domingo, julho 25, 2004

BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (Eternal Sunshine of the Spotless Mind)



Às vezes é até bom ir ao cinema com um pé atrás. Um dos últimos filmes que eu vi com roteiro de Charlie Kaufman - ADAPTAÇÃO (2002) - tinha me irritado bastante. Por outro lado, BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (2004), dirigido por Michel Gondry, me agradou pacas. Talvez por não tentar bancar o engraçadinho e criar uma atmosfera perturbadora, já que esse negócio de mexer com o cérebro é sempre desesperador pra mim. É o filme que melhor explora a persona mais séria de Jim Carrey.

Falando em Jim Carrey, o elenco é um dos pontos altos do filme. Além de Carrey, brilham na telona: Kate Winslet (adoro essa menina), Kirsten Dunst (mais bela que em HOMEM-ARANHA 2), Elijah Wood, Mark Ruffalo e Tom Wilkinson. E parece que esse pessoal todo aí entrou no projeto apenas por querer estar num filme com roteiro de Charlie Kaufman. Ele é o roteirista superstar. Nunca vi nada parecido com outros roteiristas. Até mesmo grandes profissionais como Jean-Claude Carrière e Robert Towne ficaram famosos, mas sempre porque trabalharam com grandes diretores.

Por isso eu fico tão cismado com essa história de "filme de roteirista", já que eu sempre prefiro "filme de diretor". Cinema não é novela da Globo, onde quem é mais importante é o escritor. É preferível ver um filme com roteiro ruim, mas com a direção espetacular de um Brian DePalma ou de um Martin Scorsese, do que o contrário.

Ainda bem que Michel Gondry faz um trabalho de direção muito bom, com estilo. Não vi NATUREZA QUASE HUMANA (2001), a primeira parceria Gondry-Kaufman, mas gostei mais do estilo dele do que do de Spike Jonze, que parecia se sustentar demais no roteiro de Kaufman nos seus dois longas. Ainda não se sabe se ele é bom sem o seu parceiro.

A história do filme é bem interessante, lembrando, até certo ponto, O VINGADOR DO FUTURO, de Paul Verhoven. Jim Carrey é o sujeito que, ao descobrir que sua amada o apagou de sua memória numa empresa que apaga determinadas lembranças do paciente, vai para a mesma empresa para apagá-la de sua memória também, a fim de diminuir a dor da separação. É aquela expressão "beber para esquecer" levada às últimas conseqüências.

A maior parte do filme se passa na cabeça do personagem de Carrey. E o diretor chega no limite dos excessos, mas se sai bem. Achei o resultado bem satisfatório, ainda que eu ache que todo esse entusiasmo da crítica em dizer que o filme é o melhor do ano não passe de exagero. Mas é, com certeza, um ótimo filme. Inclusive, quem quiser ir conferir deve ir logo, já que na sala de cinema que eu fui havia pouca gente. Sinal de que pode ficar apenas uma semana ou duas em cartaz.

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