domingo, junho 29, 2008

WALL-E



Uma grata surpresa este WALL-E (2008), que eu a princípio não estava recebendo com bons olhos por causa de tanto marketing em torno do robozinho. Uma certa revista de cinema, por exemplo, pôs fotos do robozinho em praticamente um quinto de suas páginas. Se isso não for propaganda, eu não sei o que é. O que importa é que o filme é mesmo uma graça, tem uma inteligência rara nos desenhos animados e é bem mais adulto do que os outros filmes produzidos pela Pixar. Não apenas pela homenagem à 2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, a obra-prima de Kubrick, mas por mexer com temas ecológicos de uma maneira inteligente e por ser quase um filme mudo e se sustentar durante boa parte de sua metragem com apenas os dizeres "Eva" e "Wall-E". Por isso, ver o filme dublado não faz muita diferença. Outra coisa, nunca pensei que uma barata, o inseto talvez mais odiado do mundo, pudesse se mostrar tão simpática quanto nesse desenho animado. Mas se Hollywood conseguiu fazer um filme onde um rato é um chefe de cozinha, nada é impossível. WALL-E foi dirigido por Andrew Stanton, o mesmo do genial e emocionante PROCURANDO NEMO (2003). Só que PROCURANDO NEMO tinha um apelo infantil maior do que essa nova e sofisticada empreitada de Stanton, a quem eu fiz a besteira de confundir com outro Andrew, o Andrew Adamson, de SHREK, o que só aumentou o meu pré-conceito para com a obra, antes mesmo de conferí-la. Devia ter confiado mais no pedrigri da Pixar no comando e menos em minha mente confusa.

Na trama de WALL-E, vemos o robozinho do título desempenhando solitariamente a sua função com que foi criado, antes de o planeta ter se tornado inabitável e de a humanidade ter se mudado para outro lugar. Os prédios em escombros se confudem com os prédios de lixo empilhados de maneira bastante organizada por Wall-E, que tem como único companheiro, uma baratinha, que ele alimenta com o que encontra no lixo. Aliás, nem precisaria, já que dizem que, mesmo que numa explosão atômica, apenas as baratas sobreviverão. Pois bem. Certo dia, Wall-E encontra uma plantinha viva, um milagre naquele deserto onde nenhuma forma de vida biológica - além de baratas - poderia existir. Isso coincide com a chegada posterior de uma nave espacial contendo a robô-sonda de nome Eva, enviada para verificar se há alguma forma de vida na Terra. Wall-E se sente imediatamente atraído pelo visual fantástico daquela robozinha, que desperta algo naquele coração de metal. E mais uma vez o cinema se rende à idéia de que uma forma de vida artificial pode ter sentimentos, como os seres humanos. E os dois olhos de Wall-E, que mais se parecem com os de um cãozinho carente, são tão expressivos que fica difícil não acreditar. Quanto à Eva - cujo nome não deve ter sido escolhido em vão -, ela tem uma força destruidora que assusta Wall-E, mas mesmo assim ele tenta uma aproximação. E isso é basicamente o início do primeiro ato do filme, que segue por outros rumos e traz mais informações sobre onde estão os descendentes do nosso desolado planeta.

Algumas das cenas de WALL-E são musicadas e a escolha das músicas são bem interessantes, como “La Vie em Rose”, na voz de Louis Armstrong, e “Assim Falou Zaratustra”, de Richard Strauss, na cena em que o filme mais se parece com o clássico de Kubrick, onde um certo robô quer assumir o controle da situação, só para ficar nas canções mais conhecidas. Curiosamente, Andrew Stanton já havia germinado a idéia de WALL-E antes mesmo de realizar o seminal TOY STORY (1995). Mas foi com PROCURANDO NEMO que ele resolveu mudar da água para o ar e criar seqüências belíssimas dos dois robôs no espaço sideral. E é com esse misto de alegria, encantamento e melancolia - essa, surge logo de cara, assim que o filme começa -, que WALL-E já ganha o seu espaço como mais um grande salto na história da animação. De bônus, antes de o filme começar, a Pixar apresenta mais um de seus inspirados e divertidos curtas: PRESTO, sobre um mágico e o seu coelho esfomeado. O curta tem um ar de desenho dos anos 40/50, como as produções da Warner da época e por isso fala a todas as gerações.

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