quarta-feira, outubro 13, 2004

GUILHERME DE ALMEIDA PRADO EM DOIS FILMES



Minha intenção ao me dirigir à locadora na última sexta-feira era pegar uns dois ou três filmes de Nelson Pereira dos Santos para diminuir a dívida que eu tenho com sua obra. Mas sempre que pego naquela fita dupla de MEMÓRIAS DO CÁRCERE acabo desistindo por causa do volume (quem anda de ônibus sofre). Adiei novamente a minha incursão na obra de Nelson e resolvi pegar duas fitas de um diretor que me chamou bastante atenção quando assisti PERFUME DE GARDÊNIA (1992), talvez um dos meus dez preferidos filmes brasileiros da década de 90. Seguem minhas breves impressões sobre duas obras de Almeida Prado.

FLOR DO DESEJO

No IMDB consta como se esse fosse o primeiro filme do diretor, mas numa antiga ficha de cinema da revista SET vi que o seu primeiro filme chama-se AS TARAS DE TODOS NÓS (1981), que recebeu menção honrosa da Associação Paulista de Críticos de Arte. FLOR DO DESEJO (1984) é o seu segundo longa-metragem. Ainda não tem a excelência de seus trabalhos posteriores, mas já tem coisas que seriam vistas em A DAMA DO CINE SHANGHAI, por exemplo, como a voice over inspirada nos filmes noir das décadas de 40 e 50, e a trama de crimes. Na história, Caique Ferreira é um ladrão que se associa a uma prostituta (Imara Reis) para lucrar dos clientes - enquanto a mulher trepa com os caras, o ladrão fica embaixo da cama raspando a carteira da vítima. A história é contada a partir de um flashback. A principal diferença desse filme para os filmes noir americanos é que aqui vemos pouco luxo, pouca classe. Ao contrário, somos jogados na sarjeta, em puteiros baratos ao som de canções bregas dos anos 80. Há também muitos peitos e bundas já que o diretor vinha de trabalhos na pornochanchada - ele chegou a trabalhar com Ody Fraga. Seria, então, um trabalho de transição na carreira de Almeida Prado.

A DAMA DO CINE SHANGHAI

Primeira obra-prima de Almeida Prado e um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro oitentista, A DAMA DO CINE SHANGHAI (1987) é uma homenagem escancarada à DAMA DE SHANGHAI, de Orson Welles, e aos filmes noir B hollywoodianos. De novo, há a voice over do protagonista (Antônio Fagundes) contando a intrincada estória de crimes misteriosos e mulheres fatais. O filme começa com Fagundes dentro de um cinema e sentindo-se atraído por uma linda mulher (Maitê Proença) que está assistindo ao filme ao lado do marido - a mulher tem uma espantosa semelhança com a atriz do filme. Vale destacar a beleza de Maitê nesse filme. Na época ela estava no auge do esplendor e aparece nua numa cena em que Fagundes a toma nos braços. A cena em que ela aparece no chuveiro é citação de PSICOSE, de Hitchcock. Ainda no elenco, nomes conhecidos como José Lewgoy, Jorge Dória, José Mayer, Miguel Falabella, Paulo Villaça, Sérgio Mamberti, Matilde Mastrange e Imara Reis. O filme faz referência a dois de seus trabalhos: há uma citação do bordel Flor do Desejo de seu segundo filme, assim como no título A HORA MÁGICA, que aparece no final, quando Fagundes sai de um cinema de rua. Almeida Prado só faria esse filme em 1998. A DAMA DO CINE SHANGHAI ganhou vários prêmios no Festival de Gramado em 1987.

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