domingo, agosto 01, 2004

UM TIRO NA NOITE (Blow Out)



Eu nem tinha a intenção de rever esse filme esses dias. Na verdade, o DVD estava na minha lista de possíveis compras no futuro. Estava na Distrivídeo à procura de AMORES EXPRESSOS, de Wong Kar-Wai. Já estava com a fita de FELIZES JUNTOS na mão, mas queria levar dois filmes dele, e já que a moça da locadora não conseguia achar a de AMORES EXPRESSOS, resolvi pegar UM TIRO NA NOITE, de Brian De Palma, pra rever.

A última vez que vi UM TIRO NA NOITE (1981) eu estava no início da minha adolescência e assisti quando passou no SBT. Vendo o filme agora em DVD, em widescreen 2,35:1, foi que eu percebi que eu nunca tinha visto o filme de verdade. Esse filme de Palma faz valer cada espaço da tela comprida e cortar os lados do filme seria realmente um crime.

UM TIRO NA NOITE faz parte da lista de filmes do De Palma em que o diretor consegue transcender a sua prodigiosa técnica e emocionar de fato o espectador. Assim como acontece em O PAGAMENTO FINAL (1993) e em PECADOS DE GUERRA (1989), nesse filme, De Palma pega a gente pela cabeça e pelo coração.

O que dizer da cena imediatamente anterior ao "acidente" com o carro do candidato à Presidência? O silêncio entrecortado inicialmente apenas pelo som de uma coruja (a coruja destacada na tela) e depois pelo som do carro caindo da ponte. E aquela cena em que John Travolta está procurando a fita no seu quarto e a câmera fica rodopiando lentamente várias vezes? E a cena final dos fogos de artifício? Talvez essas cenas sejam as mais belas de todo o filme. E olha que ainda tem o suspense de prender a respiração na cena de John Lithgow como um serial killer estrangulador (referência a FRENESI, do Hitchcock?).

Apesar de o título ser uma homenagem explícita a BLOW UP - DEPOIS DAQUELE BEIJO, de Michelangelo Antonioni, as homenagens a Hithcock não poderiam faltar. Logo no começo do filme há uma paródia da famosa cena do chuveiro de PSICOSE. Como De Palma já tinha gastado muita energia homenageando PSICOSE em VESTIDA PARA MATAR (1980), sobrou dessa vez uma homenagem ao Cinema em si. Quando Travolta recorta as fotos do acidente pra transformar num filme (imagens em movimento), vemos ali uma aula de como o cinema nasceu. Sem falar na homenagem aos "bad movies", palavras do próprio personagem de Travolta em relação aos filmes B de terror.

Obra-prima. Pra ver com reverência.

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