segunda-feira, janeiro 12, 2004

21 GRAMAS (21 Grams)



No fim de semana vi poucos filmes. Apenas um filme novo valeu a pena: 21 GRAMAS, do Iñarritu. Os outros - KEN PARK e TODO MUNDO EM PÂNICO 3, são ruins. Também revi a fita da warner de TWIN PEAKS. Puxa, já tinha esquecido como aquilo ali é bom. Lynch é foda. Cada vez curto mais o trabalho dele. E em breve vou ver os seus curtas, aproveitando que ganhei novo entusiasmo por causa de RABBITS.

No fim de semana foi duro aguentar o calor aqui de Fortaleza. Ainda bem que começou a chover hoje. O sábado foi bem legal. Além de ir ver 21 GRAMAS, ainda fui pra comemoração do aniversário da Valéria lá no bar Mestre de Obras. Além de rever os amigos e conhecer mais gente, a banda que tocou lá era de dar gosto. Excelente repertório, ótimos músicos. Rolou só banda legal no repertório: Radiohead, Los Hermanos, Beatles, Led Zeppelin, Kid Abelha, Travis, Coldplay, Janis Joplin, Gun n' Roses e outras coisas que o álcool não me deixa lembrar.

Mas agora é parar um pouco pra pensar sobre 21 GRAMAS.

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O novo filme de Alejandro González Iñárritu é uma espécie de reedição de AMORES BRUTOS (2000), o filme que pegou de surpresa as platéias naquele ano. Isso porque o ponto de partida é bem parecido: a conseqüência que um acidente de carro pode ter na vida de três pessoas que não se conheciam. Antes de conferir esse segundo longa, pude ver dois curtas seus: um muito bom, feito para a BMW, chamado THE POWDER KEG (2001), e um de qualidade questionável para o projeto 11 DE SETEMBRO (2002) - o tal curta com a tela preta. Até hoje eu me pergunto se aquilo ali é cinema.

Felizmente, Iñárritu está de volta à grande forma com o seu 21 GRAMAS. O que está sendo mais questionado (leia-se "malhado") nesse novo filme é o final. Eu também não gostei do final não, com o monólogo de Penn, mas o trabalho excepcional, construído ao longo de duas horas, não pode ser desmerecido.

Vendo o filme, me peguei pensando sobre a evolução do cinema, a modernização, a quantidade de filmes com estilos de narrativas alternativas que estão surgindo nos últimos anos. No princípio, no tempo do cinema mudo, David W. Grifith ficava se perguntando se o espectador ia entender se a flecha que atingia uma pessoa era a mesma flecha que tinha sido arremessada na cena anterior. Na época ainda se duvidava da capacidade de o espectador entender o que o autor estava querendo passar. O cinema era uma linguagem nova. Por isso os filmes eram tão bem explicadinhos. Basta pegar um exemplar dos anos 40 ou 50 pra ver um cinema bem estruturado e explicado, com início, meio e fim. Mesmo quando se utilizava inúmeros flashbacks, eles eram tão bem explicados que não tinha como se perder.

Hoje em dia, tenta-se de tudo: filme contado de trás pra frente (AMNÉSIA, IRREVERSÍVEL), filmes com pluralidade de pontos de vista (PULP FICTION, AMORES BRUTOS, VIOLAÇÃO DE CONDUTA, VAMOS NESSA!), com narrativas circulares (A ESTRADA PERDIDA, CIDADE DOS SONHOS) e até com diálogos fora de ordem (RABBITS). Legal ver que tem gente que não subestima a inteligência do público.

21 GRAMAS tem uma estrutura narrativa que apesar de não mostrar os acontecimentos na ordem cronológica, não confunde o espectador. Há de se louvar o belo trabalho de edição do filme, feito por Stephen Mirrione, que já fez edição de filmes como VAMOS NESSA (1999), TRAFFIC (2000), ONZE HOMENS E UM SEGREDO (2001) e CONFISSÕES DE UMA MENTE PERIGOSA (2002). O cara é dos bons e ninguém dá o devido crédito. Até agora não vi nenhum crítico falando do trabalho dele.

Depois tem o elenco, que é espetacular: Sean Penn, Naomi Watts e Benicio Del Toro. Com um elenco desses, fica difícil um filme sair ruim. Eu gostei mais da performance de Penn nesse filme do que em SOBRE MENINOS E LOBOS. Sério. É angustiante ver Penn sofrendo de falta de ar por causa do coração que está pra pifar. Naomi está aí fazendo esse sucesso todo por causa do Lynch que a revelou. Ela é ótima. O Del Toro está fantástico como o ex-presidiário crente que tem sua fé abalada a partir de desgraças que lhe aparecem.

Terrível ver pessoas encontrando uma estabilidade na vida depois de passar por um inferno e depois ver que o inferno está ali à espreita de novo pra te dizer: te enganei, otário, achou que estava tudo bem?? Como se Deus fosse um sádico que dá um pouco pra depois tirar. Mas ou menos como na fábula de Jó. Por isso a indignação do personagem de Del Toro. Por isso a desistência do personagem de Penn. Cada um reage de maneira diferente às desgraças pessoais.

Se não fosse o final, eu ia considerar esse filme melhor que AMORES BRUTOS. Talvez as cinqüenta versões que o roteiro teve não tenham sido suficientes. Mesmo assim, é um filme impressionante. O melhor que eu vi nesse comecinho de ano.

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