segunda-feira, setembro 01, 2014

OS MARIDOS (Husbands)























Embora tenha gostado bastante de SOMBRAS (1959) e FACES (1968), ainda estou esperando o filme de John Cassavetes que me converta em um fã de seu trabalho. Definitivamente não é com OS MARIDOS (1970) que isso acontece. Ao contrário, com pouco mais de duas horas de duração, o filme passa a impressão de ter quatro. Não que isso seja um critério de valorização de uma obra, mas ainda sou do tempo em que é preciso haver uma ligação forte entre espectador e obra para que se faça a magia.

Ainda assim, não dá pra dizer que OS MARIDOS não seja uma obra admirável em certos aspectos. Há uma intenção clara de incomodar com os longos planos, com os personagens masculinos patéticos (como já é comum de se ver em outros trabalhos de Cassavetes), com cenas em que esses mesmos homens agem feito adolescentes na rua, como a imitar personagens retirados de algum filme da Nouvelle Vague francesa.

Essas criaturas um tanto imbecis e que ainda assim conseguem agradar em parte a plateia já foi antecipada em outras obras do diretor, que parece se compadecer da insegurança. E isso é admirável em Cassavetes: amar e entender aquela pessoa que fala as coisas na hora errada, que não sabe lidar com a autoridade feminina, que tenta ser forte, mas que só consegue isso através da fuga. Seja ela de uma viagem para Londres, seja através do álcool.

Aliás, nos filmes mais autorais de Cassavetes que eu vi até o momento os momentos etílicos parecem quase uma obrigação. E muitas vezes são lindos, como numa das cenas finais de FACES, noutros um tanto chatos e repetitivos como a longa cena da cantoria de MARIDOS, em que os protagonistas, depois de terem voltado do funeral de um amigo, resolvem encher a cara na companhia de várias pessoas, cada uma delas cantando alguma canção à capela, nem que para isso seja escarnecida pelo trio.

OS MARIDOS é mais um filme em que o plot deixa de ser importante. O mais importante é o personagem. E mesmo o personagem foge do padrão hollywoodiano. Não há bons ou maus. Apenas pessoas comuns. Não há nem mesmo falas bem construídas, o que não quer dizer que cada cena não tenha sido ensaiada e filmada exaustivamente de modo a parecer improvisada.

E a beleza deste trabalho ou da obra de Cassavetes como um todo é sua necessidade intensa de se apegar à vida real e muito pouco à arte. Daí tanta hesitação, tantos momentos constrangedores, tanta incerteza no olhar dos personagens e em suas falas. Ainda assim, mesmo levando em consideração as qualidades de OS MARIDOS, estou esperando pelo grande e arrebatador filme de Cassavetes. Acredito que deve vir em breve.

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