quarta-feira, janeiro 23, 2019

VIDRO (Glass)

Atualmente não há outro cineasta que desperte tanto o interesse nos debates quanto M. Night Shyamalan. Seja a favor ou contra, há sempre espaço para um pitaco por parte de alguém sobre a obra do cineasta nascido na Índia e criado na Filadélfia, Estados Unidos. Talvez não haja nem mesmo fãs que concordem 100% entre si sobre as preferências dentro da filmografia do diretor. VIDRO (2019), o terceiro de uma trilogia que começou lá em 2000 com CORPO FECHADO e continuou, de forma aparentemente acidental, com FRAGMENTADO (2016), não tem agradado a maioria dos críticos (hoje, nota 42 no Metacritic), ao mesmo tempo que tem recebido apoio apaixonado de certo grupo de fãs.

Como não fiz uma pesquisa acurada sobre as defesas e ataques, é melhor então me ater apenas às minhas impressões sobre a obra. Ao contrário da grande maioria das obras de Shyamalan, VIDRO não me trouxe prazer em seu desenvolvimento narrativo. Talvez por deixar de lado o aspecto de terror e suspense que predominava em FRAGMENTADO, um filme sobre um psicopata com múltiplas personalidades que sequestra meninas indefesas, e queira defender uma espécie de tese sobre super-heróis de histórias em quadrinhos.

Não sei o quanto Shyamalan é conhecedor de super-heróis a ponto de querer explicar seus arquétipos, mas o fato é que em vários momentos do filme soam muito básicas, muito bobas suas descobertas, como o fato de dizer que a Metrópolis do Superman seria na verdade Nova York, ou outras coisas que ele vende ao longo do miolo, que se passa em um manicômio, espaço em que ficam enclausurados os três personagens com habilidades super-humanas: David Dunn (Bruce Willis), que tem o corpo indestrutível; Elijah Price (Samuel L. Jackson), que tem o corpo todo quebrado, mas uma mente extremamente inteligente; e o múltiplo psicopata vivido por James McAvoy, que também traz dentro de si a chamada "fera".

A impressão que fica ao longo da narrativa é que Shyamalan não sabia direito o que fazer quando teve a ideia de juntar os três personagens para formar um universo compartilhado. A ideia em si parece interessante e deixou muita gente entusiasmada ao final de FRAGMENTADO, mas o fato é que McAvoy está exageradamente irritante; a personagem de Sarah Paulson, a cientista que estuda os três homens, funciona mais como um narrador incômodo (embora mais à frente descubramos se tratar de mais do que isso), e a trama vai ficando cada vez mais desinteressante, à medida que pouca coisa acontece durante a estadia dos três naquele manicômio.

Falta também em VIDRO aquela beleza plástica tão característica da maior parte das obras de Shyamalan. Além disso, a personagem mais interessante, a adolescente vivida por Anya Taylor-Joy, tem pouca participação na trama, como se aparecesse só para trazer uma maior ligação com FRAGMENTADO. Não falta uma reviravolta no final, que é até curiosa, mas, a essa altura, quem não havia embarcado no filme já estava torcendo para o seu final. Aliás, o destino dos personagens até parece uma espécie de vontade divina de seu criador, após um sentimento forte de desapego.

Além do mais, por mais que a defesa de Shyamalan da fantasia em detrimento da realidade seja algo bonito de ver e também coerente com sua obra autoral, ela já havia sido problematizada de maneira muito mais inteligente em outros de seus trabalhos. Na torcida por futuros trabalhos que façam jus à fama de gênio (muitas vezes injustiçado) do cineasta.

+ TRÊS FILMES

UNDER THE SILVER LAKE

O novo filme do diretor de CORRENTE DO MAL (2014). Só por isso já deveria ser tratado de maneira especial. É um filme bem estranho, mas uma vez que a gente aceita seu viés mais surrealista, uma coisa meio Alice no País das Maravilhas mais dark, a coisa vai ficando ainda mais intrigante. No começo, parece só uma homenagem a UM CORPO QUE CAI e a Hitchcock em especial, mas depois as coisas vão mudando. A duração talvez seja um empecilho para o filme chegar ao nosso circuito, quem sabe. Nem nos EUA teve estreia comercial ainda, embora já tenha sido lançado em blu-ray não sei onde. Direção: David Robert Mitchell. Ano: 2018.

O RETORNO DE MARY POPPINS (Mary Poppins Returns)

Até gosto do filme até sua metade, mas chega uma hora que cansa demais tanta cantoria e pouca empolgação. Emily Blunt está ótima e quase salva o filme e o drama da família que está para perder a casa chega a envolver, mas isso acaba sendo pouco importante. E como as canções são fracas, aí perde-se o interesse, por mais que o colorido seja bonito e tal. Rob Marshall segue sendo um dos diretores de que eu menos gosto. Se bem que, perto de CAMINHOS DA FLORESTA, esse aqui é uma obra-prima. Ano: 2018.

BIRD BOX

Um dos filmes mais vistos do ano, graças à propaganda massiva da Netflix. Infelizmente não chega a ser bom, embora seja razoável. Acho que tem uma boa premissa e se tivesse uma direção melhor talvez fosse um belo filme. Ainda assim, Sandra Bullock tem um carisma gigante e o filme tem os seus momentos de aflição, o que é normal levando em consideração a trama. Direção: Susanne Bier. Ano: 2018.

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