
Entre os poucos filmes de Jean Garrett que tenho em meu acervo, vi que ainda não tinha visto POSSUÍDAS PELO PECADO (1976), feito após AMADAS E VIOLENTADAS (1976), já comentado aqui no blog. É o menos brilhante entre os que eu vi do diretor, mas acho que deve ser porque já nivelei o trabalho do cineasta por cima, com o excelente A MULHER QUE INVENTOU O AMOR (1979). Ainda assim, POSSUÍDAS PELO PECADO tem todos os ingredientes que o tornam acima da média da produção da Boca do Lixo da época. É mais uma produção da Dacar de David Cardoso e conta com Helena Ramos, uma Nicole Puzzi bem novinha e o próprio Cardoso.
O filme já começa com um ótimo plano-sequência, mostrando uma festa regada a muito álcool, mulher pelada e libertinagem. Trata-se de mais uma das festas patrocinadas pelo velho empresário alcóolatra, rico e amargurado Dr. Leme (Benjamin Cattan). Ele costuma fazer essas festas para esquecer o fato de nunca ter tido um filho e, divorciado da esposa (Meiry Vieira), vive acompanhado das secretárias Jussara (Zilda Mayo) e Anita (Helena Ramos), e do chofer (David Cardoso). Na casa, há ainda a empregada Isaura e sua filha adolescente Dorinha (Nicole Puzzi). A trama principal, inicialmente, guarda semelhança com o estereótipo do film noir americano: a ex-esposa de Leme quer que o seu amante (Cardoso) arranje um jeito de matar o velho afogado na piscina, num dia em que ele estiver bêbado. Assim, ela ficaria rica e os dois se casariam.
Acontece que o chofer e amante hesita e ainda aparece pelo caminho Dorinha, a jovem apaixonada pelo rapaz e que não descansa até levá-lo para a cama. Entre os coadjuvantes, há Agnaldo Rayol no papel de um desenhista que eles conhecem num inferninho. Helena Ramos aparece como alcóolatra, sempre pedindo por uísque; e o velho Leme sempre a deixando em situação de humilhação. Foi ele que a viciou. Chega a ser até desagradável ver Helena Ramos em papel tão degradante, depois de vê-la tão bela em MULHER OBJETO, de Silvio de Abreu. Mas são ossos do ofício e a atriz desempenha até que bem o seu papel nesse show de horrores dirigido por Garrett, com a ajuda de seu bom companheiro de roteiro Ody Fraga.
O filme só peca em não trazer a dimensão trágica dos outros dois filmes citados de Garrett. O personagem de Cattan também não me agradou por ser histriônico demais. Isso pode até ser proposital, mas não deixa de ser um pouco irritante. No que se refere a sexo, o filme também não chega a ser excitante ou nada do tipo. A nudez e o sexo são mais mostrados como uma degradação moral. Exceto nas poucas e rápidas cenas envolvendo Cardoso e Puzzi.