quarta-feira, novembro 28, 2012
O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA
Na última segunda-feira, exibi num evento literário SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA (2009), um filme curtinho do grande Manoel de Oliveira. Mas o público aparentemente não gostou. A maioria deve ter saído bem frustrada ou cansada. Mas, enfim, acredito que Manoel de Oliveira é um gosto adquirido, que quando mais se vê, mais se gosta. Eu mesmo estranhei alguns de seus filmes no início, mas depois deste e de UM FILME FALADO (2003), já comecei a pegar gosto e a me acostumar com seu anacronismo delicioso, seu jeito de narrar todo particular, sua vontade de compartilhar a história de seu país e do mundo conosco.
Em O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA (2010), novamente temos Ricardo Trêpa como protagonista. Desta vez no papel do fotógrafo Isaac, um homem que é convidado para fotografar uma jovem recém-falecida de nome Angélica (a espanhola Pilar López de Ayala). A moça morreu vestida de noiva e com um sorriso encantador e misterioso no rosto.
O caso se torna realmente estranho quando, ao procurar um lugar adequado para fotografar a moça em close, ela abre os olhos para ele e sorri. Desde esse momento, a vida de Isaac nunca mais é a mesma e sonhos recorrentes com Angélica fará com que ele fique enfeitiçado por ela. É Manoel de Oliveira novamente entrando no território do fantástico, algo que também pôde ser visto em outro trabalho recente do diretor, ESPELHO MÁGICO (2005).
O interessante do filme é que o personagem faz questão de dizer que gosta de coisas velhas: gosta de máquinas de fotografia analógicas, de fotografar homens usando enxadas para trabalhar, em vez de maquinaria pesada. E acaba por gostar do que está morto. No caso, uma morta. Uma bela e atraente morta, que o leva para passear e vira sua cabeça. Manoel de Oliveira, no alto de seus mais de cem anos, mostra que não tem medo da morte. Flerta com ela, inclusive. Num jogo mórbido poético, até. Aliás, já que eu falei de DAGON, de Stuart Gordon, no post passado, creio que o final dos dois filmes podem até dialogar, por mais diferentes que sejam.
P.S.: Saiu no blog do meu amigo Renato Doho meus comentários rápidos sobre os últimos cinco livros que eu li, para o levantamento bienal literário que ele faz. Confiram AQUI.
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