segunda-feira, junho 29, 2020

CASAMENTO PROIBIDO (You and Me)

Ao que parece, há quase uma unanimidade entre a crítica ao dizer que CASAMENTO PROIBIDO (1938) é um dos filmes menos importantes de Fritz Lang. O crítico Lewis Jacob disse que era o menos importante, mesmo vendo-o como relevante no sentido de ajudar a quebrar certas fórmulas hollywoodianas. E acho isso muito curioso, pois eu achei o filme uma delícia, por mais que pareça desequilibrado na utilização do humor.

O filme é a terceira e última parceria de Lang com a atriz Sylvia Sidney, que esteve com ele em FÚRIA (1936) e em VIVE-SE UMA SÓ VEZ (1937), dois trabalhos muito mais próximos da tensão e da tragédia, enquanto que CASAMENTO PROIBIDO é uma comédia romântica leve, ainda que também trate com seriedade o assunto que já havia sido tratado no título anterior, que é o posicionamento da sociedade diante de ex-presidiários.

A trama pode ser até um pouco inverossímil, mas não me importo: um dono de uma loja de departamentos contrata um grande número de ex-presidiários, pessoas que ainda estão em liberdade condicional. Ele acredita que, mais do que doar dinheiro, o melhor meio de ajudar essas pessoas é oferecê-las um emprego, algo muito difícil numa sociedade que costuma maltratar e estigmatizar essas pessoas. É um tipo de empregador que, se existir, não deve ser nos Estados Unidos.

Um homem e uma mulher que trabalham na mesma loja de departamentos se apaixonam. O contato entre eles na loja já passa um tipo de carinho e sentimento muito bonito na cena em que eles se cruzam em um escada rolante e tocam a mão do outro. Logo ficamos sabendo que ele, Joe (George Raft), está mudando de cidade. Ela, Helen (Sylvia Sidney), sabe que ele já cumpriu pena, mas mesmo assim gosta dele. Não demora muito para que aquela tensão de um amor não contado exploda e os dois acabem se casando. Mas a confusão vem do fato de que ela esconde algo dele.

Sylvia Sidney está sensacional em uma cena em que dá uma aula de lucro/prejuízo a um grupo de gângsteres que desejava assaltar a loja. A cena é talvez o ponto alto da atriz dentro dessa trilogia de Lang, fugindo da figura de mulher carinhosa e um tanto chorona que permeava os trabalhos anteriores. Aqui vemos a jovem mulher dando uma lição nos marmanjos, depois de eles serem pegos em flagrante. Em muitas partes da cena é fácil nos pegarmos com um sorriso no rosto. E isso é muito bom, por mais que Lang pareça falhar ou ao menos deixar passar uma certa estranheza em uma cena que deveria mesmo ser hilária. É o caso da cena dos gângsteres falando do quanto sentem saudades dos tempos da prisão. Essa estranheza tem o seu charme. Até parece Lang tirando de seus filmes anteriores.

Outra coisa que chama a atenção logo de início é a música que abre o filme, que, a princípio, eu pensei se tratar de uma crítica ao capitalismo (afinal, a canção diz que tudo que você precisa, você tem que conseguir com dinheiro), mas é uma espécie de brincadeira com o lema "o crime não compensa". Não se pode conseguir as coisas na vida assim tão facilmente.

Pena que o filme tenha sido um fracasso nas bilheterias americanas e tenha deixado Lang em inatividade por dois anos, e trazendo um sentimento errôneo de que os seus trabalhos realizados na Alemanha eram superiores ao período hollywoodiano. Mas sua história nos Estados Unidos estava apenas começando.

+ TRÊS FILMES

MAMMA MIA! LÁ VAMOS NÓS DE NOVO (Mamma Mia! Here We Go Again)

Um musical bem desleixado e feito meio que para aproveitar que havia um monte de gente boa pronta para o projeto e não porque havia uma boa ideia, um bom roteiro ou mesmo boas ideias para as cenas musicais. Ainda assim, achei emocionante a cena de "Dancing Queen". E olha que nem sou muito fã da canção. Mas fiquei arrepiado com o misto de sentimentos que a cena traz. Direção: Ol Parker. Ano: 2018.

KINGSMAN - O CÍRCULO DOURADO (Kingsman - The Golden Circle)

O primeiro filme, eu havia gostado, mas era um tipo de diversão escapista e esquecível, com exceção de algumas cenas, com a da igreja. Mas aí vem essa continuação que não é baseada em HQ nenhuma do Mark Millar. Só aproveitam para cagar em cima dos personagens que ele criou. E o problema não é só nas ideias, mas principalmente na condução da coisa. Mais irritante que comédia que não faz rir ou sorrir é filme de ação que se esforça para empolgar e só cansa. Ainda mais tendo quase duas horas e meia de duração. E o que é aquilo com o Elton John, hein? Estou querendo lembrar de uma parte do filme que eu gostei e não consigo. Direção: Matthew Vaughn. Ano: 2017.

DESPEDIDA EM GRANDE ESTILO (Going in Style)

É mais um filme bacana sobre amizade do que uma história cômica sobre um assalto. Mas funciona nos dois aspectos, graças ao excelente trio de veteranos. Só achei que me pareceu um pouco longo para uma comédia despretensiosa. O que importa também é que dá pra dar boas risadas. E tem uma parte que parece uma versão cômica de uma cena do filme recente do Loach. Direção: Zach Braff. Ano: 2017.

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