinema é justamente essa capacidade de aprofundar mais os personagens, de dar a eles um passado e um futuro, de fazer a gente se acostumar com os seus dramas, de nos fazer íntimos deles. Cada episódio - alguns deles dirigidos por Rodrigo Garcia e Kathy Bates - acrescenta mais na vida dos personagens.

O episódio final da segunda chama-se "The Last Time" e já começa diferente, já que todos os episódios começam com personagens estranhos ao cast principal, morrendo em circustâncias às vezes estranhas, às vezes naturais. (A morte mais estranha dessa temporada foi a do sujeito que morreu se masturbando.) O último episódio começa com Nate indo visitar um amigo que está morrendo de câncer. (Muito triste imaginar alguém morrendo sozinho, sem ninguém, sem família, sem amigos.) Ainda assim, apesar da tristeza que imperou nesse episódio e do ótimo gancho para a terceira temporada, A SETE PALMOS não é tão melodramático assim. Não é como DAWSON'S CREEK, por exemplo.

O box da primeira temporada de A SETE PALMOS está sendo lançado em DVD no Brasil esse mês. Altamente recomendável. E espero que a Warner não deixe pra exibir a terceira temporada só no ano que vem.

domingo, setembro 26, 2004

VIAGEM A BRASÍLIA

Mais uma vez o destino me leva à capital federal. (Claro que se eu não me movimentasse pra pedir esse curso, o destino não ia dar a mínima pra mim, né?) Dessa vez, além de ver a Betânia e o Pablo, poderia ver a Rejane, que passou num concurso público e agora está vivendo de marajá com os políticos de lá. Foi foda a ida, já que eu fiz a besteira de não querer faltar aula na escola e escolhi um vôo de madrugada. Pra que? Só pra sofrer, já que a porcaria da VASP, já famosa por atrasar seus vôos, atrasou o meu em duas horas e eu só saí do aeroporto às quatro da matina. Resultado: dormi mal pra caramba e ainda cheguei atrasado no curso.

O curso foi meio chato. Demorou um pouco pra eu me acostumar com o tamanho da cabeça do professor (legal que ele mesmo costumava brincar com o tamanho da própria cabeça, dizendo que com aquele HD não esquecia de nada nem ninguém), mas depois pude prestar atenção na matéria, enquanto me esforçava pra não dormir.

Na quinta-feira, marquei de me encontrar com a Rejane (ela parece que não está gostando muito da cidade), mas a "furona" não compareceu. Deve ter tido algum problema. Bom, pelo menos, eu comprei um par de sapatos novos e voltei pra pousada a fim de dormir mais cedo e recuperar a noite de sono perdida, já que ficou tarde pra eu ver algum filme no shopping e eu tava muito cansado.

Na sexta-feira, a Betânia confirma que não vai dar pra sair com a gente. Coitada, ela agora está trabalhando até às dez horas da noite e fazendo faculdade pela manhã. Mas foi bom ouvir a voz dela dois dias seguidos, ainda que só pelo telefone.

Já com o Pablo, tínhamos combinado de ir ver um filme na Academia de Tênis. Havia várias opções fora do circuitão: JUSTIÇA(Brasil/Holanda), PRIMAVERA, VERÃO, OUTONO, INVERNO...E PRIMAVERA (Coréia do Sul/Alemanha), RECONSTRUÇÃO DE UM AMOR (Dinamarca), BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA (França/China), IRMÃS GÊMEAS (Holanda), MINHA MÃE GOSTA DE MULHER (Espanha). Além disso, estava tendo uma mostra de filmes baseados em Nelson Rodrigues. (GAROTAS DO ABC, do Reichenbach, já tinha saído de cartaz.) Mas por conta de duas ligações, fomos parar no Aeroporto (a mãe do Pablo estava viajando) e depois no condomínio onde o Pablo mora, quando conheci o Eduardo e a Júlia, com quem passamos a noite toda.

Pena termos chegado atrasado no show do Matanza, que tava rolando no Gate's Pub. Mas pelo pouco que eu pude conferir, gostei pra caralho. Rockão cheio de peso e sem frescuras e com uma temática bem interessante. Eles estão fazendo shows com canções do disco Música para Beber e Brigar. Foi frustrante quando acabou.

Depois disso, ainda conheci o Pontão, um lugar enorme e bonito às margens do Lago Sul. Depois de sermos expulsos de lá - o lugar estava fechando-, passamos um tempo na Esplanada dos Ministérios, ouvindo indie-rock brasileiro. Depois, fomos ver o pôr-do-sol na Ponte JK (que ponte linda, hein!) e depois tomar café numa padaria pra poder acordar o Pablo (o homem tava dormindo no volante!), conversando sobre cinema e astrologia(!). Foi bom pra caramba.

Fico me perguntando: será que um dia eu volto à Brasília de novo?

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Voltaremos com nossa programação normal amanhã. Hoje devo ir ver A SUPREMACIA BOURNE.

terça-feira, setembro 21, 2004

DESAPARECIDAS (The Missing)



Bom filme esse western dirigido por Ron Howard e estrelado pela sempre ótima Cate Blanchet. Howard está longe de ser um autor (está mais para bom operário), mas faz filmes agradáveis, ainda que isso não seja sinônimo de grandeza. Entre os seus filmes, acho UMA MENTE BRILHANTE (2001) e O PREÇO DE UM RESGATE (1996) os seus melhores trabalhos. Também gosto de UM SONHO DISTANTE (1992), que até onde eu lembro foi o único filme feito em 70 mm que eu vi no cinema (ou não?), e de O TIRO QUE NÃO SAIU PELA CULATRA (1989), bela comédia com Steve Martin.

DESAPARECIDAS (2003) fracassou nos cinemas americanos e chegou aqui direto em vídeo/dvd. A Columbia fez um trabalho porco e pegou um filme em 2.35:1, em que a fotografia é destaque, e botou no mercado uma cópia mutilada, em fullscreen. Já o motivo do fracasso do filme nos EUA deve ter sido por conta da pouca popularidade do gênero com as platéias mais jovens. Nem funcionou a tática de venderem o filme como um suspense com toques de A BRUXA DE BLAIR, como parece querer enganar o trailer.

Até imaginei que o filme traria uma homenagem a RASTROS DE ÓDIO, de John Ford, por conta da captura de uma menina branca por índios, mas fica só por isso mesmo. Até daria um thriler policial normal, substituindo os índios por um serial killer, já que a trama principal do filme é a história de uma mãe que sai em busca da filha raptada, porque a polícia não se esforça pra isso. Há também o difícil relacionamento de Cate com o seu pai, protagonizado por Tommy Lee Jones.

DESAPARECIDAS tem um ritmo muito bom e só chega a cansar no finalzinho, quando ele não resiste a um segundo climax. No DVD vem alguns finais alternativos, mas na verdade é apenas um final com cenas extras. Os outros extras também são bem fracos. Ron Howard fala, fala, e não diz nada. Parece entrevista de jogador de futebol.

Parece que Howard vai dirigir uma adaptação do best-seller O CÓDIGO DA VINCI.

segunda-feira, setembro 20, 2004

DEZ (Ten)



Fim de semana chato esse que passou. E o início de semana, com a volta das dores no corpo, na cabeça e nas juntas, também não está lá essa maravilha. Tem alguma coisa muito errada comigo e ainda não encontrei quem pudesse me ajudar. Pelo menos em casa eu estava descansando, vendo filmes e seriados, lendo livros, ouvindo música. Entre os quatro DVDs que aluguei, tive a oportunidade de conferir DEZ (2002), de Abbas Kiarostami. Ainda pretendo um dia pegar os filmes dele que não vi. Antes só tinha visto ATRAVÉS DAS OLIVEIRAS (1994), que me deu sono, e O GOSTO DE CEREJA (1997), que adorei, achei excepcional. Mas ver no cinema é outra coisa.

Há um clima de O GOSTO DE CEREJA em DEZ. Ambos os filmes mostram protagonistas dirigindo carros e mostrando um retrato do Irã. Além disso, há algo no ar que deixa claro ser um filme de Abbas Kiarostami. E o mais interessante disso é que o diretor não está presente, não está dentro do carro. Ele apenas passou as instruções para as atrizes e o garoto e depois fez a montagem. Li num texto que o Filipe escreveu pra Contracampo que Kiarostami ficava dando instruções para os atores durante as filmagens através de um microfone. A câmera fica estática enquanto testemunhamos em tom documental a conversa entre a bela motorista e os passageiros em dez momentos. Dos dez segmentos, três mostram uma conversa entre mãe (a motorista) e filho. O filho, aliás, é um pé-no-saco, hein. Maltrata a sua mãe de tal forma que me deixou indignado.

Alguns segmentos são um pouco cansativos, com os atores se repetindo um pouco. Não gostei do segmento da prostituta, onde não se vê o seu rosto em nenhum momento (será que as putas usam véu no Irã?), talvez por ter ficado irritado com a sua risada. O mais emocionante pra mim foi o segmento da mulher que foi rejeitada pelo namorado e tomou uma atitude drástica em seu visual. Ela ria e chorava ao mesmo tempo. Nunca vi algo tão real num filme de ficção.

domingo, setembro 19, 2004

REI ARTHUR (King Arthur)



É ruim ir ao cinema sem muito entusiasmo pra ver um filme. Às vezes acontece de a gente até gostar, ter uma boa surpresa. Não foi o caso desse REI ARTHUR, de Antoine Fuqua. O diretor parece ter tido sorte apenas com um único filme: o ótimo DIA DE TREINAMENTO (2001).

Pra começar, já achei uma bobagem essa história de procurar a "verdadeira história" do Rei Arthur. Pra que, se a mitologia em torno da Távola Redonda é tão mais fascinante? Lembro que o meu primeiro contato com essa mitologia foi lendo uma inesquecível série em quadrinhos da DC chamada Camelot 3000. A história mostrava os cavaleiros do Rei Arthur reencarnados no ano 3000. Foi quando eu conheci a traição de Guinevere com Lancelot, o amor espiritual de Tristão e Isolda, a busca do Cálice Sagrado etc. No cinema, a melhor adaptação desse mito ainda é EXCALIBUR (1981), de John Boorman. Gostei também de AS BRUMAS DE AVALON (2001), mini-série produzida pela TNT. Vale destacar outra produção para a tv muito boa: MERLIN (1998). No cinema, vi o insosso LANCELOT - O PRIMEIRO CAVALEIRO (1995), de Jerry Zucker, mas esse merece ser esquecido mesmo.

REI ARTHUR é outro exemplar que nem precisa de muito esforço pra ser esquecido. Basta sair do cinema. Pra não dizer que não gostei de nada, há a tal cena da batalha no lago congelado. No mais, Clive Owen está bem como o Rei Arthur e Keira Knightley estava bem como uma estranha Guinevere, pelo menos até o momento em que ela usa aquela roupa ridícula para lutar. E precisava fazer cara de safada na cena de casamento com Arthur?

REI ARTHUR é exemplo de filme idealizado pelo seu produtor, Jerry Bruckheimer, que achava que bastava pôr um monte de cenas de ação (sem sangue), uma música grandiloqüente e umas tomadas aéreas pra que um filme fique bom. Saudade dos anéis de Peter Jackson...

sábado, setembro 18, 2004

VERA CRUZ



Esse é apenas o segundo filme de Robert Aldrich que eu assisto - o outro foi O QUE TERÁ ACONTECIDO A BABY JANE? (1962), que eu tenho em DVD. Parece que boa parte de seus filmes são carregados de um certo veneno. Aldrich é o cineasta da perversidade. VERA CRUZ (1954) também traz personagens perversos. O menos mau-caráter é o personagem de Gary Cooper, talvez porque Cooper já era um ator acostumado a personificar tipos de bem.

Nesse sentido, VERA CRUZ é um western à frente do seu tempo. Antecipou o western spaghetti, tanto na figura dos caçadores de recompensa sem escrúpulo, como na estética suja, mostrando homens suados e barbados. Ajuda o fato de o filme se passar todo no México - há até uma cena em que vemos uma construção asteca -, sempre visto pelos americanos como um lugar quente, pobre e sujo.

Na história, Gary Cooper e Burt Lancaster são dois americanos que, depois do fim da Guerra Civil, partem para o México a fim de ganharem dinheiro. Eles acabam se envolvendo numa outra guerra: a dos rebeldes juaristas contra o imperador Maximiliano. No meio de tudo isso, uma carruagem cheia de barras de ouro. Há uma participação pequena de Charles Bronson no filme.

Li ontem a entrevista de Aldrich contida no livro AFINAL, QUEM FAZ OS FILMES, de Peter Bogdanovich, mas a entrevista é bem curtinha, e ele pouco fala sobre VERA CRUZ. Na época, ele tinha acabado de fazer O VÔO DA FÊNIX (1966), com um grande elenco. Mas é uma entrevista bem agradável de se ler.

O DVD da Classic Line deve estar melhor que o VHS da Warner. Pelo menos, a imagem está em widescreen 2:1. A qualidade da imagem não é excelente, mas não dá pra reclamar muito da distribuidora. Por causa dela, eu já vi, com ótima qualidade de imagem, filmes como O COLOSSO DE RHODES (Leone), PALAVRAS AO VENTO (Sirk), HÉRCULES NO CENTRO DA TERRA (Bava) e O HOMEM DOS OLHOS DE RAIO X (Corman). E ainda tem muita coisa boa e do meu interesse no catálogo deles. Ontem, por exemplo, quase levei pra casa UMA BALA PARA O GENERAL, de Damiano Damiani.

quarta-feira, setembro 15, 2004

LADRÃO DE CASACA (To Catch a Thief)



"Quando trato das questões de sexo na tela, não esqueço que, mesmo aí, o suspense comanda tudo. Se o sexo é espalhafatoso demais, acabou-se o suspense. O que é que me dita a escolha de atrizes louras e sofisticadas? Procuramos mulheres de alta classe, verdadeiras damas, mas que no quarto se tornarão putas. A pobre Marilyn Monroe tinha o sexo estampado em todo o rosto, como Brigitte Bardot, e isso não é muito fino."
(Alfred Hitchcock em HITCHCOCK/TRUFFAUT: ENTREVISTAS)

Estou lendo aos pouquinhos e com pena de terminar logo esse maravilhoso livro de entrevistas cobrindo todos os filmes de Hitchcock, em ordem cronológica. E finalmente estou me interessando mais em ver seus primeiros filmes, os da década de 20. Inclusive, saiu há pouco tempo, em DVD, O PENSIONISTA (1926), O RINGUE (1927) e CHANTAGEM E CONFISSÃO (1929). Muito aguardado também o pacote de fimes que a Warner estará lançando em breve aqui no Brasil. Nesse pacote tem três filmes do mestre inéditos pra mim. (Que emoção.)

Esse trecho da entrevista, acima, foi dito quando se falava sobre LADRÃO DE CASACA (1955), o filme mais caro do mestre do suspense, que assisti nesse fim de semana. A edição especial em DVD da Paramount vem com uma bela capinha de papelão cobrindo a caixa e um libreto com detalhes da produção do filme. Traz também pequenos documentários sobre as filmagens e um pequeno documentário sobre os figurinos de Edith Head.

LADRÃO DE CASACA foi o terceiro e último filme de Hitch com Grace Kelly, sua atriz favorita - e a mais linda também. Ela era uma verdadeira princesa, mesmo antes de se tornar princesa de verdade. Não sei se devia dizer isso, mas na primeira vez que a vi em JANELA INDISCRETA (1954) tive uma ereção. Esse filme é tão carregado de erotismo que a gente sente no ar a tensão sexual. Talvez seja uma fantasia minha ser cantado por uma mulher linda e ainda me dar ao luxo de me fazer de difícil. Hehehe.

LADRÃO DE CASACA também é cheio de sugestões sexuais. Tem a famosa cena do pic-nic, em que Grace Kelly pergunta para Cary Grant se ele prefere coxa ou peito; ou na cena do reveillon, no apartamento dela, em que Grace, com um colar de diamantes no pescoço, um pouco acima de um belo decote, pergunta se Grant gostaria de tocá-lo. A cena do primeiro beijo dos dois é também maravilhosa e totalmente inesperada. E a inserção da música de Lyn Murray também é muito apropriada nessa cena. Murray até teria trabalhado mais com Hitch se não tivesse feito a bestera de apresentar a Hitch um certo Bernard Hermann, que se tornaria o principal trilheiro do mestre a partir de O TERCEIRO TIRO (1955).

O título original (To Catch a Thief) tem mais a ver com Grace Kelly tentado agarrar Cary Grant do que com Grant tentando pegar o verdadeiro ladrão de jóias. A história de um homem tentando provar sua inocência, enquanto é perseguido pela polícia, é um tema recorrente na obra do diretor, como se pode ver também em SABOTADOR (1942), INTRIGA INTERNACIONAL (1959) e no dramático O HOMEM ERRADO (1956). LADRÃO DE CASACA é provavelmente o filme mais leve do diretor, com pouco suspense e muitos momentos engraçados e divertidos. O final do filme, então, é engraçadíssimo. Sobre o final, vale a pena ver o comentário de Hitchcock:

"Cary Grant deixa-se convencer, vai se casar com Grace Kelly, mas a sogra irá morar com eles. Assim é quase um final trágico."

Vê-se que não é só aqui no Brasil que a sogra é odiada, hein.

segunda-feira, setembro 13, 2004

POR CAUSA DELAS



O fim de semana até que foi legal. Festinha na Órbita na companhia dos amigos na sexta à noite, vomitódromo no sábado de manhã pra botar pra fora as caipirinhas da noitada, dois filmes no cinema (só um visto pela primeira vez), um clássico do Hitchcock revisto em DVD, deliciosas edições da Marvel Max que o Zezão me emprestou e uma peça de teatro bacana no domingo. A peça chama-se ESSE ALGUÉM MARAVILHOSO QUE EU AMEI e tem a gatíssima Natália Lage (que quase ofuscou a beleza de Cláudia Abreu no filme O HOMEM DO ANO) e o ídolo das meninas Marcelo Serrado. Estava até pensando em escrever um post só sobre a peça, mas estou com preguiça e vou mandar um texto sobre filmes "pequenos". Já que escrever sobre filmes é a única coisa de que eu me "obrigo" nesse blog.

Os três filmes abaixo têm em comum a presença de atrizes que fazem a minha cabeça, despertam a libido ou encantam pela beleza e magnetismo quando estão na tela. Foi por elas apenas que eu quis ver esses filmes.

VÍTIMA DO PASSADO (Mother Night)

Sheryl Lee, a eterna Laura Palmer, já não está tão bela quanto nos tempo em que foi descoberta por David Lynch para integrar o elenco de TWIN PEAKS (1990). Engraçado que, assim como ela fez duas personagens na série de Lynch, ela também o faz nesse filme de Keith Gordon. Gordon é mais conhecido pelo filme AMOR MAIOR QUE A VIDA (2000), que trazia outra beldade maravilhosa, Jennifer Connelly. Só vi esses dois filmes de Gordon, mas se todos os seus filmes forem chatos e arrastados como esse, não faço questão de acompanhar sua filmografia. Sheryl Lee, na verdade, aparece pouco no filme. Na história, Nick Nolte é um agente americano infiltrado na Alemanha nazista fazendo-se passar por traidor. É como o personagem de Nolte diz, se você finge ser uma coisa por muito tempo, você acaba se tornando essa coisa. VÍTIMA DO PASSADO (1996) foi gravado do SBT.

EXPRESSO PARA MARRAKESH (Hideous Kink)

Kate Winslet está linda e voluptuosa (que par de peitos são aqueles, meu Deus?!) nesse filme que se passa no Marrocos. Foi o primeiro filme que Kate fez logo depois do megasucesso TITANIC (1997). Foi uma decisão corajosa da parte dela, essa de preferir filmes alternativos em vez de blockbusters hollywoodianos. Pra se ter uma idéia, seus próximos filmes até 2005 serão dirigidos por gente como Marc Forster, John Turturro e Liv Ullman. EXPRESSO PARA MARRAKESH (1998) já despertou minha atenção por mostrar um modo de vida oriental e alguns dos costumes sufis. A narrativa também é bem gostosa de acompanhar e por vezes emocionante, especialmente na cena em que Kate acha que perdeu a sua filha. Grandes tomadas nas ruas e nas areias de Marrocos, bela fotografia... E eu falei que esse filme é pequeno?? Gravado da Globo.

PAIXÕES PARALELAS (Passion of Mind)

Demi Moore é paixão antiga. Começou no final dos anos 80, quando, na adolescência, vi a moça nuazinha no filme SOBRE ONTEM À NOITE (1986) e fiquei apaixonado. De lá pra cá ela teve uma carreira de mais erros do que acertos. O seu maior sucesso de bilheteria ainda é GHOST: DO OUTRO LADO DA VIDA (1990). Fez uma série de filmes bons e regulares depois disso, mas chegou ao fundo do poço quando começou a ficar musculosa demais para fazer coisas horríveis como STRIPTEASE (1996) e NO LIMITE DA HONRA (1997). Depois disso, teve a sorte de pegar um papel pequeno no genial DESCONSTRUINDO HARRY (1997), de Woody Allen. E demorou três anos para voltar com esse PAIXÕES PARALELAS (2000). O filme é dirigido por Alain Berliner, cineasta belga mais conhecido pelo bom MINHA VIDA EM COR-DE-ROSA (1997). PAIXÕES PARALELAS tem um enredo interessante: a história de uma mulher que tem duas vidas. Sempre que acorda, é uma pessoa diferente. Ela não sabe qual das duas vidas é verdadeira e qual é falsa. Pena que o filme fica chato depois de meia hora. Gravado da TNT.

sábado, setembro 11, 2004

O TERMINAL (The Terminal)



Antes de falar sobre o mais novo filme de Steven Spielberg, quero deixar registrado aqui a minha segunda vez com A VILA, do Shyamalan. Fui ontem à tarde conferir de novo esse maravilhoso filme e ele cresceu ainda mais na revisão. Além de eu não ter tido mais aborrecimentos com gente mal-educada, pude perceber algumas coisas que tinham passado desapercebidas da primeira vez. Nessa segunda vez, a história de amor ganha dimensões maiores, já que a tal surpresa da primeira vez não existe mais. Mas o mais surpreendente de tudo, é que mesmo assim, o filme assusta, aterroriza. Eu fiquei ainda mais arrepiado com a aparição daquela coisa de vermelho no meio da floresta e a linda Bryce indefesa, mas também quase chorei com as cenas românticas de Bryce e Phoenix.

Agora o Spielberg. Bom, O TERMINAL é um filme pequeno do diretor. Pequeno em orçamento, pequeno pela falta de grandes efeitos especiais, pequeno pelas poucas locações empregadas, e pequeno pela pouca divulgação dada. Só não achei pequena a duração do filme, que bem que poderia sofrer alguns cortes pra ficar mais redondinho.

Apesar de ser comparado com E.T. - O EXTRATERRESTRE (1982) por conta da história do estrangeiro em terra estranha, o filme me lembrou mais O NÁUFRAGO, de Robert Zemeckis. Tom Hanks dessa vez saiu da ilha e foi parar num aeroporto, arranjando formas de sobreviver sem saber inglês e sem ter um dólar no bolso. A tal missão do personagem de Hanks não me comoveu. Achei até meio boba, mas cada pessoa sabe o que é mais importante pra si.

Catherine Zeta-Jones está linda como sempre, mas Spielberg tem problemas em tirar de suas atrizes um certo sex appeal. É como se ele fosse muito puritano demais ou algo assim. Senti falta de mais atratividade em Catherine. Puxa, qualquer diretor consegue isso com Catherine, por que Spielberg não?

No mais, é um bom filme, mas só não digo que fiquei decepcionado, porque já não estava tão empolgado pra ver mesmo, e no fim das contas acabei me divertindo bastante.

quinta-feira, setembro 09, 2004

PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS (Paura nella Città del Morti Viventi / City of the Living Dead)



Um dia desses estava numa reunião com com uns amigos (era aniversário do Igor) e a turma inventou uma brincadeira, cujo nome não me lembro, que consistia em escolher na sorte uma letra e depois cada pessoa do círculo ficava dizendo o nome de alguma pessoa famosa que começasse com uma letra "x". A letra "sorteada" foi a letra "L". Depois de várias rodadas, eu meio já sem opções, me lembrei do nome do Lucio Fulci. Mas não valeu. Ninguém sabia quem era Lucio Fulci. Nem eu enumerando alguns de seus filmes, aceitaram minha resposta. E eu fui desclassificado do jogo. Pois tá aí. Estou contribuindo para a popularização do nome do Lucio Fulci agora.

Fulci era um dos geniais picaretas do cinema de gênero produzido na Itália. O cara começou trabalhando com notáveis como Luchino Visconti, Roberto Rossellini, Federico Fellini, Steno e Mario Bava, mas acabou se desviando por gêneros considerados menos nobres. Por causa do preconceito que muita gente tem com o cinema de horror, ele é menosprezado ou ignorado por muita gente que diz gostar de cinema. De qualquer maneira, os seus filmes não são mesmo para todos os gostos. Não é todo mundo que agüenta ver da forma mais explícita possível (às vezes até com zooms) tripas e outros orgãos saindo da boca de uma mulher, ou um sujeito furando a cabeça de outro com uma furadeira elétrica.

PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS (1980) tem tudo isso e muito mais. Na verdade, as cenas gory nem se justificam no roteiro furado do filme de Fulci. Mas, como bem disse Patricia MacCormack num texto da Senses of Cinema, para se apreciar os filmes de Fulci, deve-se esquecer certas convenções como roteiro bem trabalhado e de narrativa inteligível, por exemplo. Se bem que comparando com um filme posterior de Fulci - A CASA DO ALÉM (1981), que é bem mais "porra-louca" - PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS até que tem um roteiro. Mas não adianta ligar muito pra ele. Se não você vai ficar se perguntando: por que diabos um padre vai se enforcar em pleno cemitério?; ou por que ninguém foi para o enterro da personagem de Katrina MacColl?; ou o que tem a ver com a trama zumbiesca a cena do sujeito atravessando a cabeça do outro com uma furadeira?

O que importa é que as tais cenas foram muito bem filmadas. Que elas são apelativas ninguém discute, mas isso faz parte da natureza desse tipo de filme. Na verdade, muitas das situações são mero pretexto para a exibição de seqüências memoráveis como: a cena da sessão espírita, com os bizarros zooms no belo rosto de Katrina MaColl (a musa de Fulci); Katrina acordando dentro do caixão e tendo sido resgatada a machadas (essa é a minha cena preferida); ou a do sangue saindo dos olhos de uma moça ao ver o fantasma do padre, entre outras.

PAVOR NA CIDADE DOS ZUMBIS é o primeiro filme de uma trilogia "imobiliária" composta por A CASA DO ALÉM e A CASA DO CEMITÉRIO (1981). Visto em divX conseguido com o amigo Leandro José.

quarta-feira, setembro 08, 2004

QUEIMANDO AO VENTO (Brucio nel Vento)


Ontem tive meus dias de Antoine Doinel em O AMOR EM FUGA. Quando fui para o Dragão do Mar ver o filme QUEIMANDO AO VENTO (2002), me encontrei, por acaso, com pessoas de diferentes fases da minha vida. No café do Dragão do Mar lá estavam a Valéria e o Igor, pessoas que fazem parte do meu círculo de amizades atual. (Até marcamos uma reunião do pessoal para a sexta na Órbita.) Depois, me encontrei com o Dario, que nem chegou a ser meu amigo de verdade, mas foi uma pessoa importante por ter me apresentado à Giselle, que foi com quem eu tive o namoro mais duradouro e bem sucedido até hoje. Vi também o Marcos, ex-regente do extinto Coral do IBEU, que eu participava entre os anos de 1992 a 1995. Bons tempos os do coral. Mas quero acreditar que o futuro vai ser melhor do que o passado, apesar de eu, pessimista que sou, tender a sempre romantizar o passado e desacreditar do futuro.

Já o protagonista do filme QUEIMANDO AO VENTO pode até ser meio pirado, mas é um exemplo de pessoa que vai atrás obstinadamente do que deseja. No caso, a mulher por quem ele é apaixonado desde a infância. Sua vida é uma rotina massacrante - acordar cedo, pegar o ônibus, trabalhar na fábrica - até a chegada de Lina. Sua fé que Lina apareceria é comparável à da protagonista de CONTO DE INVERNO, de Eric Rohmer. Ele tinha certeza que suas namoradas eram apenas pra passar o tempo, até Lina chegar.

O filme é excessivamente carregado de sentimentalismo, comparado a canções de Nelson Gonçalves ou outros cantores da velha guarda, por exemplo. Por vezes, beira o caricaturesco. A narrativa é bem desenvolvida e só cansa lá pelo final.

Na história, homem relembra o seu passado, quando fugiu de casa depois de ter esfaqueado o pai, e passou a trabalhar na França (ou na Suíça?) depois de ter trocado de nome. Ele espera ansiosamente a chegada do amor de sua vida, que surge ainda que casada e com uma filha. Detalhe importante: a moça é sua meia-irmã.

O diretor, Silvio Boldini, é mais conhecido no Brasil pela direção da comédia romântica PÃO E TULIPAS (2000), sucesso de público no circuito alternativo. Acho difícil ficar em cartaz mais de uma semana. Se ficar, vai ser por conta do público que vai ver OLGA (também conhecido como ARGH!) e, por causa da lotação, acaba entrando na sala vizinha.

segunda-feira, setembro 06, 2004

O AMOR EM FUGA (L'Amour en Fuite)



Graças ao amigão Pablo, que me presenteou com uma cópia em DVD-R do DVD da Criterion, pude finalmente assistir ao capítulo final da saga de Antoine Doinel, de François Truffaut. Lembrando que os outros longas que compõem a coleção de aventuras de Doinel, eu tive o prazer de vê-los, em toda sua glória, no cinema. OS INCOMPREENDIDOS (1959), marco inicial da Nouvelle Vague, é uma obra-prima, claro, mas foi só a partir dos filmes seguintes - BEIJOS ROUBADOS (1968) e DOMICÍLIO CONJUGAL (1970) - que eu fiquei realmente fã dessa série. Inclusive, hoje em dia DOMICÍLIO CONJUGAL está na minha lista de dez melhores filmes que eu vi na vida. Esse filme me fez chorar muito. Por isso já sabia que O AMOR EM FUGA (1979) não poderia causar a mesma catarse em mim.

O AMOR EM FUGA é um filme que não se sustenta sozinho como os outros filmes. É um filme feito para os amantes dos filmes anteriores da saga. Ele homenageia de maneira carinhosa os outros filmes, trazendo seqüências de todos eles em flashback. É também uma espécie de celebração da vida do personagem, contendo vários personagens dos filmes anteriores, entre eles: o primeiro amor de Antoine, Colette (Marie-France Pisier, que é co-autora do roteiro, junto com Truffaut); um dos amantes de sua mãe (aquele que aparece beijando-a na rua em OS INCOMPREENDIDOS) e Christine (a bela Claude Jade).

Mas de que adiantou eu torcer tanto para os dois (Antoine e Christine) ficarem juntos em BEIJOS ROUBADOS e DOMICÍLIO CONJUGAL para vê-los agora em processo de divórcio? Uma pena. Lembro que quando eu vi as pernas de Claude Jade nesses filmes, eu ficava idealizando um casamento similar pra mim. Não apenas por causa das pernas dela, claro, mas por causa do jeito dela, e da química entre os dois. Identificava-me com o jeito quase infantil de Antoine de se preocupar mais com a estante para colocar os seus livros do que com coisas mais práticas. E teve o nascimento do filho deles, que eu compartilhei com uma alegria tamanha, que até parecia que era meu filho nascendo.

Em O AMOR EM FUGA (ou no pouco que sobra do filme, já que há tantos flashbacks), Antoine está de namorada nova, Sabine, que aparece logo no início do filme. Linda ela. Mas o filme não desenvolve muito bem o relacionamento dos dois, então não é a mesma coisa de antes. Muito legal a canção de abertura do filme, "L'Amour en Fuite", de Alain Souchon, que toca nos créditos iniciais e finais.

Truffaut, em entrevista constante nos extras do DVD (pena que são curtinhos), fala que não ficou muito satisfeito com o resultado do filme. Achou que Antoine ficou meio caricaturesco nesse filme. Mas Truffaut é muito autocrítico e acho que no fundo ele sabia que estava produzindo um verdadeiro presente para os fãs.

P.S.: Até hoje não vi o curta ANTOINE ET COLETTE (1962), segunda parte da série. Fiz a besteira de perder quando ele foi exibido nos cinemas daqui, junto com OS PIVETES (1957).

P.P.S.: Comprei o livro "Hitchcock / Truffaut - Entrevistas", o encontro mágico do "cineasta por excelência" com o "homem que amava o cinema". Não dá pra não ter. Falarei mais do livro quando comentar algum filme do Hitchcock aqui, em breve.

domingo, setembro 05, 2004

A VILA (The Village)



Infelizmente a sessão de um dos filmes mais esperados do ano foi, pra mim, desagradável. Não por causa do filme em si, que é extraordinário, mas por culpa de um bando de adolescentes imbecis que ficavam fazendo molecagem na hora do filme. As idiotas não atendiam aos pedidos de silêncio; ficavam falando besteira em voz alta, cantando (!!), dizendo que o filme era chato etc. Tive que me levantar pra chamar o segurança. (Se bem que outro sujeito, também puto com a situação, se antecipou e reclamou antes de mim.) Só depois que o segurança chegou, elas ficaram em silêncio. Mas o estrago já estava feito. E eu acho que estou com problema de pressão alta. Não estava me sentindo bem durante o filme, em parte por causa da raiva gerada pelas imbecis, mas de vez em quando sinto esse mal estar ? pena que perdi totalmente a fé em médicos. Quanto ao filme, estou pensando seriamente em rever durante a semana, num dia mais calmo.

Interessante que A VILA é justamente um filme que fala sobre atitudes drásticas tomadas por ocasião de ações violentas e abusivas dos outros. Mas é melhor não falar mais nada que vá estragar a surpresa de quem ainda não viu o filme.

No meio de atores consagrados como William Hurt e Sigourney Weaver, a grande interpretação do filme é de Bryce Dallas Howard como uma cega bem incomum. E de beleza incomum também. Totalmente justificável a paixão que o personagem de Joaquin Phoenix sente por ela. E um dos grandes baratos do cinema de Shyamalan é que ele consegue prender a atenção da platéia com um suspense comparável ao de Alfred Hitchcock, e ainda trazer suas lições de vida, que muitas pessoas não vêem com bons olhos - vide a pouca aceitação da demonstração de fé em SINAIS (2002).

A comparação da vila com os EUA tem tudo a ver: o país que se isola dos outros com medo do terror(rismo), o país que prefere ficar ignorante diante do que acontece do lado de fora, a enfrentar os horrores da floresta cercada de monstros. Há até a comparação com o código de cores de segurança dos EUA: do azul (tudo bem), ao amarelo (atenção), ao laranja (a cor do momento nos EUA), ao vermelho significando o horror. Lembrando que a cor vermelha também aparecia sempre que o garotinho de O SEXTO SENTIDO (1999) via os mortos.

M. Night Shyamalan confirma o seu talento e, hoje, afirmo sem medo que ele é o melhor diretor do cinema americano surgido nos últimos dez anos. E que chamá-lo de o novo Hitchcock é mesmo um exagero, mas nem tanto assim. Afinal, o homem está imitando o Hitch até nas aparições especiais.

sexta-feira, setembro 03, 2004

ZOOM ESPECIAL - CURTAS DE HORROR BRASILEIROS



No último sábado o programa Zoom, da TV Cultura, exibiu um especial com alguns curtas-metragens brasileiros do gênero horror. A emissora tinha prometido O FIM, de José Mojica Marins, mas acabou não exibindo. Em seu lugar, puseram o desenho animado QUANDO OS MORCEGOS SE CALAM. Do Mojica, passou apenas um trecho de uma entrevista e uma mini-matéria, com imagens de alguns de seus filmes com o personagem Zé do Caixão, falando da mitologia em torno da criação do personagem, que surgiu para Mojica num sonho.

Os curtas apresentados foram:

NOCTURNU, de Dennison Ramalho - já tinha copiado numa fita vhs e acho espetacular, o melhor curta de terror brasileiro que já vi. A câmera alucinante no cais, a fotografia em preto e branco, a opção pela falta de diálogos, os efeitos especiais e a maquiagem, a montagem, principalmente quando alterna passado e presente quando da investigação dos cadáveres, tudo é muito bom. Queria ver AMOR SÓ DE MÃE. Passou um trecho de uma entrevista do Dennison no programa, antes de exibirem o curta.

BEHEMOTH, de Carlos G. Gananian - parece um trecho de um longa-metragem, já que não tem um final com cara de final. Como bem falou o Diogenes na saudosa Cine Monstro, o maior defeito do curta é sua curta duração (6 minutos). (Deve ser por isso que chamam de curta. Hehehhe) Mas o pouco que se vê é de impressionar. Lembra HELLRAISER e dá vontade de ver o cara com pinta de Jesus e o demônio num longa-metragem.

ARREPIO, de André Sturm - Sturm é diretor do longa SONHOS TROPICAIS (2001). O problema desse curta é que o som estava tão ruim que mal dava pra entender o que se dizia. Mas o curta é legal ainda que tenha envelhecido um pouco.

O VAMPIRO, de Douglas Alves Ferreira - é um desenho animado engraçadinho e de menos de dois minutos. O vampirão do desenho é inpirado em NOSFERATU.

QUANDO OS MORCEGOS SE CALAM, de Fábio Ligni - o mais fraco de todos. Tem um final meio pegadinha.

Tirando os curtas do Dennison e do Gananian, bem que poderiam ter escolhido trabalhos melhores, hein.

quinta-feira, setembro 02, 2004

INTERVENÇÃO DIVINA (Yadon Ilaheyya)



Sábado acordei cedo pra ir ver INTERVENÇÃO DIVINA (2002), na sessão de arte. No caminho de ida pro Iguatemi, me encontrei com o Juradir Filho, que parece que vai ficar sempre indo pras sessões matutinas pra fazer cobertura para o Cinema com Rapadura.

O filme é uma provocação que puxa a sardinha pro lado dos palestinos, na eterna guerra contra os judeus. Senti que se eu soubesse mais sobre a situação entre os dois povos - a divisão geopolítica, as diferenças de situação em cidades como Jerusalém e Ramallah etc. -, teria entendido melhor o filme. Mas parece que eu não fui o único a ficar confuso com algumas coisas do filme. Pra quem não tem intimidade com o assunto, pode ser mesmo complicado.

O diretor Elia Suleiman optou por fazer uma comédia com pouquíssimos diálogos, descrevendo apenas com imagens o cotidiano de rixas entre palestinos e judeus, em três diferentes partes da Palestina. A comparação com o cinema de Jacques Tati é inevitável e realmente procede. Há muitos planos largos, muita repetição de situações (o cara que joga lixo no jardim do vizinho, o garoto que joga bola, o sujeito na parada de ônibus), tipos de repetições bem características dos filmes de Tati.

O senso de humor é bem estranho, meio descolacado numa situação tão delicada quanto essa dos palestinos, que nem puderam tem o filme concorrendo ao Oscar, porque a Academia não reconheceu a Palestina como país. Por isso o povo palestino se sente tão revoltado com os melhores territórios ocupados pelos judeus, com o tratamento "diferenciado", tratamento vindo logo de um povo que já sofreu em campos de concentração, vejam só. Por isso o povo palestino fuma tanto, sentindo-se miserável e tendo que apelar às vezes para o terrorismo para demonstrar sua força e resistência.

O filme traz uma série de cenas memoráveis: a mulher ninja que no melhor estilo Jaspion combate atiradores de elite judeus armados; o balão com o desenho de Yasser Arafat atravessando Jerusalém; um Papai Noel sendo esfaqueado por um grupo de rapazes; a frase "estou louco porque te amo", citada repetidas vezes ao longo do filme, uma verdadeira declaração de amor do diretor à sua terra; a cena das pessoas fumando no hospital. É um filmão. Só demora um pouquinho pra gente perceber isso.

Depois da sessão, teve um acalorado debate sobre a questão judeus x palestinos. Foi a primeira vez que eu fiquei pra assistir a um debate e gostei bastante. Aprendi bem mais sobre o assunto. Pedro Martins Freire falou que, em outubro, será apresentada uma mini-mostra com alguns dos novos filmes argentinos. Só não falou quais serão os filmes. De qualquer maneira, fiquei interessado.