sexta-feira, março 07, 2008

SICKO - $O$ SAÚDE (Sicko)



Disseram que SICKO - $O$ SAÚDE (2007) não era tão bom quanto os trabalhos anteriores de Michael Moore - TIROS EM COLUMBINE (2002) e FAHRENHEIT - 11 DE SETEMBRO (2004) -, mas a nova "presepada" do diretor causou em mim reações muito mais emotivas e fez com que eu admirasse ainda mais a sua coragem, seu senso de justiça e até mesmo a sua bondade, ainda que sua persona irritante e pentelha persista. Indicado ao Oscar de melhor documentário em longa-metragem deste ano, o filme não apenas dá uma aula sobre as falhas absurdas e desumanas do sistema de saúde dos Estados Unidos - que o Brasil infelizmente tende a imitar -, como também mostra como funciona o sistema de saúde em países como o Canadá, a Inglaterra, a França e até Cuba. Inclusive, a parte de Moore em Cuba, junto com os heróis doentes da tragédia de 11 de setembro, é ao mesmo tempo engraçada e comovente. Além, claro, de deixar qualquer um indignado. Se bem que a indignação já é um efeito comum em todos os longas do diretor, não chega a ser uma novidade. Mas ela é importante para que possamos ficar revoltados, pois é a partir da revolta que surgem as grandes revoluções, as grandes mudanças nas sociedades.

Mas antes de conhecermos os benefícios do sistema de saúde desses outros países, Moore primeiro nos apresenta alguns casos absurdos de pessoas vítimas de um sistema de saúde que funciona meramente como um negócio de gerar lucros. O processo de privatização do sistema de saúde americano começou com o governo Nixon e hoje funciona como empresas seguradoras que fazem o possível para encontrar uma brecha que impossibilite uma cirurgia ou um exame para um paciente. Existem, inclusive, pessoas que ganham para isso: para encontrar brechas que acabam por matar pessoas vítimas de câncer, por exemplo. Um dos casos mais famosos do filme foi mostrado na festa do Oscar: um homem que teve as pontas de seus dedos cortadas fora num acidente com uma serra elétrica. Ele teve que escolher qual dos dedos operaria, pois ele não teria dinheiro suficiente para pagar a cirurgia nos dois dedos.

Depois de vermos tanta gente sofrida e necessitada tendo tratamento médico negado, Michael Moore nos mostra o que ocorre em países menos abastados que os Estados Unidos, que prefere investir boa parte de seus recursos na indústria da guerra. Claro que a visão que Moore mostra do sistema de saúde desses países pode ser um pouco maquiada e provavelmente tem também seus problemas - como pudemos ver em AS INVASÕES BÁRBARAS, de Denis Arcand, que dá umas alfinetadas no sistema de saúde público do Canadá -, mas ainda assim fiquei comovido em várias partes do filme, especialmente na visita de Moore a hospitais e farmácias da Inglaterra e quando o filme fecha, na tentativa de Moore de chegar até a prisão americana de Guantánamo, território americano em Cuba, e indo parar, depois, nas ruas de Cuba. Inclusive, a brincadeira em torno de como os americanos foram educados para encarar os comunistas, Fidel Castro e sua ilha como demônios que comem criancinhas provoca boas risadas, que servem como alívio cômico para um filme que lida com um assunto muito sério.

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