quarta-feira, janeiro 19, 2005

ALEXANDRE (Alexander)



Fiquei bastante surpreso quando fui ver ALEXANDRE e vi que o cinema estava lotado em plena segunda-feira. E já adianto que gostei bastante. Oliver Stone, com os seus tradicionais exageros, está com a corda toda. Ou quase toda, se o estúdio o tivesse permitido botar mais pimenta na já apimentada questão da homossexualidade (ou bissexualidade) de Alexandre.

Acho que é o melhor épico que já vi no cinema. Stone, mesmo utilizando-se de todos os elementos que cercam o gênero, fez um filme original, diferente de todos os épicos. Há várias seqüências memoráveis. Na primeira batalha, contra os persas de Dario, aquela cena da câmera subindo e vendo a perspectiva de uma águia e indo de encontro aos guerreiros persas, aquilo me fez vibrar. (Percebe-se que Stone tem pressa em ir direto a essa primeira batalha. Tanto que dá um salto no tempo, não nos mostrando, de início, a morte de Filipe, pai de Alexandre.) A terceira batalha, então, com direito a uma citação à angustiante expectativa do ataque dos vietcongues em PLATOON (1986), é o ápice do filme. Nela, vemos uma batalha sangrenta que se torna ainda mais assustadora por causa dos elefantes indianos. Destaque para a cena das folhas vermelhas, acentuando mais calor e tragédia à batalha.

A cena imediatamente anterior a essa última batalha, quando Alexandre tenta convencer seus homens a ir mais adiante, é também um belo exemplo dos deliciosos excessos de Stone. Fica parecendo uma ópera, com a figura perturbada do rei guerreiro em toques grotescos. Ainda mais com a espetacular música de Vangelis.

O elenco está muito bem. Collin Farrel, no papel título, nunca esteve tão bem. Mas o grande destaque é mesmo Val Kilmer como Filipe, o rei caolho pai de Alexandre, que aparece pela primeira vez no filme bêbado, tentando estuprar Angelina Jolie, que faz a mãe de Alexandre. Muito interessante a conversa que ela tem com o seu filho na cama, cercada de cobras - ela adorava cobras. Já Jared Leto, como o amor da vida de Alexandre, não está tão bem. Só faz abraçar o amado e declarar o seu amor. A impressão que se tem é que o amor deles está mais para espiritual do que físico, mas isso não se justifica muito, tendo em vista o tesão de Alexandre por homens, especialmente os de aspecto andrógino. Rosario Dawson, como a primeira esposa de Alexandre, ajuda a esquentar o caldo com a única cena de sexo do filme.

Stone deixa muita coisa no ar: Por que razão Alexandre queria conquistar o mundo? Ele estaria desesperado em não voltar para casa, com medo de alguma coisa? A relação com a mãe teria algo de incestuoso? Seria para provar para o pai (já morto) que ele não era um fraco, mas uma criatura divina, como a cobra de sua mãe costumava dizer? O destino trágico e inevitável de Alexandre, aliado a suas inúmeras conquistas, seria uma comprovação de que ele tinha mesmo relação com os deuses do Olimpo, numa tentativa de se criar mais uma mitologia, a exemplo do que acontecera com Aquiles?

No entanto, todas essas perguntas, todas essas dúvidas tornam o filme ainda mais rico. Afinal, ninguém sabe direito como tudo aconteceu. O que os historiadores fazem são mais conjecturas em cima de alguns fatos. E o filme termina deixando no ar a certeza de que Alexandre era mesmo Grande.

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