quinta-feira, outubro 07, 2004
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS (McCabe & Mrs. Miller)
Esse filme tem uma importância fundamental dentro do revolucionário cinema americano do período que durou do fim dos anos 60 ao início dos 80 e que produziu símbolos da contracultura como BONNIE & CLYDE (1967) e SEM DESTINO (1969).
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS (1971), de Robert Altman, é um filme dessa época, quando os estúdios começaram finalmente a valorizar o cinema de autor, a encarar os filmes como obras de arte, não apenas como um meio de se ganhar dinheiro. Tanto que os executivos da Warner, nessa época, exibiam entre si em sessões privadas filmes "de arte" de diretores como Akira Kurosawa, François Truffaut, Federico Fellini, Jean Renoir etc. Inclusive, foi nessa época que a Warner produziu filmes de diretores estrangeiros como Truffaut (A NOITE AMERICANA) e Visconti (OS DEUSES MALDITOS e MORTE EM VENEZA).
Assim como Peter Bogdanovich veio com um cinema parecido com o europeu no seu A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA, Altman fez um western bem atípico, estrelado por dois dos maiores astros do momento: Warren Beatty e Julie Christie. Julie era conhecida por ser bem seletiva. Vivia esnobando muitas ofertas e aí deu no que deu: ela acabou não resistindo e hoje pouca gente lembra dela. (Parece que Hitchcock não gostou de trabalhar com a moça em CORTINA RASGADA.) Warren Beatty também era todo metido a estrela. Gostava de controlar as produções e já vinha do sucesso de BONNIE & CLYDE. Apesar disso, ele se entendeu bem com Altman.
Um dos maiores problemas das filmagens foram os métodos contrastantes de trabalho de Warren e Julie. Enquanto ele ficava melhor a cada tomada (ele só ensaiva nos primeiros takes), Julie já estava pronta na primeira e ia piorando com a repetição e o cansaço. O próprio Warren era exigente com o resultado de sua performance. Teve uma cena que foi repetida mais de 30 vezes por causa de exigências dele, e não de Altman.
Altman tinha fama de rebelde na época. Hoje em dia, ele não está mais com essa bola toda - até já vi alguém o chamando de "bunda-mole" num desses blogues amigos -, sendo que seu último filme rebelde foi mesmo O JOGADOR (1992). De qualquer maneira, sua carreira cheia de altos e baixos não muda a importância de ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS para o cinema americano. Outra coisa importante: Altman trouxe para Hollywood as lentes zoom, uma afronta pra os cameramen da época, por causa do risco de se perder o foco. Sem falar que os atores também não se sentiam muito à vontade com essas lentes.
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS é o tipo de filme em que o que vale mais é a direção. O roteiro não é tão importante. É até bem comum. Ainda assim, a história de um homem que funda uma cidade no meio de uma lamaçal com a ajuda de homens comuns e de um grupo de prostitutas não deixa de ser fascinante. A história de amor do casal protagonista seria tocante se o estilo de direção não fosse tão naturalista. A cena final em que Beatty luta contra seus inimigos é ótima, com aquele silêncio solene. Também não dá pra esquecer da maravilhosa trilha sonora, com canções do trovador Leonard Cohen. Já fiquei arrepiado nos créditos iniciais.
Pena que eu vi o filme em tela cheia, exibido pela BAND. A emissora todo domingo exibe um clássico com som original e com legendas. Vale a pena ficar de olho.
A maior parte dessas informações aí de cima foram retiradas do excelente livro Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind.
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