quarta-feira, janeiro 09, 2013

BOCA DO LIXO – A BOLLYWOOD BRASILEIRA



Exibido no Canal Brasil em cinco episódios de 26 minutos, cada, BOCA DO LIXO – A BOLLYWOOD BRASILEIRA (2011), de Daniel Camargo, caiu na rede como um documentário completo, com as cinco partes unidas, mas com os créditos de abertura mantidos. Trata-se de uma bela homenagem a um dos momentos mais bonitos e saudosos do cinema brasileiro, o momento em que o nosso cinema mais se aproximou de uma indústria, sem precisar de verbas do Governo, sobrevivendo por si só. Segundo David Cardoso, em um ano, a Boca chegou a produzir 60 filmes.

O documentário se faz basicamente de depoimentos de vários e célebres entrevistados, entrecortados com pequenas cenas de alguns filmes. Diretores, atores, atrizes, técnicos, estudiosos do assunto, todos contribuem para formar esse belo quadro que só não é melhor porque o assunto é vasto demais para apenas duas horas de duração. Mas a intenção não era mesmo se aprofundar. Seria impossível. Mas apenas fazer uma viagem rápida e com tom de saudosismo por esse período de ouro.

BOCA DO LIXO – A BOLLYWOOD BRASILEIRA fala bastante do quanto esse cinema que hoje é considerado cult era mal visto e desqualificado por vários críticos e por boa parte da classe mais abastada da sociedade. Como bem falou Alfredo Sternheim, quando ele lançou o seu LUCÍOLA, O ANJO PECADOR (1975), o crítico de um jornal chegou a desqualificar não apenas o filme, mas o próprio romance de José de Alencar no qual o filme se baseava, chamando-o de "livrinho". Nicole Puzzi (foto) também demonstra sua indignação em seu depoimento.

Além do mais, por mais que as obras fossem dos mais variados gêneros (terror, suspense, policial, drama, comédia, filme histórico), todos eram classificados como pornochanchada. E outra coisa curiosa foi dita por Guilherme de Almeida Prado, que mostrou que havia sim uma certa rivalidade do cinema produzido no Rio de Janeiro e o produzido em São Paulo, na Boca. DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS e RIO BABILÔNIA, duas produções cariocas, seriam também pornochanchadas. Na verdade, esse cinema produzido no Rio se aproveitou da popularidade dos filmes eróticos produzidos na Boca para capitalizar também.

Os capítulos se dividem na apresentação dos produtores (Galante, Massaini, Augusto de Cervantes etc.), dos diretores (Ody Fraga, Jean Garrett, Khouri, Mojica, Candeias etc.), das estrelas (Matilde Mastrange, Vera Fisher, Helena Ramos etc.), para depois terminar falando sobre a decadência da produção, com a chegada do sexo explícito. Que não deixa de ser um capítulo também muito interessante, principalmente pelos depoimentos de Jussara Calmon, a estrela do primeiro filme de sexo explícito brasileiro, COISAS ERÓTICAS (1981), e de novamente Sternheim, que também chegou a aderir ao pornô.

Muito bonito ver o momento em que David Cardoso, o grande galã da Boca, se emociona, ao lembrar daqueles tempos. Não foi a primeira vez que eu presenciei uma entrevista na qual ele chora ao se lembrar do passado. Isso só faz com que eu o respeite ainda mais. Na entrevista para este documentário, ele lamenta não ter dado mais de si, não ter se esforçado para fazer melhores filmes. Chega a ser comovente.

No mais, foi bom rever o saudoso Carlão Reichenbach, ver a simpatia da Aldine Müller, conhecer o temperamento de Neide Ribeiro, ver o amigo Matheus Trunk falando com tanta propriedade, ver Debora Muniz lembrando de sua primeira experiência no hardcore, os sempre sorridentes Silvio de Abreu e Guilherme de Almeida Prado, entre outros artistas, como Cláudio Cunha, José Miziara, Antonio Meliande e Adriano Stuart. É muita gente boa para citar e muito assunto abordado de maneira rápida no documentário. Por isso, fico por aqui.

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