terça-feira, janeiro 27, 2004

NARRADORES DE JAVÉ


Uma das coisas boas de se estar solteiro e desimpedido é poder sair do trabalho e decidir de última hora o caminho que quer seguir, sem ter que dar satisfação pra ninguém . Como geralmente fico com preguiça de ir ao cinema durante a semana depois do trabalho, acabo sempre decidindo pelo impulso do momento.

Ontem fui prestigiar o elogiado filme de Eliana Caffé. Acho que esse é um dos filmes de que eu mais li a respeito recentemente. Li entrevistas com a diretora e com José Dumont quando eles estavam aqui em Fortaleza para promover a pré-estréia, li críticas dos jornais locais e de São Paulo. Mesmo assim, NARRADORES DE JAVÉ me surpreendeu. Pelo que eu li estava esperando um filme muito centrado no contar histórias, quer dizer, um trabalho mais pra teatro do que pra cinema. Mas não. O filme é cinema mesmo e Eliana Caffé tem talento até pra dirigir filmes de terror se quiser. Sério. Tem duas seqüências no filme que são assustadoras. Uma delas é de gelar a espinha. E como o som do filme e da sala de exibição estavam ótimos, o efeito fica bem melhor.

Na história principal, José Dumont é um ex-funcionário dos correios de uma pequena cidade do interior que, por ser a única pessoa "letrada" da cidade, é chamado para escrever um livro sobre a história e a mitologia dos habitantes de Javé. Isso porque a cidade está para ser invadida pelas águas de uma represa. O problema é que o pobre do Biá (Dumont) vai ficando meio doido com as narrativas estranhas do povo.

José Dumont está excepcional. Há tempos não vejo um ator tão bem no cinema nacional. O elenco de apoio também é ótimo: Gero Camilo, Rui Rezende, Nelson Xavier, Matheus Nachtergaele e os atores amadores habitantes da região onde foi feito o filme.

Conta-se que o filme foi bem difícil de ser feito e que a diretora às vezes ficava chorando pelos cantos, escondida, esperando um desastre total. Imagina só: conseguir financiamento com o Governo Federal e com patrocinadores estrangeiros e de repente o filme naufragar feito a cidade de Javé... Felizmente não foi isso que aconteceu e o que vemos é um filme gostoso de ver e ouvir. Pena que deve ficar só uma semana em cartaz por falta de público. Talvez se tivesse em cartaz no Espaço Unibanco e não nos cinemas do circuitão, ficasse mais semanas sendo exibido. Mas de qualquer forma valeu pela coragem de lançarem o filme dessa forma.

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