domingo, janeiro 20, 2013

MISTÉRIOS DE LISBOA (Mystères de Lisbonne)



Raoul Ruiz e Camilo Castelo Branco são dois autores de quem eu deveria conhecer seus trabalhos, mas que infelizmente não cheguei a fazê-lo (ainda). No caso de Camilo, sempre tive um pouco de preconceito dos romancistas românticos, mesmo os portugueses, por achar que o melhor da literatura, tanto brasileira quanto portuguesa no quesito romance, só apareceria na era realista. E mesmo vendo um filme tão cheio de grandeza como MISTÉRIOS DE LISBOA (2010) ainda fico na dúvida quanto às qualidades estéticas da obra de Castelo Branco, que foi escrita inicialmente em folhetins.

Mas o fato é que o livro foi apresentado ao cineasta pelo produtor português Paulo Branco. Ruiz não o conhecia o romance e, depois que leu, achou que só seria viável a adaptação em um filme com 20 horas de duração. No fim das contas, conseguiu fazer um longa-metragem de quase quatro horas e meia e uma minissérie de seis episódios de 52 minutos, cada. O que eu vi foi o filme.

MISTÉRIOS DE LISBOA é fascinante por diversos motivos. Primeiro, poderíamos falar dos diversos flashbacks, tornando a história um verdadeiro labirinto narrativo, que deve ser visto com atenção. São histórias fascinantes que são narradas com uma trilha sonora em tom de suspense, deixando um ar de mistério que permeia cada narrativa. A primeira delas é a história do menino Pedro, que cresce numa escola de padres e tem um padre como figura paterna. Esse padre também tem os seus segredos, que serão conhecidos mais à frente.

O curioso é também a movimentação da câmera, tão elegante. É como se houvesse um respeito do cineasta quanto aos narradores em primeira pessoa. A própria câmera não é onisciente; ela é voyeur. Perscruta cada área das casas e castelos como se estivesse tão curiosa para saber das vidas íntimas daqueles personagens quanto o espectador, acomodando-se às vezes, mas raramente parada, exceto talvez quando se "esconde" em lugares improváveis, como debaixo de uma mesa de vidro, ou atrás de cortinas.

A narrativa se passa em períodos como a Queda da Bastilha e as Guerras Napoleônicas e o filme é narrado principalmente em duas línguas, português e francês, dependendo do local e dos personagens que aborda. Alguns deles são mais fascinantes que outros. Padre Diniz e Alberto de Magalhães provavelmente são os mais interessantes, principalmente por terem passados obscuros e terem inclusive outros nomes. Das mulheres, impossível ficar indiferente à rancorosa Elisa de Montfort e sua sede de vingança.

Fiquei curioso em ver o filme quando ele atingiu o ponto mais alto dos rankings promovidos pela Liga dos Blogues Cinematográficos, atingindo a média 9,0, até então não conseguida por nenhuma outra produção. Ver o filme em casa, na tela pequena de uma televisão de 32 polegadas, faz a gente pensar na glória que seria vê-lo na tela gigante, em película. Mas não posso reclamar tanto assim. Afinal, quem vê um filme desses pode se considerar um privilegiado.

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