sexta-feira, julho 30, 2021

TEMPO (Old)



Já faz um tempo que M. Night Shyamalan é um cineasta que divide opiniões e é capaz de causar sentimentos de amor e ódio em certos cinéfilos e críticos - no próprio site Rotten Tomatoes, a divisão entre críticas favoráveis e desfavoráveis de seu novo filme está em 50%. Já vi gente dizer que jamais veria outro filme dele; ou pessoas que demonstram tanta paixão por seu trabalho que parecem até um pouco nubladas com as imperfeições ou irregularidades em sua filmografia. Eu me situo um pouco mais no segundo grupo, embora tenha ficado um pouco desapontado com o fim da trilogia iniciado com o ótimo CORPO FECHADO (2000), continuada com o intrigante FRAGMENTADO (2016) e encerrada de maneira pouco inspirada com VIDRO (2019).

Por isso é bom ver o cineasta voltar com um projeto totalmente novo. TEMPO (2021) até poderia ter menos de seu toque pessoal, por ser baseado em uma graphic novel, Castelo de Areia, de Frederik Peeters e Pierre-Oscar Lévy, mas o autorismo de Shyamalan é tão forte que se percebe sua mão o tempo todo. E, além de tudo, há uma participação especial sua como um dos personagens coadjuvantes do filme, coisa que ele gosta de fazer com frequência, sabendo que já se tornou uma celebridade.

TEMPO já chamou a atenção por sua proposta apresentada no trailer. Na trama, uma família passa uns dias em um resort em um lugar paradisíaco não especificado (o filme foi rodado na República Dominicana). A família é formada por Guy (Gael García Bernal), sua esposa Prisca (Vicky Krieps) e seus filhos pequenos Trent e Maddox – a menina um ano mais velha que o menino. O casal está passando por uma dificuldade e a separação é iminente. Aquele momento com toda a família junta seria uma espécie de despedida.

Aos poucos, também somos apresentados a coadjuvantes que serão importantes para a narrativa e, já nesses breves espaços de tempo anteriores à chegada à praia, a questão do envelhecimento, da beleza e da doença fazem parte dos assuntos. O gerente do resort sugere um passeio para um lugar escondido e especial, uma praia deserta e de águas límpidas. Ao chegarem lá, porém – não apenas a família, mas outras pessoas recém-chegadas no resort -, começam-se a perceber estranhas situações, como o corpo de uma mulher encontrado sem vida, a morte de uma idosa e os efeitos do tempo nas crianças.

O filme lida com isso em alguns momentos com um senso de humor bem particular (o que dizer do personagem de Rufus Sewell citando um certo filme protagonizado por Jack Nicholson e Marlon Brando?); em outros há uma carga de dramaticidade bem excessiva, especialmente quando os personagens entram num estado de desespero geral com o que está acontecendo e a incapacidade de deixar aquele lugar, meio como em O ANJO EXTERMINADOR, de Luis Buñuel. Diferente de outros filmes de Shyamalan que exploram os interiores com uma beleza maior na direção de arte, este aqui, por se passar numa praia, se engrandece mais nos movimentos de câmera inteligentes para se apresentar novo diante de tantos filmes de horror genéricos recentes. Tem cara de ser uma obra que vai crescer na memória afetiva.

TEMPO pode provocar sentimentos mistos, mas é tão cheio de cenas memoráveis que é fácil nos ganhar, pelo menos na maior parte do tempo. Sem falar que é um filme que acaba trazendo também uma reflexão bonita sobre a passagem do tempo e sobre a inevitabilidade da morte e o que há de belo e de horrível no envelhecer.

+ DOIS FILMES

BABY BLOOD

17 anos antes de A INVASORA, outro diretor francês enveredou pelo território do horror sangrento envolvendo gravidez. Em BABY BLOOD (1990), de Alain Robak, a protagonista é uma mulher que recebe uma espécie de criatura parecida com uma enguia a penetrando e a engravidando. A primeira parte, no circo, não é tão interessante, embora já explore esse lado mais selvagem do ponto de vista sexual dessa mulher, mas o melhor acontece a depois de sua partida, quando ela começa a conversar com a criatura que está sendo gerada em seu útero e está sempre pedindo mais sangue. E, naturalmente, mortes de homens surgirão. É interessante que o filme tem um ar de cinema de horror mais artesanal dos anos 70/80, mas antecipa o chamado cinema extremo francês dos anos 2000. Título presente no box Obras-Primas do Terror - Horror Francês.

A NOITE DO TERROR (Night Tide)

O primeiro longa-metragem de Curtis Harrington foi esta interessante fábula de horror sobre jovem marinheiro (Dennis Hopper) que se apaixona por uma mulher (Linda Lawson) que se apresenta como uma sereia em um parque de diversões. Aos poucos, ele vai recebendo informações de que a mulher poderia mesmo ser uma sereia ou algo do tipo e representa um grande perigo para ele. Gosto muito de como A NOITE DO TERROR (1961) nos deixa intrigados com a aproximação do casal, da cena noturna inicial, das cenas no parque de diversões, das conversas entre os dois e dos personagens coadjuvantes que vão surgindo e trazendo mais mistério e interesse. Por outro lado, acho o final bem problemático, especialmente a cena da delegacia. Se bem que não deixa de ficar no ar certo mistério, mesmo com toda a explicação dada de maneira brusca. Filme presente no box Obras-Primas do Terror 13, que traz como extra um depoimento de quase meia hora do diretor. A cópia do DVD é de uma remasterização feita em 2017.

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