terça-feira, junho 24, 2008

LES GIRLS



Estava achando que passar por LES GIRLS (1957) não ia ser uma experiência muito agradável pra mim na minha peregrinação pela obra de George Cukor, principalmente por se tratar de um musical, o gênero que eu menos gosto. E não apenas por isso, mas por eu não ter gostado do musical anterior de Cukor, o famoso e ambicioso NASCE UMA ESTRELA (1954). Das três uma: ou eu assisti NASCE UMA ESTRELA no momento errado, ou não vou com a cara de Judy Garland, ou LES GIRLS é mesmo um filme superior e bem mais agradável. Nem as seqüências musicais (que são poucas, outro motivo para eu ter gostado mais do filme) me incomodaram, talvez pelo fato de as canções terem sido escritas por Cole Porter. O filme marcou a despedida de Gene Kelly dos musicais da MGM, empresa com quem ele tinha contrato desde 1943. Porém, LES GIRLS foi "vendido" principalmente como mais um musical de Cole Porter - ALTA SOCIEDADE, musical com Grace Kelly e Frank Sinatra, havia feito muito sucesso. Ainda assim, o sucesso de LES GIRLS foi uma grata surpresa para os executivos da Metro, já que eles achavam que o público já estaria cansado de musicais. O que provou ser um engano, pelo menos naquela época. Nos anos 60 é que os musicais começaram a rarear e a saírem de moda, embora ainda possamos citar alguns importantes do período.

Mas o que eu mais gostei em LES GIRLS foi que, assim como o próprio Cukor disse, o filme não é uma comédia musical, mas uma comédia com música. E outra coisa: o filme é uma espécie de RASHOMON dos musicais, isto é, mostra três histórias diferentes narradas de diferentes pontos de vista, dentro de um tribunal. E mais: eu imaginava que o filme iria enfatizar a fama, coisa que Cukor já havia feito em DEMÔNIO DE MULHER (1954) e no já citado NASCE UMA ESTRELA. Vendo o filme, porém, é que eu percebi que não era bem esse o caminho pretendido. Na trama, Sybil (Kay Kendall) publica um livro contando detalhes de sua vida no show business, no tempo em que ela participava de um espetáculo que rodou toda a Europa chamado "Les Girls". No espetáculo, Barry Nichols (Gene Kelly) cantava e dançava junto com três mulheres. Uma delas, Angèle (Taina Elg), fica bastante incomodada com o conteúdo do livro, que a mostra como uma mulher apaixonada por Nichols, traindo, portanto, o seu noivo, além de ter tentado o suicídio. Como ela acha que a ex-colega está denegrindo a sua imagem, resolve ir a julgamento por danos morais. Assim, o filme é dividido em três partes, sendo a primeira a versão da história de Sybill, a segunda, a versão de Angèle, e a terceira, de um terceiro envolvido, que eu não vou contar aqui pra não estragar a surpresa, mas que só poderia ser o próprio Nichols ou a terceira garota, Joy, a americana, interpretada por Mitzi Gaynor.

Difícil dizer qual das três histórias é a melhor. Talvez a terceira, que ainda conta com uma cena de coreografia bem interessante, com um visual todo vermelho e branco, com Gene Kelly parodiando o visual de Marlon Brando em O SELVAGEM. Aquilo, no technicolor e em cinemascope (ou metroscope), ficou muito bonito. Claro que se fosse a Cyd Charisse no lugar de Mitzi, eu teria gostado mais, mas Mitzi tem o seu charme e é mesmo a mais bonita das três. Já Kay Kendall, soube através do pequeno documentário constante no dvd que ela estava com leucemia durante o filme e morreu dois anos depois. LES GIRLS também representou o adeus de Cole Porter dos musicais. Conta-se que ele nunca mais compôs nenhuma outra canção depois de 1958. Além do minidocumentário, o dvd da Warner ainda conta com um simpático curta-metragem em animação chamado CIRCO DE PULGAS (1954), de Tex Avery, o criador do Pernalonga. Das canções presentes no filme, a única que se tornou popular foi "Ca, C'est L'amour".

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