terça-feira, setembro 20, 2011

GAINSBOURG - O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES (Gainsbourg (Vie Héroïque))



Uma cinebiografia diferente, GAINSBOURG – O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES (2010) é uma obra que mistura o musical com o drama em doses certas, mas que também flerta com o surreal, em especial nos momentos em que o protagonista conversa com seu alter-ego, um rato gigante feito como uma caricatura sua (o nariz grande, as orelhas de abano), mas também representando o modo como os nazistas viam os judeus. Assim, quem for esperando uma história convencional da vida do artista pode se decepcionar. O que temos aqui são recortes de sua vida e carreira, dando especial atenção para o seu relacionamento com as mulheres. Vendo o filme, inclusive, a impressão que se tem é que ele não tinha amigos, apenas casos, namoradas, esposas.

Só o fato de ele ter tido um caso com Brigitte Bardot (Laetitia Casta) já deixa o artista em posição de destaque. E a cena musical em que Brigitte dança usando apenas um lençol já é uma das mais memoráveis do filme, perdendo provavelmente para a sequência erótica em que ouvimos o clássico da "fuck-music", a escandolosa "Je t'aime... moi non plus", escrita para Bardot, mas gravada e lançada quando ele já estava vivendo com a mulher mais importante de sua vida, Jane Birkin (Lucy Gordon), que aparece desfilando com microvestidos matadores.

Uma das infelicidades da produção, aliás, é o fato de a atriz Lucy Gordon ter se suicidado após as filmagens. Ela foi encontrada enforcada pelo namorado. Uma tragédia, sem dúvida, já que a atriz, depois desse papel, poderia ter alçado grandes voos. Aqui na Terra mesmo, quero dizer. No final, o filme é dedicado a ela.

GAINSBOURG acompanha a vida do artista desde a sua infância na França ocupada na Segunda Guerra Mundial, quando ele já se mostrava um pequeno conquistador de mulheres, até sua decadência, quando deixou que o cigarro e o álcool tomassem de conta de sua vida. O artista, aliás, desde o começo teve essa aura rock and roll, contestadora e polêmica, que deve ser um orgulho para os franceses. Talvez nem tanto para os mais conservadores, principalmente depois de ele ter feito uma versão reggae de "A Marselhesa".

A opção por um registro mais musical, fragmentário e com um senso de humor todo particular por parte do diretor Joann Sfar foi uma sacada inteligente, já que se fosse mesmo para contar com mais detalhes a vida de Gainsbourg, um filme de duas horas e poucos minutos não seria suficiente. Por isso, diria que GAINSBOURG foi um sucesso para o que se propôs. E funciona como uma porta para que um leigo, como eu, tenha cada vez mais interesse na vida e na obra desse artista que é um ícone do mundo ocidental.

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