segunda-feira, junho 08, 2020

LEONARD COHEN - I'M YOUR MAN

As lembranças de minha relação e de meu interesse pela obra de Leonard Cohen remontam aos anos 1990. Acredito que o ano de 1994 foi fundamental nesse sentindo, pois foi neste ano que eu comprei o primeiro disco do cantor e compositor, Cohen Live, que teve críticas ótimas da revista Bizz, que na época era a minha bússola na hora de comprar discos. Nessa época não existia internet para pessoas normais, nem esse tipo de canção tocava nas rádios e nem havia ainda MTV. Foi nesse ano também que vi no cinema (ou no ano seguinte, não sei ao certo) EXÓTICA, de Atom Egoyan, que trazia "Everybody knows" na trilha sonora. Lembro que isso foi tão ou mais marcante para mim do que as cenas de nudez e sensualidade que o filme trazia.

Em 1994 também foi o ano que foi lançado nos cinemas ASSASSINOS POR NATUREZA, de Oliver Stone, que trazia duas canções mais sombrias do cantor: "The future" e "Waiting for the miracle". Cheguei a ouvir a trilha sonora, gravada em uma fitinha cassete durante muito tempo. Bela seleção de canções. No mesmo ano, um colega de faculdade me emprestou o álbum I'm Your Man (1988). Já conhecia a canção-título em sua versão ao vivo. Ou seja, até posso dizer que este 1994 foi especial não apenas por ser o ano de minha entrada na faculdade, mas também por ter conhecido um monte de coisas fascinantes, entre elas, Leonard Cohen.

Na época do lançamento mundial do documentário LEONARD COHEN - I'M YOUR MAN (2005), de Lian Lunson, eu cheguei a baixar a trilha sonora e ouvia bastante no carro. Nem sei se chegou a ser lançada em CD no Brasil. E até chequei em meu blog se por acaso eu já não tinha visto o filme, mas não tinha não. Foi falha minha. Por outro lado, foi muito gostoso voltar a ouvir aquelas versões lindas das canções clássicas de Cohen, nas vozes de gente como Nick Cave, Rufus Wainwright, Martha Wainwright, Beth Orton, Jarvis Cocker, entre outros. Há também, no final, o U2 servindo como banda de apoio de luxo para o próprio Cohen cantar "Tower of song".

A relação de Cohen com o cinema é tanta que, ao buscar em meu blog pelo seu nome, inúmeros filmes surgem, e eu sempre destaco o momento em que uma de suas canções aparece em meus textos. É tão marcante que eu nunca fico indiferente; vejo como, no mínimo, um dos pontos altos dos filmes. Podemos destacar, principalmente, a trilha sonora de ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS, de Robert Altman, que foi escrita por ele. Coisa linda demais. Na época, início dos anos 1970, seu tipo de música era mais próxima de um lirismo hippie ou algo do tipo. "Sisters of Mercy" faz parte da trilha do filme de Altman. E é cantada no doc por Beth Orton.

No documentário, entre uma e outra canção do grupo escolhido para a apresentação, ouvimos depoimentos do próprio Cohen e também de outros artistas. E é impressionante como, quando ele fala, ouvimos suas palavras como se estivéssemos ouvindo um guru. E de fato ele tem mesmo uma relação forte com a espiritualidade. Praticou zen-budismo com um mestre que aparece no filme, e cita um trecho do Bhagavad Gita. E tanto Bono quanto The Edge o vêem como uma espécie de pessoa elevada.

O próprio Nick Cave afirma que sua principal influência é o cantor canadense. Cave conta que, quando morava em uma remota cidade do interior da Austrália, descobriu o álbum Songs of Love and Hate (1971). Ele diz que se sentiu a pessoa mais cool do mundo, separada de tudo e todos de que detestava.

Engraçado Cohen falar de sua reputação de pegador de mulheres, do quanto isso é uma farsa. Em suas palavras: "My reputation as a ladies' man was a joke. It caused me to laugh bitterly the 10,000 nights I spent alone." Há um fato que ele conta, de quando conheceu Janis Joplin em uma festa em Nova York, e do fato de ter divulgado que escreveu uma canção em sua homenagem. Trata-se de "Chelsea Hotel No. 2", que no espetáculo é cantada lindamente por Rufus Wainwright, um dos cantores mais elogiados pelo próprio Cohen no documentário.

Há um cantor que eu não conhecia, mas que contribui com um dos melhores momentos do show: ele se chama Antony, e a canção escolhida foi a magnífica "If it be your will", poesia romântica em forma de música de arrepiar.

A desvantagem de escrever sobre música é a minha incapacidade de tecer comentários mais profundos e mais necessários não apenas sobre o artista, mas sobre cada canção extraordinária que eleva nosso espírito. Por isso, deixo apenas registrada a minha gratidão pela sua existência e pelos inúmeros presentes recebidos, Mr. Cohen.

+ TRÊS DOCUMENTÁRIOS

JERRY SEINFELD: 23 HOURS TO KILL

Achei tão estranho ver este stand up show de Jerry Seinfeld nesses tempos de pandemia... É como se certas situações que ele fala, como a ida a restaurantes e lanchonetes etc. fossem algo remoto. É um tanto triste. Mas consegui dar umas boas gargalhadas em alguns momentos, especialmente quando ele fala sobre celulares. Até porque, na época da série SEINFELD (1989-1998), não havia telefones celulares, eles não faziam parte da nossa sociedade. É legal vê-lo comentando a respeito e chegando a questionar a própria necessidade de ver um rosto humano falando nos dias de hoje. Já a parte final, em que ele fala da vida de casado é bem novidade pra mim, já que ele só casou aos 45 anos e as piadas que lembramos da série eram de pessoas solteiras. Como não sou casado, não me identifiquei, nem ri das piadas desse "bloco". Ano: 2020.

O INFERNO DE HENRI-GEORGES CLOUZOT (L'Enfer d'Henri-Georges Clouzot)

Um dos filmes mais ambiciosos de todos os tempos não chegou a ser terminado. Clouzot estava obcecado e tinha um monte de ideias. O filme foi cancelado de vez quando ele teve uma parada cardíaca. Curiosamente foi no meio da cena de beijo entre Romy Schneider com outra mulher. Aliás, que maravilha que é Romy, hein? Falo tanto da beleza física quanto da versatilidade, do modo como podia expressar diferentes pessoas. Muito bom a parte com Bérénice Bejo e Jacques Gamblin interpretando um texto que não chegou a sair do roteiro. Provavelmente foi aproveitado por Chabrol em seu filme. Direção: Serge Bromberg e Ruxandra Medrea. Ano: 2009.

VISAGES VILLAGES

Acho que o fato de eu ser muito apegado à palavra faz com que eu não me sinta tão envolvido nesses filmes que tratam sobre outras artes. No caso aqui é sobre a fotografia de JR. Que é interessante, mas o melhor do filme está em Agnès, em sua generosidade, sua consciência da própria finitude e uma certa cena envolvendo um diretor famoso. Direção: Agnès Varda e JR. Ano: 2017.

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