
Dentre os vários filmes citados por Martin Scorsese em seu documentário UMA VIAGEM PESSOAL ATRAVÉS DO CINEMA AMERICANO, um dos que me chamou a atenção foi este CIDADE DO VÍCIO (1955), de Phil Karlson. Já é um filme da fase tardia do cinema noir, e, portanto, tem algumas novidades que não se veem nos filmes da década de 1940. A própria introdução, com um repórter entrevistando moradores da cidade de Phenix, como num documentário, e dizendo o quanto ela é contaminada e dominada pela máfia, é algo, se não completamente novo, pelo menos diferente do habitual. Não custa lembrar que Orson Welles iniciou o seu CIDADÃO KANE com um relativamente longo "documentário" em 1941.
Na verdade, CIDADE DO VÍCIO foi citado muito superficialmente no documentário de Scorsese. E no livro só consta o título e uma pequena foto, além da afirmação da obscuridade do filme para as plateias de hoje. Hoje em dia, chega a ser relativo falar em filme obscuro. Obscuro pra quem? O fato é que, dada a fixação de Scorsese por violência, não é de estranhar ele ter citado CIDADE DO VÍCIO, que é um filme que guarda as características dos filmes policiais B produzidos em Hollywood, tais como a rapidez com que a história é contada, os diálogos simples e dinâmicos e o elenco pouco conhecido.
Demorei um pouco a entrar no clima. No começo, o filme não me pegou, mas aos poucos, até pela rapidez com que a história é desenvolvida, me vi tão incomodado quanto os personagens que sofrem com a maldade dos vilões. Creio que o filme engrena mesmo quando entra em cena o filho do promotor. CIDADE DO VÍCIO hoje pode até parecer um tanto moralista, mas, uma vez que vemos as ações criminosas e covardes dos bandidos, fica difícil não alimentar uma vontade de executá-los. E o filme fala disso também: da necessidade de agir conforme a lei. Até porque, por mais que alguns títulos da década de 50 fossem transgressores, ainda havia certas regras.